Meu pai  não lê as páginas policias. Nem os classificados. Imagine! Esses dias,  apareceu a oferta de terreno na Lua. Alguém registrou a Lua como de sua propriedade.
— Isso é válido? 
— É polêmico! Mas se uma pessoa detém  o título de domínio sobre um bem, torna-se  dono dele. 
— Vou registrar o Sol como meu!
— Vender terreno lá para quem? Aquele calor insuportável!
— Vender terreno não! Explorar o calor. Vender luz solar. 
— Bem comum não  pode ser vendido?
— Ora, e por que vendem água? Tive uma ideia melhor: vou registrar o oxigênio! Ser a única dona do oxigênio. E todo mundo vai ter que pagar o oxigênio que respira.
— E o que vais fazer com tanto dinheiro? 
— Pagar energia solar a quem  explora esse serviço. E água para a companhia de saneamento, que nunca fez chover. E se não chove, as concessionárias podem majorar os preços pelo consumo de energia e de água.
— O povo é sempre  penalizado. Culpado. Multado. No país das maravilhas, se o alarme do veículo disparar, por defeito de fábrica ou o que for, o dono do automóvel é multado. 
— Se continuar esteira de raciocínio, não vais vender livros. Nem precisa escrevê-los. Jornal tem outras serventias. Livro não, só serve para ser lido. 
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Adalberto Lima - fragmento de Estrada sem fim...