Era uma vez um menino...
“Quero aquele brinquedo” – decidiu.
Era um carrinho de madeira, todo verde; rodas douradas, pára-brisa inquebrável; de estrutura forte (era madeira de lei).
Interessou-se, então, pelo brinquedo. Não era comum, um tanto raro. Mas, o menino também era especial. Daí, talvez, a sua atenção no carrinho. Mas havia certa dificuldade em adquiri-lo, pois, o brinquedo não era vendido em uma loja comum; não era produto de consumo: tinha algo de “artesanal” elaborado por alguém. E isso mais despertou o desejo do menino.
Passou-se o tempo e, sempre que revia o brinquedo, o menino imaginava: “Bom seria, se fosse meu...”
Até que um dia, pela lei da afinidade ou atração, o carrinho percebeu o quanto agradava ao menino e ficou envaidecido, extasiado...
Deu-se conta de que possuía um valor “oculto”, nunca antes observado: Ele nem sabia que era todo verde e tinha rodas de ouro! Mas o menino mostrou-lhe isso. Fê-lo ver atrativos que ele nem sonhara ter...
E, assim, carrinho e menino integraram-se nessa afinidade imensa.
Foi passando o tempo...
O brinquedo não podia ser do menino, ele bem sabia disso. Mas, mesmo assim, era feliz! Porque, em algum lugar, em qualquer momento, onde estivesse, o menino tinha a imagem do carrinho gravada na mente. E, na sua imaginação, eles brincavam.
Até que um dia, o menino encontrou o tal carro em seu caminho. Pegou-o, olhou de perto, examinou... Viu, então, que a estrutura de madeira não era tão firme como imaginara. Manuseou as rodas e o dourado intenso era só tinta, que cedeu ao toque de seus dedos, dourando-os também...
Isso ocorreu algumas vezes.
Depois, o menino não mais viu o brinquedo, durante um certo tempo.
Passaram-se alguns dias e o menino voltou. O carrinho, ao vê-lo, ficou encantado. A saudade era grande, quase incontida... Só que não viu mais, nos dedos do menino, o brilho de sua tinta dourada...
Quem sabe, o seu verde tornara-se inexpressivo, perdera o seu significado de brinquedo, e o menino talvez almejasse um outro, que não fosse verde e nem tivesse as rodas pintadas de ouro?
O carrinho jamais vai saber, por não saber falar... Portanto, nunca poderá perguntar ao menino: “POR QUÊ?”
(Conto “O Menino e o Brinquedo”, de Céu Arder, Editora Estrela Cadente, Internet, maio de 2001)