Apareceu uma cabeça na janela. Depois, cada janela tinha duas ou três cabeças curiosas. Dúzia e meia de pernas chegaram ao alpendre. Nove traseiros se assentaram no parapeito. Generoso apareceu fumando um cigarro de palha. — Onofre, faça o combinado! — O boi, patrão? — Sim! O boi da matutagem. Primeiro, toque o berrante. Prenda no curral os mais gordos. Eu mesmo quero fazer a escolha. Mande chamar os homens do tijupá, que estão na muda do arroz. Quero todo mundo aqui. — Chamar o povo do tijupá? Na hora de pegar a onça, nenhum deles se manifestou! — E eu sou doido de mandar lavrador atrás de onça? Vaqueiro é diferenciado. Nasceu pronto pra enfrentar bicho brabo. — Zé Coco ainda está trabalhando... — Claro, claro! Tenho reparado. Confira se a índia está bem amarrada. Não quero acidentes. — Vai ter missa? — Não dá tempo chamar o padre. Mande Zé Coco guardar as ferramentas. Carro de boi a gente faz depois. Quero ouvir ‘Saudade de Mirabela’, ver a alma de Corina saltar nos olhos. Aquela mulher nunca se esqueceu da terra em que nascida. — Com licença seu Generoso: uma coisa que faço com gosto é a vontade do patrão. A hora tá correndo desembestada. Tenho que tomar providências. — Espere! Passe na cozinha. Dia a Nhá Santa pra chegar até aqui. O juízo de Onofre ferveu: ‘Passar na cozinha, ver se Nhá Santa tá bem amarrada...Não, não! Mandar Zé Coco tocar viola pro carro de boi....Começa tudo de novo, Onofre’.
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Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...(obra em construção) ***
Adalberto Lima, trecho de Estrada sem fim...(obra em construção)