HOJE NÃO...
Juca tinha acabado de chegar ao ponto de ônibus onde costumava ficar todos os dias, por algum tempo, olhando os passageiros que desciam dos coletivos e ali permaneciam por alguns instantes até a chegada de outros que os levassem embora.
Fazia isso constantemente e, nesse meio tempo, ele que não tinha quase nada a fazer quando retornasse para sua casa, ficava a puxar conversas com as pessoas, principalmente se elas fossem do sexo feminino.
Num desses dias, ao sair do seu trabalho, parou no bar da esquina e ficou ali, por algum tempo entre amigos, jogando conversa fora, e já era quase meia noite quando ele decidiu ir embora.
Como de costume, seguiu na direção do seu ponto de ônibus habitual e ao chegar lá ficou a pensar:
- Seria tão bom, se hoje eu encontrasse alguém (uma garota, é claro) para conversar um pouco até minha condução chegar.
De repente, como num passe de mágica, apareceu no outro lado da rua, uma mulher que, pelos traços esculturais de seu corpo, ele imaginou estar diante de uma sereia.
Para não perder tempo, já que sua condução poderia chegar a qualquer momento, ele atravessou a rua e se aproximou sutilmente da figura feminina que estava de costas, logo ali na sua frente, e para dar início a uma conversa amistosa, perguntou:
- Você não tem medo de ficar sozinha, a essa hora da noite, num lugar ermo como este?
Ela virou-se rapidamente, e de olhos bem esbugalhados, fitou o Juca e lhe respondeu sorrindo:
- Hoje não, meu querido, mas quando era viva, de carne e osso, eu tinha só um pouquinho.
Contam as más línguas que a partir daquele instante Juca nem esperou o ônibus que o levaria para sua casa chegar ao seu ponto de parada.
Afirmam, ainda, que ele saiu, dali, correndo como um louco varrido e no dia seguinte teria pedido demissão de seu trabalho e nunca mais passou por aquela rua.
A moça misteriosa que ele viu naquela noite teria voltado a aparecer para outros jovens galanteadores lá pelas cercanias de um cemitério que ficava a pouco menos de três quadras da empresa onde Juca trabalhava.
|