07 - DE OUVIDOS E OLHOS ATENTOS
Billy Lupércio Daniel contou-me que não estudou a Cartilha do ABC, aquele período escolar preliminar que atualmente equivale à primeira etapa da educação infantil, nos moldes que todas as crianças que tinham a sua idade o faziam, quando começavam a estudar as primeiras letras.
De uma maneira despretensiosa e ao mesmo tempo estratégica, ele superou essa etapa fazendo uso de uma curiosidade singular, uma argúcia ímpar e de uma vontade de aprender a ler acima do normal que estava no âmago do seu ser.
Por ter um desejo imenso de aprender a ler e a escrever, sempre ficava atento, esperando uma oportunidade para aprender algo. Geralmente ficava de olho naqueles momentos em que seu pai resolvia ensinar ou verificar as lições que sua irmã mais velha tinha aprendido na Cartilha do ABC, durante suas aulas, lá na sua escola. Desta forma, ele sempre ficava a escutar seu pai e ela conversando, tendo o cuidado de observar as informações que seu pai passava para ela.
Enquanto Billy escutava o diálogo entre os dois, procurava, ao mesmo tempo, bisbilhotar o formato e a posição da letra que seu pai apontava com o dedo no livro dela, naqueles momentos em que ele fosse ensinar as lições pendentes ou vindouras, antes da ida diária dela para a escola.
Billy fez isso várias vezes, talvez o tempo necessário para conseguir memorizar o som das letras, seus formatos e as posições que elas se encontravam na cartilha do ABC que sua irmã utilizava naquela escola, onde tempos depois, ele também ali estaria, de forma definitiva, iniciando seus estudos das primeiras letras.
Há um provérbio popular que nos ensina que quem espera sempre alcança e isso é a pura verdade. E, ainda, segundo Tales de Mileto, "a esperança é o único bem comum a todos os homens; aqueles que nada mais têm - ainda a possuem".
Visando à confirmação do teor descritivo da assertiva desse importante pensador, filósofo e matemático grego pré-socrático, o qual é considerado, por alguns, o "Pai da Ciência" e da "Filosofia Ocidental", dias depois, era chegado aquele tão esperado dia para ele ir para uma escola.
Quando, finalmente, chegou esse tão aguardado dia para ele ir frequentar uma sala de aula, a mesma sala onde sua irmã mais velha já estudava por algum tempo, ele o encarou com muita determinação.
Àquela altura dos acontecimentos, essa sua irmã já tinha cursado a Cartilha do ABC e já cursava o período letivo seguinte, o equivalente à segunda etapa da educação infantil daquela época, antes de o aluno habilitar-se para cursar o primeiro ano do ensino primário. No período seguinte viria a segunda etapa para todos os alunos que tinha terminado a primeira, evidentemente, desta feita com o emprego de um livro que tinha um conteúdo didático mais amplo, intitulado Cartilha do Povo.
Ali, numa sequência lógica para o ensino infantil daquela época, após a conclusão de todas as lições desse livro suplementar, seguida de uma revisão obrigatória de todas as lições já ministradas, e desde que o aluno já soubesse ler e escrever um pouco, na mesma proporção do nível do ensino ministrado até então, ele estaria habilitado para cursar o primeiro ano do ensino primário.
Foi justamente nesse período, um pouco à frente, que Billy começou sua trajetória escolar e até hoje ele se sente como se estivesse naquele seu primeiro dia de aula: sedento de vontade de aprender suas lições em sala de aula e de apreender os bons ensinamentos que lhe são repassados no seu dia a dia.
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