25 - DE CARONA, NO CARRO DE BOIS
Andar de carona em um carro de bois, mesmo que fosse naqueles que não pertenciam a nenhum membro de sua família, foram momentos ímpares, que ficaram arraigados para sempre na memória do ainda garoto Billy Lupércio Daniel.
O vaivém do carro, que é aquele solavanco provocado pelas rodas sobre a irregularidade do solo rústico da estrada, para quem estivesse sentado ou de pé sobre a base do vão útil que sobrava na mesa do carro, descontando o espaço da carga, fazia com que aquela viagem, ainda que o fosse por um curto espaço de tempo, se tornasse uma aventura muito agradável.
Aqui no Brasil, o carro de bois foi durante muito tempo um dos principais meios de transportes utilizados para transportar a produção das fazendas para as cidades e vice-versa, mas até hoje ele ainda é utilizado em algumas regiões interioranas do nosso país. Os colonizadores portugueses foram os pioneiros na utilização desse meio de transporte, posto que o trouxeram no período colonial para o Brasil, difundindo-o por todo o país, o qual ainda existe, em pequena escala, no meio rural nordestino.
A maioria das pessoas que nasceu e viveu nas grandes e médias cidades deste país continente e que nunca teve a oportunidade de viver por algum tempo no interior, mormente nas zonas rurais de algumas cidades da região sul, da região centro-oeste e das regiões norte e nordeste do nosso Brasil, desconhece esse meio de transporte terrestre pioneiro na movimentação de carga e do transporte de pessoas do período colonial.
Naqueles tempos do Brasil-Colônia, o carro de bois além de manter em movimento a indústria açucareira - da roça ao engenho e do engenho às cidades - ele mobilizara a maior parte do transporte terrestre durante os séculos XVI e XVII.
Deixando um pouco a menção da história desse meio de transporte e do saudosismo de sua utilização de lado, é possível perceber que foram os veículos motorizados os verdadeiros responsáveis pela aceleração do processo de decadência do carro de bois no Brasil.
Outros países, tais como a Argentina, Portugal, Espanha, Grécia, Turquia entre outros, que também se utilizavam deles, passaram por esses mesmos processos de adaptação modernos no tocante aos transportes de cargas, mas graças aos artesãos que continuaram a construí-los e a aperfeiçoá-los, o carro de bois persiste na sua marcha pela história.
Se você ainda tiver a oportunidade de algum dia em sua vida afirmar que passou no teste preliminar para ser um bom carreiro e andar de pé, em um carro de bois, se equilibrando sobre o cabeçalho, que é aquela longa trave que liga o corpo do carro à canga que se atrela aos bois, e não se esforçar para sentar-se sobre a mesa, que é a superfície onde se coloca a carga, ou se apoiar nos fueiros, que são cada uma das estacas de madeira que servem para prender a carga ao carro, posso lhe afirmar que você passou no teste preliminar para ser um bom carreiro.
Se não for necessário passar por isso, contente-se apenas em andar sentado no recavém, ou requevém, que é aquela parte traseira da mesa do carro e, em estando ali, curta por alguns momentos a cantoria animada que sai da cantadeira, que é a parte do eixo que fica em contato com a parte inferior do chumaço (peça de madeira sobre a qual gira o eixo do carro de bois), e o contato entre eles é que produz o som característico da cantoria desses carros.
Passados esses seus instantes de uma viagem inusitada, ainda que o seja por um curto espaço temporal, se preferir, peça para o carreiro frear o carro de bois, ou arrisque-se descer com ele ainda em movimento. Tanto na primeira, quanto na segunda situação, sua sensação será de puro êxtase vivenciado numa felicidade momentânea, a qual ficará marcada em sua memória por toda sua vida, assim como ainda o está na memória do cidadão Billy Lupércio Daniel, o personagem mor dessa série de causos ora relatados.
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