Usina de Letras
Usina de Letras
131 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 62821 )
Cartas ( 21344)
Contos (13289)
Cordel (10347)
Crônicas (22569)
Discursos (3245)
Ensaios - (10541)
Erótico (13586)
Frases (51213)
Humor (20118)
Infantil (5545)
Infanto Juvenil (4875)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1380)
Poesias (141099)
Redação (3342)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2440)
Textos Jurídicos (1965)
Textos Religiosos/Sermões (6300)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->NOSSA SENHORA DE MONTES CLAROS E SÃO JOSÉ -- 01/09/2020 - 14:03 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Nossa Senhora de Montes Claros e São José
 

 
A lua ainda era menina.
Havia mel na boca da noite, no agasalho, no chão.
Tudo respirava amor, como doce orvalho derramado no coração.
 

As lembranças da fazenda Campo Grande ficaram gravadas nos anéis da memória: o casarão, o gado espalhado na pastagem, e a aurora chegando no leite mugido pelo vaqueiro na casinha de curral.
A tarde morria nos pálidos braços do ocaso.
Aves migratórias voavam alto. Solitária, uma garça riscava o céu com suas brancas asas.  Todos os dias ela passava como quem procura, em vão, seu parceiro.
 A ave mãe-da-lua piava, assustando a meninada e a lua despontava, sedutora e bela. 
Naquela noite, celebravam-se São José dos Vaqueiros.
O pátio da fazenda ficou cheio. Veio gente de muitas partes: violeiros, percursionistas, e inúmeros vaqueiros da redondeza. Lá também estava Zé Coco do Riachão, tocando a rabeca que ele mesmo fizera com suas próprias mãos, e um toco de canivete.
Emocionada, Corina ouvia ‘Saudade de Mirabela’, executada pelo próprio compositor, no terreiro da fazenda. Era momento de inusitada satisfação, não só para ela, como também para os convidados, os festeiros, e todo o povaréu ali reunido.
Na noite da festa, nem os animais dormiram. E até contribuíram com o arranjo musical: o galo emprestou seu cocoricó, o peru o glu...glu...glu... e o cocar tô franco...tô fraco...
Zé Coco tocou “Lundu Sapateado”, “Todo Mundo” sapateou e dançou, mas “O Toque do Capeta”, padre Quirino não deixou Zé Coco tocar.
Três vezes o galo cantou.
Três vezes Corina nadou em lágrimas de emoção. Três vezes Generoso enxugou o rosto da amada, com o lenço que ela lhe dera. O cheiro de cravo e canela ficou gravado na memória olfativa de Corina, e ainda hoje, nas noites de lua clara, o cheiro exala, tão fortemente, que, embalada pelo manto da saudade, a viúva de Generoso dorme.
Oh, tempos! 
       Oh, vida pequena!
A viola tinha feito uma pausa para descansar, e pouco depois, retomou a cena. “Minha Viola e Eu”, Zé Coco tocou para encerrar a noitada.
Terminada a festa, os convidados se retiraram. E quando só restavam os de casa, os anfitriões recolheram-se para dormir.
— O dia é quase amanhecido — dissera Corina.
— Deixa a tanga rolar...
— Não estamos na praia, meu Cravo!
— Queres dizer, meu escravo, não?
— Escravo livre. Somos livres escravos do amor.
Generoso anotou a frase numa folha de papel e guardou no baú. Fechou as janelas, trancou a porta do quarto, dando duas voltas completas na chave. Corina desfez a cama, preparando o leito conjugal.
— Batista!
— Fala, Minha Flor!
— Ouço barulho na cozinha.
— São os gatos comendo as sobras da festa.
— Guardei tudo.
— Não guardaste tudo...
Corina sorriu.
— Oh, que saudade do cateretê!
— Dançamos ontem.
— Ontem dançamos catira.
— É a mesma coisa: catira e cateretê é a mesma dança.
— Batiiista!
Depois de ouvir seu nome pronunciado de forma bem arrastada, o marido compreendeu o que a mulher lhe dizia sem dizer, aproximou-se dela em silêncio, e se abraçaram. Os olhares se cruzaram, na mesma direção, o   roçar de mãos acendeu neles uma chama ardente, como fogo que arde sem queimar.
Toda dengosa, ela disse ao marido:
— Meu Cravo, o orvalho da noite me deixou molhadinha.
— Sinto, do orvalho, o cheiro em minhas mãos.
Corpos e almas fundiram-se imanados, como ponteiro de relógio ao meio-dia. Onze minutos depois, relaxados, dormiram.
O sol já pendia, quando se levantaram.
Nhá Santa e Eusébia cuidaram da limpeza da casa.
Enxadeiros que rastelavam o pátio, preservaram o gabarito da construção, deixado pelo rastro das botas de São José dos Vaqueiros. Ali foi lançada a pedra fundamental da capela de Nossa Senhora de Montes Claros e São José.
Correra bem o leilão.
Toda prenda teve seu preço majorado, para favorecer a edificação do templo.  Contabilizou-se à época, doze contos de réis, valor suficiente para atender à demanda com os gastos da fundação e levante de paredes.
Por causa da marcação feita por São José, mesmo com a obra ainda em construção, o povo começou a fazer romaria.
 O campo é santo, corria de boca em boca, a notícia: Foi São José quem escolheu o lugar da igreja.  Também deve ter estado lá a Virgem Maria, mas, por certo, não quis deixar outro sinal, senão derramar no coração dos fiéis uma porção redobrada de amor e fé.


 NA
Texto adaptado da obra “Estrela que o vento soprou”
de Adalberto Lima (em construção)
 

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui