O amor no tempo da pandemia
O leitor que me perdoe a ousadia do título. Nem o coronavírus se compara ao cólera, nem este conto tem relação com a magnífica obra de García Márques – mais por falta de talento do que de espaço. O que há em comum lá e cá são as relações humanas, que ora se enriquecem frente às adversidades, ora se descobrem pobres e líquidas.
– Pegou a carteira com os passaportes e os dólares?
– Peguei, mas vou checar. Está tudo aqui.
– O que tem nessa pasta de couro? Não vai me dizer que é seu notebook...
– É. Não consigo ficar sem ele.
– Mas, Beto, estamos em férias! Já escolhemos nossa última semana de férias porque podemos resolver qualquer coisa assim que voltarmos.
Luciana agora estava parada, encarando o marido e quase gritando.
– Prometemos nos desligar de tudo e de todos. Uma semana apenas. Nossa segunda lua de mel, caramba!
– Mas, para uma emergência apenas....
– Pra isso servem os celulares. Teremos dois, que são verdadeiros computadores, e tanto o hotel como os aeroportos têm wifi. Afinal, não vamos trabalhar, não vamos ver filmes pelo computador, temos whatsapp no celular....para quê o notebook?
– OK, mas me sinto tão inseguro sem ele. Você pegou os dois carregadores de celular? Reze para eu não me arrepender, Lu.
– Te garanto que não vai se lembrar do seu notebook. Pode chamar o Uber, está tudo pronto.
A primeira vez que Luciana sugeriu a Roberto o Caribe foi quando discutiam sobre a viagem de lua de mel. Praticamente todas suas amigas tinham se casado e, coincidência!, passado a lua de mel em algum resort – muitàs vezes o mesmo – caribenho. Foram precisos 10 anos, 2 filhos e alguns perrengues conjugais – além de vários sacrifícios para juntar o dinheiro necessário – para que a viagem ao Caribe se tornasse realidade.
Luciana era quem mais insistia na viagem, mas Roberto era quem mais iria aproveitar, e ela sabia disso. Ele relutava por questões financeiras; achava que uma viagem de 7 dias, não importava pra qual paraíso fosse, não compensava todo aquele investimento, já que, depois da volta, nada de material restaria, ou melhor, restariam as inúmeras prestações da viagem. Era diferente de um carro novo, por exemplo, que duraria tempo suficiente para esquecer as mensalidades pagas e ainda juntar outro tanto para uma nova troca. Mas resistiu por 10 anos e agora sentia que ele também precisava disso, de se afastar um pouco da cidade, do trabalho, da casa, dos filhos. Bem, gostaria de ir sozinho, se possível, mas não era, então pensou que pudesse, sim, ser uma boa oportunidade de recuperar um romantismo há muito perdido no casamento. Não custava tentar, afinal.
– Deixou a chave do apartamento com sua mãe, certo? – perguntou Luciana, enquanto conferia os objetos na sua bolsa imensa.
– Não só da casa, mas da portaria, da garagem e do carro.
– Sei que foi a melhor opção, mas ainda fico aflita em pensar nos meninos com sua mãe.
– Pois é, ela mora perto da escola deles, é aposentada, tem uma empregada doméstica, tem meu pai que pode ajudar, enquanto a sua ainda trabalha, mora longe, não tem ajudante, nem marido...Seja agradecida por minha mãe ter concordado em ficar com eles, isso sim!
– Claro que sou, não é isso, é que eu conheço seus pais e meu receio é que os meninos vão ficar reclamando dos limites que eles vão impor. – Saiu pela tangente, mas pensava mesmo que, com sua mãe, estariam muito melhor e mais felizes.
– Mas esse é o lado bom! Quem sabe, quando voltarmos, esses moleques estarão mais educados. Eles estão muito mimados.
– Uma semana passa rápido, vai dar tudo certo. – E tentou tirar isso da cabeça organizando sua bolsa.
No aeroporto, descobriram que o voo estava atrasado cerca de uma hora, mas após se certificarem que isso não geraria problema na conexão, em Miami, relaxaram e passaram bastante tempo planejando o que comprariam – se sobrasse dinheiro – no freeshop, na volta. Roberto anotou preços de whisky e de alguns ítens de informática, enquanto Luciana experimentou todos os perfumes famosos. Fizeram uma última chamada para os meninos, desligaram aliviados os celulares, lamentaram mais uma vez de não terem terminado seus cursos de inglês e embarcaram, não sem algum constrangimento com a falta de familiaridade com os protocolos, rumo ao que deveria ser a viagem de seus sonhos.
Chegando em Miami, para uma breve conexão, exibiram com muito orgulho os vistos americanos, que geraram tanta discussão:
– Mas para quê precisamos de visto para os EUA se vamos pro México? Nem vamos sair do aeroporto de Miami! – reclamava Roberto.
– Já falei que não tem voo direto e que o mais barato é esse com conexão em Miami. O que pára no Panamá estava mais caro. E aeroporto nos EUA é EUA, então tem que ter visto. Pense pelo lado bom: temos visto pelos próximos 10 anos e podemos planejar uma viagem para a Disney com os meninos.
– Considerando que ficaremos o próximo ano pagando esta, mais uns 3 anos juntando dinheiro, isso se o dólar não ficar caro demais – sabe como é a economia brasileira, né? – sem viajar pra qualquer outro lugar, é, acho que esse visto ainda pode ser útil. Mas tem que ser pra Disney? – a expressão do rosto de Roberto já prenunciava uma batalha para a escolha da futura viagem internacional.
Mostravam-se um tanto apreensivos na fila da alfândega, com receio de não conseguirem se comunicar com o funcionário. Mas se surpreenderam:
– ¿Vas a Cancún por turismo? – perguntou o funcionário, para espanto e alívio do casal.
– Sim – respondeu Roberto. E isso foi tudo.
Já com os passaportes carimbados:
– Não te falei que não precisava ficar tão nervosa? Temos cara de brasileiros.
– Olha só o carimbo, Roberto. Que chique! O primeiro de muitos! Vou enfiar na cara da Solange, aquela metida!
– Só que , dos EUA mesmo, só veremos esse aeroporto, né Lu? – Ele estava zombando dela.
– Isso é só um detalhe – e riram descontraídos.
Quando finalmente embarcaram para Cancun, comentaram que praticamente havia apenas casais jovens naquele voo, provavelmente em primeira ou segunda lua de mel, como eles, ou, quem sabe, viagens secretas de casais proibidos (ou viagens proibidas de casais secretos). Sentiram-se bem, mas ao mesmo tempo ingênuos por terem achado que viagens como essa seria privilégio para poucos. Eram muitos brasileiros como eles, o que lhes deu uma sensação de segurança.
Chegaram ao hotel bastante cansados, mas não o suficiente para deixar de reparar na beleza e no luxo, um tanto exagerado, das instalações.
– Mas o que é isso, Roberto? É muito mais lindo do que nas fotos!
– Verdade. Confesso que tinha medo de ter pago por uma coisa e encontrar outra. Tô aliviado.
– E ainda conseguimos entender quase tudo o que falam. Ufa!
Depois de se instalarem e descansarem um pouco, fizeram um tour pelo hotel e ficaram ainda mais maravilhados e felizes. O ponto alto era, sem dúvida, o mar azul celeste, transparente, quebrando ondas tranquilas na areia branca acessível a poucos passos dos limites do hotel. Esperavam muito do mar caribenho, mas acharam que era muito mais lindo do que puderam imaginar. Mas também havia a piscina, enorme e dividida em vários estilos e categorias, ocupando quase toda a área inferior do terreno, visível a praticamente todos os quartos e restaurantes – que eram muitos.
– O que será de mim com toda essa comida e bebida à disposição? – disse Luciana enquanto contemplava um dos vários restaurantes.
– Tanto sacrifício em seis meses para perder 3 quilos, para não passar vergonha na piscina, e agora vou ter que fazer sacrifício em dobro para não recuperar tudo e mais um pouco em uns dois dias. Deus não é justo....
– Fale por você, porque eu não estou nem aí com meu peso, faço regime em casa, que é fácil – olhou para ela para provocá-la, mas ela nem reparou. – Vou beber todas! Você viu a quantidade de bebida nos bares? Qual é mesmo a bebida típica daqui?
– São tantas, a gente vai aprender logo, logo – Luciana disse, seguindo Roberto até o bar mais próximo para o primeiro drink.
Como previram, logo conheceram alguns casais em mesas dos restaurantes, lounges e passeios turísticos, e a viagem ficou ainda mais divertida. Já, entre quatro paredes ou quando se encontravam sozinhos, o clima entre eles variava entre as horas de intimidade que, como previsto e quisto, eram infinitamente mais frequentes do que rotineiramente – até porque eram facilitadas pelo consumo frequente de bebida alcoólica – e as rusgas habituais quando se tratava de falar sobre a família – filhos, sogras, etc. – o que acontecia todas às vezes que ligavam para os filhos, uma vez ao dia. Mas o assunto era logo interrompido por um ou outro. O que se evitava, isso sim, era discutir as questões efetivamente conjugais, ou seja, do casal propriamente dito. Luciana tinha ressentimentos antigos e profundos de Roberto, e este, queixas insistentes do comportamento da mulher. Mas por que estragar a viagem falando sobre isso? Afinal, em lua de mel, só coisas boas devem acontecer.
Eram tantas as atividades, ou falta delas, que não tinham tempo nem interesse em ouvir televisão e, menos ainda, ler jornais (que não entenderiam muito). Assim, ouviram falar em pandemia pelo coronavírus pela primeira vez durante um jantar no restaurante japonês do hotel, em companhia de um outro casal.
– Vocês viram as notícias daquele coronavírus da China? Parece que se espalhou pela Europa e agora a Itália está fechando cidades inteiras. Dizem que já é uma pandemia – comentou o novo amigo.
– Não, não vimos nada – respondeu, com interesse, Luciana. – O que significa pandemia exatamente?
– Acho que é quando se espalha por todo o mundo. Vários países já têm casos registrados. Dizem que mata principalmente idosos; ataca os pulmões – interveio a nova amiga.
– Será que já tem casos no Brasil? E aqui no México? – novamente perguntou Luciana.
– No Brasil são poucos casos em São Paulo; no México, não sei. Ouvi notícias apenas na TV brasileira, mas a coisa está feia também nos EUA – disse o amigo.
– Mas tem cura, né? E vacina, não tem? – entrou na conversa Roberto.
– Parece que nem uma coisa, nem outra. É um vírus novo, estão aprendendo ainda – falou a amiga já se levantando para se servir.
– Ai meu Deus, somos de São Paulo, minha mãe e meus sogros são idosos, e estão com meus filhos! – Luciana ficou visivelmente preocupada.
– Calma, Lu – disse logo Roberto. – Depois de amanhã já estaremos em casa e todos estão bem lá. Acabei que falar com minha mãe, e ela não comentou nada.
– Claro, gente, vamos aproveitar os últimos dias, estamos longe da China e da Itália – finalizou o assunto o amigo. – E então, o que acharam do Parque Xcaret? – E a conversa ficou animada novamente.
Na véspera da partida de volta, Luciana já se mostrava mais impaciente, procurou notícias na TV, mas não tinha muito tempo para se aprofundar no tema; havia alguns passeios já pagos que precisavam ser feitos. Coronavírus passou a ser ouvido com mais frequência nas rodas de conversa na piscina e nos restaurantes do hotel. Entre eles, quando Luciana demonstrava apreensão, Roberto a tranquilizava, afinal estavam todos bem e em pouco tempo estariam em casa.
No aeroporto, antes da partida para a escala em Miami, notaram que alguns voos para a Europa apareciam como cancelados no painel e um certo burburinho entre os turistas indicava anormalidade. Mas não tiveram tempo, nem muito interesse, para se informarem sobre as causas. Seu check-in ocorreu normalmente, fizeram uma última ligação para os filhos, que estavam ansiosos com sua volta, e embarcaram, ao mesmo tempo realizados com a estadia maravilhosa naquele paraíso e melancólicos por ela ter terminado.
Duas horas mais tarde pousaram em Miami, tempo bom, temperatura agradável. Esperavam passar cerca de uma hora no aeroporto até embarcar para São Paulo, mas não foi isso que aconteceu. Para poupar o leitor com detalhes de todos os contratempos sofridos no aeroporto de Miami, resumo o que de fato é relevante para essa história: devido à pandemia de coronavírus, Luciana e Roberto tinham que ficar retidos num hotel em Miami, por 14 dias, em quarentena, pois estavam febris e não puderam regressar ao Brasil naquele dia. Já o que se passou nos dias seguintes, isso sim, merece ser relatado com pormenores.
Até que estivessem num quarto de um hotel, instalados e devidamente esclarecidos sobre o que ia acontecer (precisaram da ajuda de outros casais para se comunicarem com os funcionários do hotel; nem espanhol entendiam mais, tamanho o transtorno pelo que estavam passando), ou melhor, não ia acontecer, nosso casal passou por fortes sentimentos: incredulidade, incompreensão, revolta, desespero (principalmente Luciana), raiva (principalmente Roberto, que se arrependeu pela primeira vez da viagem a Cancun) e impotência. Exaustos, decidiram pensar bem sobre como enfrentar a situação antes de ligar para a família. Apenas enviaram um whatsapp prometendo ligar em seguida, para ganhar tempo.
Luciana estava agitadíssima. chorava, falava sem parar sobre a situação das crianças, da mãe, de seu trabalho. Roberto emudeceu e mexia o tempo todo no celular, buscando notícias que justificassem, segundo ele, aquela descarada arbitrariedade.
– Por que você não fala nada? Está me deixando mais nervosa!
– Pare de falar você! – Roberto já estava gritando. – Fica aí, falando como uma louca, deixe eu pensar um pouco! Não basta tudo isso e ainda tenho que aguentar você falando desse jeito? - e voltava a se fechar.
O silêncio de Roberto acendia um sinal de alerta. Não era raro, em situações de contrariedade, Roberto explodir como uma panela de pressão, após algum tempo. E quem se queimava, irremediavelmente, era Luciana. Mas ela não encontrava o que dizer para que isso não acontecesse. Ela própria precisava de alguém que lhe acalentasse. Ambos precisavam muito um do outro, ambos só tinham um ao outro. E por catorze dias, sem alternativas. Se aquilo que tinham alcançado de prazer, sossego, alegria, nos dias anteriores, iria ajudá-los, estava para ser conferido.
Havia tantas coisas a resolver à distância, que decidiram, por sugestão de Roberto, fazer uma lista. Dela constavam: verificar como as coisas estavam em São Paulo (ouviram notícias de aulas suspensas, comércio fechado, etc.); orientar os avós quanto aos garotos; tranquilizar os garotos; acertar a situação de trabalho de ambos; fazer pagamentos de contas, entre outras pendências.
Já na primeira ligação para os pais de Roberto, omitiram o fato de que estavam com suspeita de infecção pelo coronavírus. De fato, a febre detectada no aeroporto era muito pouco acima do normal (37,5o) e nenhum deles sentia qualquer sintoma preocupante – além, claro dos sentimentos já citados. Dessa forma – e também porque, com poucos casos confirmados em São Paulo, muita gente tinha dificuldade de entender o poder de transmissão e de mortalidade do tal vírus – ninguém compreendia porque estavam retidos lá. O pai de Roberto chegou a questioná-lo:
– Fale a verdade, meu filho, aconteceu alguma coisa entre vocês para que adiassem essa volta? Vocês brigaram ou estão se separando e precisam de um tempo para resolver as coisas?
– Não, pai, estou falando sério, fomos pegos de surpresa no aeroporto, e não só nós, há outros turistas na mesma situação.
O fato é que não foram fáceis as primeiras horas do isolamento – nem o seriam as últimas, mas isso eu conto mais pra frente. Os filhos agora não podiam ir nem à escola, nem a lugar nenhum. Os avós seguiam as recomendações à risca: eram do grupo de risco e não podiam se expor, nem ter contato com quem se expunha. E assim os netos foram igualmente incluídos no grupo de risco. Luciana evitava falar muito com os filhos para não lhes ouvir as queixas e ficar ainda mais deprimida. Falava mais com a mãe e a irmã, que quase nada podiam ajudar com seus filhos.
Luciana era professora de uma escola infantil privada, devidamente fechada pela pandemia. Antes de sair da quarentena forçada, Luciana saberá que seu salário foi temporariamente reduzido, e que seu contrato de trabalho pode ser suspenso a qualquer tempo, a depender das regras de isolamento no estado. Mas, por ora, a notícia oficial da escola é que apenas as aulas estão suspensas. Ela tentava ser otimista.
– Vai dar tudo certo – tentava tranquilizar Roberto –, meu salário paga o aluguel e assim que voltarmos resolveremos tudo. – Não passava por sua cabeça que esse momento deles seria apenas a ponta de um iceberg.
A situação de Roberto era bem mais delicada. Era corretor de imóveis numa imobiliária de porte médio. Como de praxe, o salário fixo era baixo, mas podia crescer bastante com as comissões de venda, que eram bem razoáveis. Assim ele foi atingido em várias frentes, duas delas diziam respeito a ele próprio: não tinha mais férias a gozar no período – assim que ficou claro o que isso implicava, se arrependeu pela segunda vez da viagem a Cancun – e não conseguiria fazer qualquer trabalho remotamente, já que para vender era preciso estar fisicamente presente; a terceira anulava a segunda: esse ramo de negócio paralisou com a pandemia. Além de imobiliárias fechadas, não haveria compradores por um tempo indeterminado. Não só a imobiliária não precisava dele no momento, como suspenderia seu contrato de trabalho alguns dias a seguir.
Nos primeiros dias de confinamento, após tomarem as providências remotas mais urgentes, toda a aflição foi dirigida à falta de liberdade, afinal, não podiam sair do quarto de hotel. Tinham ali televisão, wifi, geladeira, serviço de quarto, café da manhã, almoço e jantar, mas, como se sabe, toda essa mordomia vale nada quando não se tem a liberdade de ir e vir. Pelo celular acompanhavam melhor as notícias do Brasil, embora essas viessem muitàs vezes enviesadas por questões político-partidárias.
– Você não acha um exagero tudo isso? Não basta dizer para as pessoas se cuidarem e pronto? Tratam a gente como presidiário, e nem estamos doente! – reclamava Luciana.
– É tudo um absurdo1 Ninguém quer saber se eu posso ficar sem trabalhar, se eu tenho contas pra pagar, se tem alguém pra cuidar dos meus filhos! E todo esse povo sem trabalho? Quem vai sustentar toda essa gente?
– O presidente diz que vão morrer só idosos e quem já tem alguma outra doença grave. Queria ver se morresse alguém da família dele....
– Mas ele tá certo, se for pensar só nos doentes, quem cuida dos vivos e desempregados depois? O problema é que ele fala muita besteira – Roberto tinha votado nele, mas agora estava ficando arrependido.
– E tem também essa questão do colapso dos hospitais....como se antes a situação fosse boa, né? Só agora perceberam que o sistema de saúde é precário. Tenha a santa paciência!
– Pergunta pra onde vão esses políticos quando ficam doentes. Pro SUS? Tá bom! – e assim concordavam quando o tema era a pandemia.
Com o contato que já tinham do outro casal de brasileiros, logo já faziam parte de um grupo de whatsapp com todos os turistas na mesma situação que eles, hospedados nesse mesmo hotel. Não podiam se encontrar, mas se falavam constantemente no grupo virtual. O teor da conversa era sempre o mesmo:
– O governo brasileiro tem que fazer alguma coisa, nos tirar daqui.
– Já buscaram um pessoal que estava na China.
Tinham dificuldade em entender que aquele para o qual pediam ajuda era o mesmo que os tinha colocado naquela situação. Além disso, o país não poderia se dar ao luxo de buscar todo brasileiro que estivesse fora de casa – a rigor, privilegiados até uns dias atrás. Após alguém ter ligado para o consulado brasileiro em Miami, sem sucesso, resolveram fazer um vídeo e enviar aos canais de TV do Brasil. No vídeo explicavam como foram parar ali, o que estavam passando, as restrições que sofriam, os problemas que estavam causando para suas famílias e para si próprios, choravam, imploravam e pediam alguma providência – na forma de um voo urgente para casa.
Todos mandaram vídeos, apenas um ou dois foram divulgados por alguns canais de TV, em noticiários vespertinos sem muita audiência. O vídeo feito por Luciana e Roberto só circulou entre seus amigos e familiares. A qualidade do vídeo foi motivo de uma grande discussão:
– Ficou horrível, Beto, nem parece a gente. Tá escuro demais, você praticamente não aparece. Podia filmar em outro lugar do quarto, onde a luz é melhor.
– Não reclame não! – Roberto parecia ter esperado uma oportunidade para dizer o que disse. – Por sua causa eu não trouxe meu computador. Se tivesse trazido, filmaria com ele, e ficaria muito melhor. Aliás, eu poderia fazer muito mais coisas com meu computador, até coisas do meu trabalho.
– Agora vai por a culpa em mim, pelo coronavírus? Como eu ia adivinhar tudo isso? Enquanto estava no bem-bom em Cancun, tendo o que beber o dia todo, não se lembrou do computador, muito menos do trabalho, né? Agora vem com essa pra cima de mim? – Luciana estava indignada.
– Não sei porque eu insisto em concordar com você quando tenho certeza que vou me arrepender. Esse é só mais um caso, mas acontece o tempo todo. Fica regulando o que eu tenho que fazer, usar, falar, beber, comer … pensa que sou um dos seus filhos? Essa do computador não vou te perdoar nunca!
– E você acha que são poucas as coisas que me fez e que eu não vou perdoar nunca também? – Luciana agora parecia magoada.
O golpe foi certeiro, Roberto se calou, disfarçou e ficou atento ao celular. Sabia o que viria pela frente e se arrependeu do que provocou. Luciana ponderou se seguia ou recuava no embate. Foi tomar banho.
O acompanhamento médico acusou a contaminação do casal, já que apresentaram anticorpos do vírus, mas foram assintomáticos. Então não tinha jeito: a quarentena era necessária mesmo. Aos poucos, e pelas notícias alarmantes da pandemia, a revolta inicial foi se transformando em irritação, insônia, melancolia e, eventualmente, histeria. O leitor há de convir que um confinamento forçado num quarto de hotel deve ser uma receita perfeita para construir ou destruir um relacionamento. No caso de Luciana e Roberto, como já tinham um, e não era o melhor possível, tudo conspirava para um naufrágio. Qualquer atitude de um deles, por mais insignificante que fosse, era motivo de reclamação do outro.
– Pode me passar o controle remoto?
– Não consegue esticar o braço e pegar você mesmo?
– Não tem mais água no frigobar.
– E o que está esperando para pedir?
– Se ainda pudéssemos frequentar a academia do hotel....
– Ué, nunca fez exercício físico quando podia, agora que não pode quer fazer?
– Achei os meninos tristes ontem.
– Só falta você reclamar da minha mãe, que está tendo que cuidar deles todo esse tempo.
E assim, cada resposta atravessada gerava uma discussão. Lá pelo quinto dia de confinamento, o tempo parecia não passar. Roberto já tinha se arrependido da viagem pela milésima vez. No início, guardava para si, mas logo passou a culpar Luciana. Ela ainda tentava reconciliar.
– Precisamos manter a sanidade. Nenhum de nós tem culpa do que está acontecendo. Vamos tentar manter as coisas boas da viagem. Foi legal, aproveitamos bastante, tivemos momentos bons. Acho que até ficamos bem, recuperamos um pouco nossa intimidade. Você não concorda?
– Como você pode ser otimista com tudo isso que está acontecendo? Parece que estive em Cancun há séculos, nem me lembro mais – Roberto estava inconsolável.
Luciana ficava constantemente magoada com ele. Não só porque a culpava pela viagem, mas porque parecia que nada havia mudado entre eles. Ela esperava que aqueles dias mudassem, para melhor, o rumo de seu casamento, e até chegarem em Miami, estava confiante de que isso tinha acontecido. Agora, bem mais desanimada, estava cansada de lutar por essa causa. Na verdade, cada vez mais sentia raiva do marido.
Quando ficou claro que os salários de ambos estavam comprometidos e que toda a reserva que tinham seria gasta com as prestações futuras da viagem atual, Roberto não perdia a oportunidade de falar sobre isso, tornando a convivência naquele quarto quase impossível.
Chegou a um ponto, lá pelo décimo dia, que perceberam que estavam há uns dois dias sem se falar. Aconteceu naturalmente. De repente, foram se acalmando e se entregando a esse silêncio. Praticamente não notavam a presença um do outro. Os horários de refeição, banho, descanso já eram tão rotineiros, que palavras não eram mais necessárias. Cada um deles ligava para sua própria família e para seus filhos, independentemente, mas ninguém achou isso estranho. Já não havia problemas comuns a resolver; apenas o tempo era comum a eles. Tinham que aguardar um tempo igual, embora cada um o sentisse de forma diferente.
Luciana dedicou-se a pensar em si, na sua vida. Pensou em seus pais, na educação que recebeu deles, no sacrifício que fizeram a vida toda. Achou que nunca os retribuiu à altura. Prometeu a si mesma que iria recompensá-los quando voltasse. Pensou nos filhos, tentou lembrar todos os momentos desde seus nascimentos, procurando atitudes suas que tivessem sido muito certas ou muito erradas. Encontrou mais das últimas. Embora não concordasse com as críticas de Roberto, havia algumas coisas das quais não se orgulhava. Gostava de trabalhar e não gostava das tarefas da casa, especialmente aquelas com as crianças. Se um gostava de uma comida, o outro, não. Se um estava com sobrepeso, ou outro estava magro demais. Com isso, o trabalho era praticamente dobrado. Sem contar o trabalho que todos os caprichos do marido demandavam. Tudo isso tornava a rotina familiar muito desgastante para ela, e todos percebiam isto muito bem. A consciência e a culpa não a ajudavam muito; deixavam-na ainda mais irritada. Tinha vontade de não estar ali, mas que isso não seja entendido como falta de amor à família. Adorava os filhos e queria ter uma família perfeita e para sempre. Então planejar viagens passou a ser uma obsessão. Roberto era mais acomodado, mas saíam sempre que possível, em geral para lugares perto de São Paulo, viagens do tipo bate-volta, assim não precisavam pagar hotel. Saíam de casa bem cedo, num sábado ou domingo, passavam o dia num lugar agradável, de praia, rio ou montanha, e voltavam a noite, cansados e já fazendo planos (entenda-se, Luciana) para o próximo fim de semana.
A viagem a Cancun, como já foi dito, era um sonho desde a lua de mel. Luciana passou a juntar dinheiro para ela desde o nascimento do último filho, há seis anos. Como tinham várias outras prioridades, o que sobrava para a viagem sempre era pouco, mas, de grão em grão, concluíram, há um ano, que era possível. Compraram alguns dólares e as primeiras prestações do pacote passagens-hotel estavam garantidas. As últimas seriam pagas no regresso. Luciana não queria pensar nesse detalhe agora; estava determinada a refletir sobre sua vida num outro nível: o que pode ser feito ou planejado, que não dependa de dinheiro, marido, filhos, profissão, e que pode me deixar mais feliz? Não foi difícil decidir que precisava mudar de perspectiva: tinha que ser feliz com o que tinha, ou seja, não se queixar das coisas e pessoas como elas são, enxergar o que há de bom e aceitar o que não pode mudar. “Meu Deus”, pensou, “quanto clichê!”. Esses lemas de auto-ajuda, pensou, são ótimos para vender livros, mas na prática … Talvez uma mudança menos radical, sendo eu mesma, apenas um pouco mais paciente, compreensiva, carinhosa. Basta vencer a barreira inicial. Olhava para Roberto e pensou que não o conhecia mais. Via-o o tempo todo no celular, muitàs vezes sorrindo, e já nem imaginava o que ele poderia ver. Descobriu que nunca o conhecera tão bem assim.
De seu lado, Roberto oscilava entre dormir, ou fingir dormir, distrair-se ao celular, e ver filmes (mesmo sem legendas) na TV. Quando fingia dormir, disfarçando sua vontade de não interagir, ele também pensava na sua vida. Menos na regressa e mais na futura. Estava tentando encarar essa situação indesejada como uma oportunidade (punha em prática, assim, inconscientemente, um dos principais lemas de auto-ajuda). Depois de vários cursos de business, marketing, gerência de projetos e temas afins, era hora de recuperar uma boa lição e colocar em prática a seu favor. Começou pensando em como ganhar algum dinheiro enquanto o negócio imobiliário estivesse parado (“Ah como me faz falta o notebook, maldita Luciana!”), sem detectar nada que pudesse fazer, teria que trocar algumas ideias com seus colegas. Mas se deteve mais tempo ao pensar no futuro de sua vida pessoal. Antevia a si próprio sozinho, desimpedido, bem-sucedido. Tinha consciência de quão improvável era isso, mas esse pensamento não saía de sua cabeça. Nunca havia pensado em sair do casamento antes, ainda que pensasse sobre essa instituição tudo aquilo que as anedotas sugeriam. Além disso, ele não era um exemplo de fidelidade no casamento. As tentações eram muitas, mas caso extraconjugal mesmo, só teve um. E Luciana soube disso.
Foi logo depois do nascimento do segundo filho. Uma mulher dedicada a um filho de 2 anos e a um recém-nascido não é uma esposa, pensava ele. Também pensava que não conseguia ajudar muito, e que às vezes até atrapalhava, então se afastava. Esse tipo de pensamento já é meio-caminho andado para a infidelidade, e então surgiu Daniela. Durou muito pouco até que Luciana descobriu e pouco significou para Roberto e Daniela. Só que o fato marcou profundamente Luciana. À época, ela não teve sequer tempo de se dedicar ao sofrimento causado, devido ao trabalho com as crianças, e, até por isso mesmo, a mágoa conjugal veio carregada de ressentimento pelo momento especial em que isso ocorreu. Para o bem de todos, o episódio foi logo abafado e pretensamente esquecido. Roberto prometeu a ela que isso não se repetiria – o que cumpriu até o momento – e que ele tinha certeza de que ela era a mulher da vida dele. Mas esses últimos dias estavam abrindo seus olhos, “Meu Deus, quem é essa mulher do meu lado?!?”. Descobriu que não a conhecia tão bem assim.
A essa altura, as conversas no grupo virtual dos casais brasileiros no hotel eram a respeito do final do confinamento, da volta pra casa. Tinham sido avisados da data prevista, do voo, etc. Ficaram todos ansiosos. Alguns tinham mais informações e eram incumbidos de transmitir aos demais. No meio de tantas mensagens trocadas, ocorreu que Luciana respondeu, numa mensagem, uma dúvida de Roberto. Um participante do grupo, que os conhecia, debochou:
– kkkkk até parece que vocês nem se conhecem! Não estão mais no mesmo quarto? ;-)
Quase ao mesmo tempo, Luciana e Roberto se entreolharam e se envergonharam. Voltaram a fitar os respectivos celulares, mas nenhum deles respondeu a pergunta.
Aquele silêncio tornou-se tão natural que, na véspera da viagem, Luciana e Roberto passaram a trocar mensagens entre si para tratar de alguns detalhes da volta. Tudo indicava que, quando estivessem fora daquele quarto, voltariam a interagir naturalmente e deixariam para trás tudo isso. Mas aí aconteceu de novo.
Era madrugada, Luciana não conseguia dormir, estava ansiosa demais. Foi ao banheiro e notou que estava lá também o celular de Roberto. Com senha desconhecida, nunca pensou em procurar qualquer coisa ali. Coincidentemente, no entanto, enquanto estava ali, o celular se acendeu por conta da chegada de uma mensagem. A luz chamou sua atenção, ela olhou e viu a mensagem (ou parte dela) “Oi, soube que está em Miami...”. Para ver o resto precisaria da senha. Mas o problema não era o conteúdo da mensagem, mas, sim, de quem vinha: Daniela. Ela mesma, a de anos atrás. Até porque desconhecia qualquer outra Daniela.
Luciana gelou. Passou todo tipo de pensamento pela sua cabeça e não conseguia raciocinar direito. Poderia ter respirado fundo, ponderado sobre a conveniência de desenterrar esse assunto, ter a prudência de se certificar primeiramente se aquela mensagem representava o perigo que ela imaginava, ter considerado que estavam a poucas horas de voltar para os filhos, que precisavam muito deles, ter pesado os prós e contras de uma discussão a essa altura, ter medido as consequências de cada uma dessas atitudes. Isso é o que faria uma pessoa madura, segura e em situação minimamente normal. Nada disso valia naquele cenário, e ela fez exatamente o oposto.
Luciana juntou toda a raiva que conseguiu, fez o máximo de barulho até chegar ao pé da cama do marido, acendeu a luz e, aos berros, pediu que ele acordasse:
– Acorda, você recebeu uma mensagem muito importante! – Levou alguns segundos até que Roberto abrisse os olhos e a encarasse incrédulo.
– O que foi? Que horas são?
– Hora de ver sua mensagem. – E jogou o celular para ele.
– Mas que p....! – esbravejou ele.
Roberto pegou o celular e, ao ver a indicação da mensagem, olhou para Luciana com cara de quem não estava entendendo nada. Abriu a mensagem por completo, leu, releu e mostrou o celular para a mulher.
– Não é nada do que você está pensando. – Um clássico! – Veja você mesma! Ela só quer saber …
– Não me interessa o que ela quer saber. – Luciana deu um tapa no celular, que foi parar na poltrona do outro lado do quarto. – A questão é outra. Por que essa mulher te manda mensagens? Até hoje vocês se relacionam? Você não tem vergonha na cara?
Roberto respondia ao mesmo tempo em que Luciana perguntava. O leitor deve compreender que a forma linear do texto impede retratar a discussão tal como se dava: os dois falavam ou gritavam ao mesmo tempo e nenhum escutava o outro. Para o entendimento da trama, no entanto, vale informar as falas como se fossem autônomas e sincronizadas. Roberto tentava explicar enquanto buscava o celular:
– Eu nunca me comunico com ela. Ela viu nosso vídeo por acaso e está perguntando, como uma pessoa qualquer.
– Uma pessoa qualquer?!? Tá me gozando, Roberto? Acha que eu sou otária? Só por você ter o número dela na sua agenda, já mostra sua intenção.
– Ela é casada, Luciana!
– Pior ainda então, né? Vai ver também tem mais crianças sendo traídas, além das minhas.
– Não seja idiota!
– Não me chame de idiota, tenha respeito, pelo menos isso! É você que está devendo aqui, não eu!
A certa altura o telefone tocou. Haviam reclamado do barulho. Roberto deu uma desculpa qualquer e baixou o tom de voz. Luciana fez o mesmo, mas não deixou de ser dura. Para compensar a voz baixa, aproximava-se bastante do marido, olhava-o bem nos olhos e dizia-lhe os maiores impropérios. Estava cheia de razão.
– Como você teve coragem, depois de tanto tempo?
– Estou lhe dizendo que não é nada disso. Olhe a mensagem você mesma, caramba! Por que não olha? Tem medo de descobrir que não tem razão?
– Não olho porque não me importa o que está escrito, você não entende?
– Olha, Lu, eu entendo que nós estamos super estressados com tudo o que está acontecendo, então vamos deixar pra resolver isso lá em casa, ok? Eu estou tranquilo porque sei que não tenho culpa se essa mulher resolveu me escrever assim, do nada, completamente nada a ver!
– Está tranquilo? Muito bem, parabéns! Vamos ver até onde vai essa sua tranquilidade. Vou fazer da sua vida um inferno, você vai ver!
Até então Roberto sabia que estava numa posição inferior, compreendia a reação dela, mas essa ameaça o deixou indignado, afinal, não sabia por que aquela infeliz tinha entrado em contato. Após o término do relacionamento – que nada significou para ele –, ela o procurou algumàs vezes, sem sucesso, e acabou assim. O contato dela ficou na agenda do celular e agora … isso! Justo quando estavam indo embora!
– Escuta aqui, Dona Luciana. – Era assim que ele a deixava mais irritada. – Eu não devo nada mesmo, mas se é de uma razão que você precisa, então OK, você venceu. Quem está por aqui – e levantou o braço bem acima da cabeça – sou eu, euzinho, eu mesmo – e batia no peito. Esse tempo aqui me mostrou quem você é realmente. Mal agradecida, egoista, mandona, nunca pensei que seria tão ruim assim ficar isolado com minha própria mulher!
Conforme ele falava, os olhos de Luciana foram se enchendo de lágrimas e aos poucos soluçava aos prantos, de nervoso, de raiva, de mágoa. Roberto notou que tinha se excedido – não que tivesse dito alguma verdade – e foi se acalmando. Demorou um pouco até que o choro dela o tocasse ao ponto de se aproximar dela, acariciar seus cabelos e de ser moderadamente repelido. Ainda assim, ficou encostado na parede, esperando que ela tomasse a próxima atitude.
Voltando ao estágio de silêncio mútuo, ambos voltaram a se deitar, nenhum deles dormiu e, quando o telefone tocou para despertá-los, já estavam ambos prontos, cada um olhando seu próprio celular.
A volta ao Brasil ocorreu sem maiores transtornos, as surpresas foram quanto aos aeroportos bem mais vazios, aos cuidados adicionais de saúde dispensados aos passageiros, e ao silêncio ensurdecedor feito pelo nosso casal.
Uma vez em casa, já com as crianças, trombando uns com os outros, numa excitação extrema, era possível ouvir de um e de outro:
– Precisamos conversar – disse Roberto, distraidamente.
– Sim, precisamos conversar. – E, procurando os filhos ao redor, Luciana acrescentou: – Meninos, vêm aqui, vamos combinar nossa próxima viagem: para a Disney!
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