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Contos-->DIAS DE PRAIA -- 30/07/2001 - 17:57 (Carlos Higgie) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


DIAS DE PRAIA


Éramos jovens e felizes, tão felizes que não queríamos saber do amanhã e suas vicissitudes. Não queríamos saber de nada. Contagiados com o que tinha restado dos anos sessenta, com o pouco que ficara em nossas mãos, sentíamo-nos rebeldes e fortes, cabeludos e livres, absolutamente donos do nosso mundo.
Eram tempos duros, para os outros. Dias escuros e tristes, jornadas de armas e mortes, de gente morrendo pelos seus ideais e outros morrendo sem saber por quê ou por quem. Eram tempos de lutas, de homens e mulheres entregando-se, sacrificando suas vidas e as vidas dos seus.
Nada daquilo tocava-nos. Alheios aos problemas que pipocavam ao nosso redor, queríamos diversão, queríamos aproveitar nossa juventude, escrever na areia uma canção de amor que, segundos depois, o mar apagaria, para sempre.
Naquela semana, acampamos numa praia deserta. Joel, dono do seu nariz, muito cabelo e poucas idéias; Gersy tão linda e angelical, porém com seus peitos durinhos e provocantes; Isadora bela e taciturna, sempre ocultando seus verdadeiros pensamentos e eu, menos louco que Joel, mas também irresponsável.
Foram quatro dias, com todas as suas maravilhosas noites, de loucuras e prazeres. Comemos peixes, bons pedaços de churrasco, muito pão e bolachas, Bebemos todas as cervejas, cachaça barata e bastante chimarrão. Joel tinha levado um violão e sentia-se um verdadeiro roqueiro, com todos os defeitos e todas as virtudes. Dizia que ia gravar um disco, seria famoso e podre de rico.
Depois de duas noites fazendo o amor com Gersy, Joel fez uma das suas propostas maluca: troca de companheiras. Isadora escandalizou-se. Eu protestei sem muita convicção. No fundo tanto ela quanto eu queríamos experimentar a novidade. Eu porque Gersy era realmente linda e sexi. Não nos arrependemos da troca. Todos fomos felizes.
Saciados os nossos apetites, cansados da praia, decidimos retornar. Em realidade o dinheiro tinha acabado e ninguém estava disposto a passar fome.
Quando entramos na estrada, Joel pisou forte no acelerador do Fusca. Gersy falou para não correr tanto e até fez um carinho na nuca dele. Isadora e eu, no banco traseiro, não falávamos nada, estávamos absortos, submergidos nos nossos pensamentos. Alguns quilômetros depois anoiteceu. O céu, coalhado de estrelas, parecia prestes a cair sobre o campo deserto. A luminosidade do fogo, que brotava de alguns tonéis, chamou-me a atenção. Era um posto de controle militar. Tínhamos que reduzir a velocidade. Isso era o que mandava o bom senso. Joel, louco e um pouco bêbado, acelerou ainda mais, insultando tudo e a todos. Vi o rosto de surpresa do soldadinho e o olhar duro do soldado mais velho. Ouvi um estampido seco. Gersy começou a gritar, histérica e descontrolada.
Não sei como nem quando deteve-se o carro. Todos estávamos totalmente desconcertados. Os soldados nos cercaram gritando ordens. Nós não nos mexíamos, não dizíamos nada, somente olhávamos para o buraco na testa de Joel, um orifício enorme como se fosse um terceiro olho. Um olho implantado, horrível, que olhava-nos, condenando-nos.

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