CAPÍTULO I
Já passavam das quatro da manhã quando ouvi o que parecia ser um pedido de socorro. Resolvi sair de casa para ver do que se tratava, afinal, o pedido parecia vir de perto. O que vi foi algo que jamais esquecerei: a mulher que pedira por socorro estava seriamente ferida. Perguntei a ela quem havia feito aquilo. Ela mal conseguia falar, pois o corte em seu abdômen foi profundo, mas ainda assim me deixou um nome antes de falecer. Senti-me mal por não poder fazer nada por aquela pobre alma. Vê-la morrer foi algo que me deixou profundamente angustiado. Ainda assim tive coragem de olhar em sua bolsa a procura de maiores informações a seu respeito. Descobri que se tratava de uma jovem de apenas vinte e quatro anos e que era estudante universitária. Minha angústia aumentou. Pensei como alguém teria coragem de fazer tal coisa. Dei mais uma olhada em seu belo corpo deitado no chão. Tratava-se de uma belíssima jovem, de pele levemente bronzeada, cabelos e olhos castanhos, muito bem vestida.
Deixei-a por um breve momento para comunicar à polícia sobre o ocorrido. Vieram rapidamente, embora não tão rápido quanto deveriam, para fazer a perícia. Algo que despertou a minha curiosidade e também a dos policiais foi a maneira como ela foi assassinada. O corte em seu abdômen fora fatal, porém fora feito de maneira que ela não morresse rapidamente, o que lhe causou muito mais sofrimento. Os médicos que examinavam o corpo constataram que o corte havia sido feito por um profissional devido à forma do mesmo. Não era algo comum, feito a esmo por um assassino qualquer. Com certeza o assassino utilizou algum tipo de instrumento cirúrgico. O que reforçou esta idéia foi o fato de que nada havia sido roubado da vítima. Havia dinheiro, talão de cheques e cartões de crédito em sua bolsa. A vítima usava jóias, provavelmente de valor elevado. Os policiais logo pensaram que se tratava de alguma forma de vingança, mas eu não aceitei tal idéia.
Após a perícia e a remoção do corpo, fui levado à delegacia para prestar depoimento. O nome que a vítima havia me dado não ajudou em nada o trabalho dos investigadores já que se tratava apenas de um primeiro nome. Após o depoimento fui dispensado e informado de que poderiam vir a solicitar a minha presença novamente. Já passavam das sete quando saí da delegacia. Ainda estava meio atordoado com o acontecido e preocupado com a hora, pois eu teria que começar a trabalhar às oito. Logo que cheguei em casa recebi um telefonema. Era um homem. Não se identificou, apenas me disse para esquecer o que havia acontecido e desligou. Fiquei ainda mais preocupado. Resolvi não dizer nada à polícia no momento. Fui trabalhar cansado e pensando em que a minha curiosidade havia dado. Talvez tivesse sido melhor ter ficado em casa dormindo. Minha vida continuaria da maneira com sempre foi: monótona, sem um pingo de emoção.
O meu dia passou sem maiores emoções. Evitei comentar com os meus colegas de trabalho o ocorrido. Mas não consegui deixar de pensar no telefonema que eu havia recebido. Será que se tratava do assassino? Ou seria somente alguém querendo me dar um aviso? Pensei em muitas possibilidades, mas nada me fazia acreditar que não se tratava do assassino. Ao sair do trabalho senti uma certa insegurança. O assassino poderia estar me vigiando, esperando apenas uma oportunidade para silenciar-me. Para minha alegria cheguei em casa a salvo. Ao entrar em casa, encontrei um envelope que continha um bilhete com os seguintes dizeres:
“Sei quem é o assassino. Não diga nada à polícia. Ele pode estar te vigiando. Mantenha a calma e finja que nada está acontecendo. Logo entrarei em contato para te dar novas informações. Não tenha medo”.
Entrei em pânico ao terminar de ler o bilhete. Eu não fiz nada que pudesse prejudicar alguém. Simplesmente cumpri com as minhas obrigações para com os policiais. Não sabia o que fazer. Resolvi sair para dar uma volta e quem sabe encontrar alguém para desabafar. Foi pensando nisso que eu decidi ir à casa de uma amiga para contar o que estava se passando.
Ela era uma pessoa muito legal e sempre me dava bons conselhos, embora eu quase nunca os seguisse. Também era um bocado atraente, o que animava um pouco a minha vida de solteiro. Eu sempre tive a esperança de que talvez pudesse rolar algo legal entre nós, mas nunca contribuí para que isso acontecesse. Talvez seja porque eu sempre tive o receio de que se eu tentasse alguma coisa eu pudesse estragar a nossa amizade. Tê-la como minha amiga já era o bastante para mim. Era alguém em quem eu sempre pude confiar, com quem eu sempre pude desabafar. Já estava eu em frente à sua casa quando percebi que ela estava saindo. Apressei-me um pouco para alcança-la. Ao chegar ao seu encontro perguntei:
---- Tem um minuto? Preciso muito falar com você.
---- Pode falar. Estava saindo só para dar uma volta. Sua companhia vai me fazer bem.
---- Você ouviu falar daquela moça que foi morta aqui no bairro?
---- Sim, por quê?
---- Fui eu que tive o azar de achar o corpo dela. Bem, na verdade ela ainda estava viva quando eu a encontrei...
---- Sim, e daí?
---- Tudo estava correndo bem até o momento em que eu recebi este bilhete.
Dei o bilhete a ela para que o lesse por si mesma...
---- Quem foi que lhe mandou isso?
---- Esse é o meu problema. Eu não sei quem foi, mas estou desconfiado que tenha sido o próprio assassino...
---- Não seja paranóico...
---- É sério. Estou desconfiado que esse cara seja algum tipo de assassino em série, com nos filmes que se vê por aí. A forma como ele matou a garota... Aquilo me deu arrepios. E esses caras são sempre mais espertos que a polícia. Eles na maioria das vezes gostam de ficar de longe apreciando o trabalho da polícia. Talvez ele tenha me visto e decidido me avisar ou sei lá o que...
---- Eu não acho que seja nada disso. Deve ser só alguém querendo curtir com a sua cara. Isso tá com cara de brincadeira de moleque. De qualquer forma, eu acho bom você ir falar com a polícia.
---- Você está louca, vai que o maluco resolve vir atrás de mim.
---- Ah, então eu não sei o que te dizer... Mas nada me convence de que você está correndo perigo. Que horas são?
---- Já são quase nove e meia.
---- Preciso ir para casa, já é tarde. Vou ter que acordar cedo amanhã. Se quiser podemos sair de novo amanhã à noite. É bom, talvez assim você relaxe um pouco e tire essas idéias malucas da cabeça.
---- Por mim tudo bem. Te pego às sete. Tchau.
Resolvi ficar por mais algum tempo sentado na praça em que estávamos. A beleza do lugar me acalmava. A praça era bem arborizada e não sofria com a movimentação dos carros, já que ficava afastada das ruas mais movimentadas. As pessoas que também passeavam pelo local àquela hora me deixaram um pouco mais tranqüilo pois eu sabia que o tal maluco não viria atrás de mim em meio aquela gente. Mas eu acho que me enganei. Fiquei um bocado receoso quando percebi que havia um homem que estava me olhando. Num primeiro momento achei que era o tal assassino, mas ele veio em minha direção como se já me conhecesse, logo eu concluí que não poderia se tratar do psicopata. Achei que estava vindo falar comigo, mas me enganei. Ele passou direto e nem sequer me olhou.
Nesse momento eu comecei a achar que talvez isso de que eu estava sendo vigiado fosse realmente coisa da minha cabeça. Não havia razão para tal. Eu não fiz nada que pudesse aborrecer o criminoso. Talvez ele nem queira saber nada a meu respeito. Talvez ele nem saiba nada a meu respeito. Acho que comecei a pensar assim porque no fundo eu sempre quis uma vida agitada, com emoções diferentes a cada dia. Acho que a sensação do perigo atrai a todos. Quem não gostaria de levar uma vida emocionante, cheia de perigos e desafios novos a cada dia? Inconscientemente eu criei essa perseguição e só agora eu estou me dando conta disso. Foi com essa certeza que eu tomei o caminho de casa. Eu precisava trabalhar no dia seguinte. Segui o meu caminho tranqüilo, acreditando que o meu problema estava resolvido. Tudo aquilo foi coisa da minha cabeça. Não havia nenhum motivo para que eu me preocupasse. Com certeza aquele bilhete foi uma brincadeira de algum adolescente desocupado. O fato era que não havia motivos para que eu me preocupasse e era só isso que importava. A minha vida seguiria seu curso naturalmente, da maneira como sempre foi. Eu continuara com a minha rotina.
CAPÍTULO II
Já havia passado mais de uma semana desde que aquela moça havia sido assassinada. Os meus dias transcorriam normalmente. Passei a manter menos contato com os vizinhos depois do ocorrido. A idéia de que pudesse se tratar de um assassino em série ficava mais distante a cada dia. Eu não sofri mais nenhum tipo de ameaça e já não me preocupava mais como no começo. Embora a polícia ainda não tivesse resolvido o caso, vinha ficando cada vez mais evidente que o crime fora praticado por vingança. Apeser de não aceitar esta idéia eu tinha que me conformar. Nada aconteceu e nada aconteceria. Pelo menos foi o que eu achei durante um tempo. Mas o próprio tempo provaria que eu me enganara.
Foi ao chegar em casa que eu vi um outro envelope, exatamente igual ao primeiro, que havia sido jogado por baixo da porta. Hesitei um pouco em abri-lo. Não sabia o que esperar. Poderia se tratar de outra carta do maníaco ou poderia ser simplesmente um recado de alguém. Na dúvida, peguei-o e sentei no sofá. Tinha vontade de abri-lo, mas faltou-me coragem. Naquele momento comecei a pensar na minha vida, em tudo que havia conseguido até então. Dei uma olhada ao meu redor. Os móveis que preenchiam a minha sala não eram de luxo, nada em minha casa era. Mas eu me sentia confortável levando a vida que levava. Ainda não havia casado, e isso tornava a vida um pouco vazia. Raramente visitava ou era visitado por parentes. Somente nas tradicionais festas de final de ano é que tinha algum contato com meus pais e irmãos. Foi pensando em tudo isso que eu descobri que a vida que eu levava era boa, era da maneira que eu sempre quis. A vida agitada da qual eu sentia falta poderia acabar com isso a qualquer momento. Eu poderia morrer subitamente. Tudo o que eu tinha poderia acabar.
Resolvi tomar coragem e abri o envelope. Dentro havia um pequeno bilhete, igual ao primeiro. Não me preocupei com mais nada e comecei a lê-lo:
“Você está indo bem. Mas aquela sua amiga pode nos atrapalhar. É melhor para vocês que ela não fique sabendo de mais nada. Nos encontraremos mais em breve do que você imagina. Mal posso esperar para conversar com você pessoalmente. Não se preocupe, faça o que eu digo e tudo acabará bem”.
---- Esse cara deve estar louco. Não agüento mais isso. Acho que seria melhor falar com a polícia a respeito dele. Bem, não acho que falar com a polícia vá adiantar muito. O cara foi esperto ao mandar um bilhete datilografado, assim a sua caligrafia não pode ser reconhecida.
---- Como a vida nos prega peças. Eu jamais poderia imaginar que isso um dia fosse acontecer comigo. O pior de tudo é que ninguém acredita no que eu digo. Bem, somente a Samantha não acredita em mim. Afinal de contas, ela é a única que sabe da minha historia. Não é possível que tudo isso seja imaginação minha.
Foi em pensamento que tais palavras vieram à minha cabeça. Foi então que eu percebi que tudo estava se tornando sério demais e que era preciso que eu avisasse a polícia sobre o ocorrido. A minha vida poderia estar em perigo.
Como já era tarde, resolvi deixar para dar queixa no dia seguinte. Eu precisava descansar. Fui para o meu quarto, esperando poder atingir o meu propósito. Deitei-me em minha cama e fiquei a contemplar o teto. Mil e uma coisas vieram à minha cabeça naquele momento. Por um breve instante eu consegui deixar de pensar em tudo que eu estava acontecendo e me concentrei somente numa coisa: Samantha, a amiga que sempre me aconselhava. Ela era uma mulher maravilhosa, não só em beleza física, mas também como pessoa. Eu sempre senti que de alguma forma ela me completava por dentro. Embora eu não soubesse como mostrar isso a ela, eu sempre tive a esperança de que um dia ela pudesse perceber. Talvez fosse melhor assim. Talvez um dia eu conhecesse uma pessoa diferente por quem eu me interessasse, aí eu poderia apagar o que sentia por ela e manter simplesmente a nossa amizade. Foi com tais pensamento que eu adormeci.
Na manha seguinte eu acordei super disposto a curtir o meu dia. Nem me lembrava de tudo que estava se passando. Tomei o meu café da manhã fui ao meu quarto para me arrumar.Por um certo instante fiquei a fitar-me no espelho. Buscava uma maneira de me conhecer melhor.Quis compreender quem ou o quê eu era. Perdi um bom tempo refletindo sobre mim mesmo. Como posso viver em paz comigo mesmo se não tenho controle da minha própria vida?Naquele momento percebi que eu não era nada mais do que um nada. Minha vida não significava nada para ninguém.Por isso havia um maluco me persiguindo. A única saída então seria ignorá-lo. Mostrar a ele que ele também era um nada. Senti-me melhor comigo mesmo. Senti-me mais auto-confiante. Terminei de me arrumar e saí para pegar o carro. Na garagem, repensei tudo o que havia passado pela minha cabeça no quarto. Percebi que o meu problema estava se resolvendo.
Enquanto estava dirigindo, percebi que talvez pudesse estar sendo seguido. A minha paranóia havia voltado. Comecei a acelerar sem olhar para trás. O pânico havia tomado conta da minha mente. Corria feito um louco pela avenida. Tremia e temia ser pego. Pouco tempo depois de minha fuga desenfreada percebi que a policia estava me seguindo e pedindo para que eu parasse. Sem saber o que fazer continuei correndo para tentar despistá-los. Agora não havia mais como voltar atrás. Continuei a acelerar. Meu batimento cardíaco aumentava a cada momento. Naquele momento percebi a que ponto eu havia chegado com minha loucura. Mas era algo que eu não pude evitar. Talvez tivesse sido melhor parar logo que a polícia começou a me perseguir. Ao menos com eles eu estaria seguro. Mas naquela hora eu não consegui pensar nisso. Apavorei-me mais e continuei correndo até o momento da pior das fatalidades ocorridas até então. No meu desespero perdi o controle do carro em uma tentativa de ultrapassagem e o veículo foi em direção da calçada onde atropelei várias pessoas, dentre as quais estava um rapaz que faleceu na hora.
Como eu não havia me ferido na batida aproveitei o tempo para sair do carro e correr enquanto a polícia não me alcançava. Algumas pesoas tentaram me impedir, mas consegui fugir deles ainda assim. Agora minha vida estava acabada. Havia me tornado um assassino. Não havia como voltar atrás. Corri como jamais havia corrido em minha vida e se pensam que consegui escapar da polícia estão completamente enganados. Fui preso. Levado à delegacia. Que vergonha para mim e para todos aqueles que me conheceram. Nunca imaginei que isso um dia pudesse vir a acontecer. Senti-me um verme naquele lugar. Havia me tornado um assassino como outro qualquer. Fazia naquele momento parte da escória que polui o mundo. Esperei durante horas para ser autuado. Deixaram-me numa cela com um bando de marginais violadores das mais diversas leis. Até então eu não havia visto uma delegacia com aqueles olhos. Olhos de quem se sente como um animal enjaulado, e sendo tratado como tal. Pensamentos de fuga e até suicídio vieram à minha cabeça, mas tais atos eram tão absurdos quanto impraticáveis. A mim só restava esperar. Felizmente (ou infelizmente, não sei) minha espera não durou muito.
A família do rapaz que falecera estava lá e me olhavam como se quisessem que eu também tivasse morrido. Umas choravam desesperadamente e me amaldiçoavam para toda a vida. Outros tentavam acalmá-las e juravam me matar tão logo eu saísse dali.Não havia nada que eu pudesse fazer para confortar aquelas pobres almas. Era impossível desfazer o que fora feito. Nada que eu fizesse traria o rapaz de volta. Não conseguia olhar nos olhos de ninguém.Tudo o que pude fazer enquanto esperava foi me afundar em pensamantos. Pensamentos que me confortaram durante algum tempo. Pensei em Samantha. Na sua beleza e no seu caráter. Durante muito tempo ela me ajudou, sempre esteve perto quando eu precisei. Pensei em usar a minha ligação para falar com ela, explicá-la a minha situação. Buscar algum consolo em seu ombro sempre amigo. Mas fiquei receoso por ela. Poderia magoá-la. Liguei ainda assim.
---- Alô, Samantha ? É o Júlio. Nem sei com vou te dizer o que aconteceu...
---- O que foi? Algum preblema? Você parece nervoso...
---- Eu fui preso...
---- Como assim? O que você quer dizer com isso? É alguma brincadeira?
---- Não. Eu tô falando sério. Eu achei que estava sendo seguido pela manhã e comecei a correr com o carro. A polícia tentou me parar mas eu corri mais ainda. Acabei perdendo o controle do carro, atropelei algumas pessoas e matei um rapaz. Tentei fugir a pé mas a polícia me pegou e agora eu tô preso...
---- Como você foi se meter numa dessas? Eu te avisei! Me diz aonde você esta que eu vou aí...
---- Não, não quero que você venha. Nâo quero que você me veja nessa situação...
----Mas eu preciso te ajudar de alguma maneira...
----Você não pode fazer nada. Aquele rapaz morreu por uma irresponsabilidade minha. Todos viram isso. Eu sei que eu vou ser condenado. Não quero qu você venha...
---- Me diz onde você está por favor...
---- Eu não posso, me desculpa...
Desliguei o telefone. Eu não poderia deixar que ela me visse naquela situação. Arrependi-me por ter ligado. Agora ela fiacaria preocupada comigo. Tentei esquecê-la por uns instantes. Em poucos instantes eu fiacaria sabendo o tamanho da burrada que eu havia cometido. Joguei minha vida fora por nada. E nada que eu fizesse poderia endireitar as coisas.
CAPITULO III
Havia chegado a hora de saber o que realmente acontecera. Não conseguia entender a mim mesmo. Estava confuso, perturbado. Fui levado por dois policiais a uma saleta no fundo da delegacia. Passear algemado por entre as pessoas que se encontravam no local me constrangeu de maneira que eu jamais pudesse imaginar. Não poderia encarar a sociedade novamente, ainda que saísse livre dali. Não suportaria a vergonha de ter sido preso. Fui levado para interrogatório e lá fui entender tudo o que estava aconteceno comigo. O delegado começou perguntando qual havia sido o motivo para correr da maneira como eu corria...
--- Eu achei que estava sendo seguido e aí me apavorei...
--- Seguido por quem?
--- Depois que uma garota foi assassinada no meu bairro eu comecei a ter a imprenssão de que estava sendo seguido. Recebi alguns bilhetes que me deixaram bastante nervoso...
--- Ah, foi você que achou o corpo né? Tem um detetive te vigiando por que você era um dos principais suspeitos. Ele te seguia de carro aonde quer que você fosse.
Me fizeram diversas perguntas. Foi então que me disseram o quanto eu havia exagerado na minha paranóia. O assassinato da jovem mencionada no início deste relato foi solucionado pouco depois de uma semana depois do acontecimento. Todos na minha vizinhança sabiam disso. Mas eu, com medo de tudo e de todos, isolado e isolando-me, fiquei sem saber que o caso já estava encerrado. Pelo menos para o policiais. O caso fora de vingança. O namorado, por haver descoberto que ela o estava traindo, a assassinara e no dia seguinte se suicidou. Mas na minha visão muitas coisas ainda continuariam sem explicação. A maneira como ela foi morta não havia sido explicada, também não haviam provas concretas de que o asassino teria sido o namorado. Apenas o relato de vizinhos, amigos e conhecidos que afirmavam que os dois vinham tendo sérios desentendimentos desde que ele descobriu que ela o estava traindo. Era sabido também que ele era eu rapaz um pouco desiquilibrado. Mas isso não poderia provar nada. Somente continuei a ser seguido por segurança, até que eles tivessem certeza de que eu não tinha nada a ver com o assassinato
Naquele momento não adiantava mais me preocupar. Eu seria condenado de qualquer maneira. Afinal, a responsabilidade pela morte do rapaz fora completamente minha. Pensei em tudo o que eu perderia a partir dali. Os amigos, a família, a liberdade, a vida. A vida. Já não significava muito para mim. Perdê-la fazia muito sentido. Meus valores morais eu mesmo corrompi. Seria covarde deixar tudo. Não encarar a responsabilidade. Contudo, seria incapaz de assumir a responsabilidade, ir para uma casa de detenção. Ser um assassino...não poderia conviver com essa imagem. Foi por isso que resolvi me suicidar.