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Diário do Dia a Dia
O dom de sonhar
As nações são todas mistérios. Cada uma é todo o mundo a sós. Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala. O mais é nada. A aranha da minha sorte faz teia de muro a muro... Sou presa do meu suporte.
Só eu, de qualquer modo, não sou o mesmo, e isto é o mesmo também afinal. Não sei o que sinto, não sei o que quero, não sei o que penso nem o que sou.
Nunca tive dinheiro para poder ter tédio à vontade. Porque eu desejo impossivelmente o possível, porque quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, ou até se não puder ser...
Uma vontade de sono no corpo, um desejo de não pensar na alma, e por cima de tudo, uma transparência lúcida do entendimento retrospectivo... Tudo é orgulho e inconsciência.
O próprio sonho me castiga. Adquiri nele tal lucidez que vejo como real cada coisa que sonho. Mudem-me os deuses os sonhos, mas, não o dom de sonhar.
Quanto mais profundamente penso, mais profundamente me descompreendo. É preciso ser um realista para descobrir a realidade. É preciso ser um romântico para criá-la.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas, é muito importante. Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão. E afinal o que quero é fé, é calma, e não ter essas sensações confusas.
(Fernando António Nogueira Pessoa — Lisboa, 13 de junho de 1888 — Lisboa, 30 de novembro de 1935)
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Se há eternidade, sejamos bons para alcançá-la. Se não há eternidade, sejamos igualmente bons agora, pois não teremos outra oportunidade de fazê-lo. Marco Aurélio
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