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Contos-->COQUEIRAL -- 06/12/2021 - 11:49 (Roosevelt Vieira Leite) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

COQUEIRAL

 

A feira da Coruja estava de vento em popa naquela segunda feira. A Avenida trinta e um março estava repleta de pessoas oriundas de várias cidades da região. Campos, a capital do vale do Rio Real, crescia com a ajuda da criatividade de seu povo. O comercio comemorava as vendas recordes e o povo enchia as ruas com suas esperanças e mazelas. Aqueles eram os dias de Tadeu. Um vendedor ambulante que morava em Campos nos anos oitenta. Tadeu vendia coco nas ruas do comercio de Campos. Ele fazia isso desde rapazinho, todos os dias, de segunda a sábado.

Tadeu era um homem bem afeiçoado. Tinha a beleza típica dos homens do sertão. Era alto, forte, cor parda, cabelos lisos e olhos esverdeados. Não poucas foram as moças que caíram de amor por ele. Mas, o rapaz recusou as propostas amorosas para cuidar de sua mãe enferma. Dulce teve um derrame e com isso foi o para o leito onde ficou até o final de seus dias. Enquanto sua mãe esteve viva, Tadeu esteve ao seu lado e não deixou ninguém tirar sua atenção dos cuidados com sua genitora. Apesar de ser um homem bom e um bom filho, Tadeu era ateu. O rapaz não acreditava em nada e de costume repelia qualquer ideia deísta:

- Tadeu, meu filho, vá para a missa!

- Que nada mãe! Esse negócio de religião não dá certo comigo não.

A segunda feira começou as quatro horas da manhã. As cercanias da rodoviária parecia um formigueiro de gente. Tadeu fazia ponto lá. “Água de coco por dois reais”. Todo tipo de gente comprava água de coco do rapaz. Por volta de quatro e trinta da manhã se aproximou um homem baixo, gordinho, de cor branca avermelhada e cabelos castanhos escuros para comprar água. O homem iniciou uma prosa com Tadeu falando da doçura da água:

- Esse seu coco é bom. Muito bom mesmo. É de onde?

- A gente compra de um rapaz que vem do Candial. Respondeu Tadeu sem prestar muita atenção.

- É, o Candial tem muito coco, mas, eu sempre achei que a água de lá é meio sem doce. Água boa é do Riacho Fundo. Água doce como mel.

- Eu não sabia que o Riacho Fundo tinha coqueirais. Falou surpreso o jovem Tadeu.

- Ah, há muito tempo atrás o Riacho Fundo tinha uma lagoa cercada de coqueiros de todos os tipos. O coco de lá era uma maravilha.

- Mas, isso foi a muito tempo mesmo porque desde que me entendo como gente que sei que não há coco no Riacho Fundo. Disse Tadeu tentando encerrar a prosa. O homem coçou a testa e disse: “Você nunca ouviu falar da história de Ronaldo o fazendeiro de Riacho Fundo? Tadeu respondeu surpreso: “Não”. O moço estranho pediu um cafezinho e se pôs a contar a história:

“Era o ano de 1800. Campos era uma Vila Pequena, e o Riacho Fundo menor ainda. Havia lá uma fazenda de criação de gado cujo dono se chamava Ronaldo. Ronaldo tinha um coqueiral e vendia coco para toda a região. O homem era dono da fazenda e de muitas casas em Campos. Tinha criação de gado e para tristeza de Campos tinha, também, alguns escravos. Ronaldo era casado com dona Florinda. Uma mulher orgulhosa e cheia de maldade. O povo da roça dizia que ele era um homem bom, mas, a mulher era o cão em pessoa. Ser bom não era tudo para Ronaldo, pois ele morria de medo de sua patroa e por isso fazia tudo que ela mandasse. Muitas foram as vezes que ela quis o sofrimento dos escravos. A mulher odiava os negros e fazia de tudo para lhes tornar a vida ainda pior. Isso durou até a chegada de um negro chamado “João Gonçalo”. Este era escravo que cuidava de gado e Ronaldo o adquiriu para lhe ajudar com os bichos. João era um escravo bem afeiçoado; um homem alto, de porte atlético e feições finas. Gonçalo não se dobrava como os outros, o homem tinha o queijo erguido. Florinda no início andou tendo umas birras com ele. Mas, com o tempo a mulher ficou uma seda com o moço. João Gonçalo, então, passou a ser escravo dos dois. Ronaldo e Florinda lutavam pelos afazeres do escravo. Ela queria o homem sempre perto da casa e seu esposo o queria no pasto. O tempo passou. João Gonçalo aprendeu a ler, escrever e a fazer contas. De escravo cuidador de gado o homem passou a ser também contador da fazenda. Ronaldo com o tempo permitiu que o escravo fosse cuidar dos interesses da propriedade na sede do município. A família tinha uma casa de morada em Campos. Uma vez por mês Gonçalo vinha com Florinda resolver os negócios da fazenda e se hospedavam na casa. Com isso cresceu a amizade entre os dois. Florinda se apegou ao negro e o negro a ela:

- Florinda, você é tudo para mim. Eu sei que não posso ter você, mas, minha alma sente falta de ti.

- João, a gente não pode viver juntos, mas, podemos ter, de se certa forma, um ao outro, pois, estaremos sempre juntos e escondidos. Os dois passaram a ter um caso amoroso sob as barbas de Ronaldo que inocente, sem ver nada, continuava sua vida com seus bichos e seus cocos.

As viagens para sede aumentaram. Os dois eram mais vistos em Campos de que Ronaldo. Para onde Florinda ia João Gonçalo ia atrás. As senhoras da sociedade perguntavam umas as outras quem era aquele negro de Florinda. Também as pessoas da fazenda e os escravos começaram a comentar sobre a estreita relação da patroa com o escravo de Ronaldo:

- Mulher, você não acha estranho esses dois?

- Sim comadre muito estranho mesmo. Ronaldo tomou conhecimento dos comentários. Por isso arrumou uma moça escrava para se casar com João Gonçalo. Florinda fez de tudo para não dar certo, mas, Gonçalo se casou com Sebastiana apesar de tudo.

Depois do casamento, a vida dos dois passou a ser um inferno. As viagens para a sede continuaram e em vez do romance eram as cobranças de Florinda que reinavam na psicosfera dos dois. Muitas vezes as brigas terminavam com cenas de amor e paixão e desejos de um bem expresso no final. Mas o tempo traz coisas que a alma humana tem dificuldade de lidar. Sebastiana engravidou do marido e os negros da roça fizeram uma festa para comemorar. Ronaldo também comemorou, pois, sabia que seria uma prole boa:

- Florinda Sebastiana está grávida. Vai ser uma prole boa desses dois, pois, João é um bom reprodutor. Vamos ganhar dinheiro com os filhos deles. Florinda não sabia o que dizer:

- É, a negrinha parece que será boa de buxo. Florinda tentava esconder sua fúria, mas, quem não via que a mulher andava irritada gritando com tudo e todos. Um dia de muita chuva, Sebastiana trabalhando na sede da fazenda sem querer derribou um jarro de enfeite que estava em suas mãos. Com isso Florinda a condenou ao tronco. João implorou para que ela nada fizesse a moça, no entanto, apesar de suas intercessões a escrava sofreu as chibatadas até desmaiar. Após o tronco, Sebastiana não teve mais saúde. João pediu a Ronaldo para trazer o médico, mas, Florinda se meteu na conversa e tirou a ideia da cabeça do marido. Os escravos se revoltaram juntamente com João que via a moça definhando dia após dia. Florinda ao ver a reação de Gonçalo o mandou também para o tronco. O rapaz apanhou até morrer de infecção. A moça Sebastiana também faleceu. Com a morte dos dois, os negros da fazenda se revoltaram e mataram Ronaldo e a mulher. Depois tocaram fogo na casa e nos coqueirais”.

Tadeu ouviu a história atento. Os fregueses sumiram no momento. Era ele e o estranho contador de história:

- Mas que história sinistra desse Tadeu. Quer dizer que isso aconteceu aqui em Campos? Perguntou Tadeu curioso.

- Sim, foi aqui mesmo. O homem olhou para Tadeu com um semblante saudoso. Suas palavras diziam que de alguma forma ele conheceu aquelas pessoas. Então, Tadeu pergunta:

- E o senhor quem é? É daqui de Campos mesmo?

- O homem se despedindo de Tadeu diz seu nome: “Meu nome é Ronaldo”.

 

 

 

 

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