O advogado e o CAIPIRA
Félix Maier
Era uma vez, quando um casal fez uma viagem num possante carro para passar um fim de semana numa hospedagem rural à beira de um lago. O marido era famoso advogado na cidade e sua mulher estava grávida, com o filho próximo a nascer.
A certa altura, o motorista, ao passar por um capiau a pé, que estava puxando um burrinho com cestos de capim elefante, diminuiu a velocidade do carro e fez troça dele, chamando-o de Jeca Tatu.
O camponês nem se importou, mesmo quando o motorista levantou uma forte poeira, acelerando o carro, o que deixou o colono invisível no meio de uma nuvem de pó.
Pouco depois, antes de chegar na pousada, a mulher grávida começou a passar muito mal e pediu para parar um pouco o carro, porque os solavancos da estrada de terra esburacada a estavam incomodando muito.
O motorista parou o carro e começou a fazer carinho na barriga da mulher, para dar conforto e diminuir a dor. Porém, a bolsa estourou e a criança estava prestes a nascer.
O marido, sem saber o que fazer, corria em volta do carro como peão a cavalo em volta dos tambores. A mulher pediu para ele pegar umas fraldas de pano e forrar o assento do carro, porque estava para dar à luz.
Nisso, apareceu o Jeca Tatu e, vendo a situação de desespero do casal, se ofereceu para ajudar o nascimento do bebê. O marido relutou, mas, com o assentimento da mulher, permitiu que ele auxiliasse no parto, depois que ele disse que ser um bom parteiro.
Providenciando água, panos, álcool e uma tesoura para cortar o umbigo, depois de um bom tempo de muita dificuldade e aflição, com a mãe gritando e suando como se estivesse em agonia, o filho enfim nasceu robusto e vermelho e deu seu primeiro grito de “viva a vida!”
O marido quis saber onde o capiau tinha recebido todo aquele conhecimento, e ele disse:
- Lá na fazenda onde eu trabaio, dia sim, dia não, eu lido pro mor de parir bezerro atravessado.
O advogado, inicialmente, ficou constrangido com a declaração do caipira, comparando o nascimento do seu filho com o de um bezerro. Porém, logo se sentiu envergonhado com sua atitude preconceituosa em relação ao Jeca Tatu, tanto na estrada, quando no auxílio ao parto. Ele percebeu que o homem simples tinha habilidades e conhecimentos valiosos, mesmo sem ter frequentado a escola ou ter acesso à tecnologia moderna.
Essa experiência ensinou ao advogado que não se deve julgar alguém apenas pela sua aparência ou posição social. O conhecimento e a sabedoria podem ser encontrados em qualquer lugar e em qualquer pessoa, independente da sua origem.
O advogado levou consigo essa lição de humildade e gratidão pelo resto da vida, lembrando-se sempre do dia em que o Jeca Tatu salvou a vida do seu filho. E, a partir daquele momento, passou a tratar todas as pessoas com respeito e dignidade, sem se importar por sua classe social.
Moral da história: por causa de sua veste, uma pessoa não moleste.
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