A MÃE
POR ROOSEVELT VIEIRA LEITE
As mães de Campos são dedicadas aos filhos e amorosas. Houve uma que vendeu sua rocinha para realizar o sonho do filho de ir à França. Outra doou um rim: “Se precisasse eu doaria os dois”. Disse a mulher com ar de felicidade. Mãe é mãe. Mas como Gedalva eu acho que nunca existiu. Gedalva teve seu filho Pedro no hospital de Campos. Ela sentiu as dores e quiseram levá-la para Lagarto onde as condições eram melhores, mas, a criança estava apressada para nascer. Pedro nasceu no hospital de Campos e passou mal. Tiveram de levá-lo para incubadeira e ali ele passou três dias. Gedalva ficou aflita e ansiosa para ver o filho. Quando Pedro chegou a alegria tomou de conta da mãe que orgulhosa mostrava o filho único para a família e amigos: “Este aqui vai ser doutor”. Dizia ela com muita ênfase.
A criação de Pedro foi cheia de altos e baixos. Por vezes ele ia para o hospital com a mãe com crise de asma. Outras vezes era a infecção no estomago que insistia em pegar o menino. Assim Gedalva levava a vida. Ela e o filho se tornaram andarilhos de hospital. Contudo a felicidade da mãe estava sempre estampada em sua face.
O tempo não perdoa. Ele passa e com ele as transformações aparecem. Pedro fez quatorze anos. Ele não era mais aquela criança que a mãe colocava no braço. Na escola Pedro se envolvia com brigas e confusões. Os professores reclamavam dele quase todo dia. A mãe o aconselhava, mas, o pequeno não a ouvia. Gedalva o levou para o psiquiatra que entendeu que Pedro tinha uma psicose que o fazia difícil nas relações sociais. Pedro passou a tomar medicação. Nos primeiros dias Pedro se acalmou. Gedalva ficou muito alegre em ver o filho lúcido. Mas depois que a medicação impregnou seu corpo ele voltou ao mesmo comportamento. Certo dia ele se envolve numa briga e quebra o nariz. A escola o conduziu ao hospital e chamou sua mãe. Gedalva ficava morta de vergonha, mas o amor pelo filho cobria tudo. Assim foi a adolescência de Pedro. Estudou em várias escolas e sempre com problemas com os colegas e professores.
Aos vinte e um anos Pedro chegou a sua casa com uma moto usada. Sua mãe ficou sem saber como ele a havia adquirido. E o chamou para uma conversa:
- Pedro, de quem é esta moto?
- É de um colega, mãe. Ele me deu para fazer negócio.
- Você pretende vendê-la?
- Sim, mãe. Quero fazer um bom negócio porque vou ganhar uma comissão. Gedalva se aquietou. Pouco tempo depois Pedro aparece com outra e assim foi com diversas motos. Pedro ganhou dinheiro e passou a negociar com carros. Em pouco tempo o rapaz estava rico. Pedro ficou rico em menos de três anos e sua mãe desconfiada entregava o filho a Deus. Pedro comprou casa e carro e estava namorando uma moça. Um ano depois se casou e foi morar na sua casa nova. Sua mãe se alegrava e ao mesmo tempo seu coração se assustava com o progresso suspeito do filho, pois o filho não trabalhava apenas negociava com carros e motos.
A esposa de Pedro engravidou. Ele ficou alegre coma vinda do filho. Gedalva agora seria avó. Gedalva muito alegre foi visitar a casa do filho. Quando ela chegou lá se espantou com a riqueza do filho e o chamou para uma conversa:
- Pedro, eu não entendo seu trabalho. Onde ele fica mesmo? Eu queria te fazer uma visita lá.
- Mãe, meu trabalho é em casa. Eu compro os carros e revendo.
- Mas, assim sem endereço, sem funcionário. Só você sozinho conquistou tudo isso? A casa de Pedro era coisa de cinema. Uma verdadeira mansão toda no acabamento de luxo.
- Mãe sou um homem de sorte. E os fregueses já me conhecem.
- Está bom filho. Não tem nada de errado, né?
- Que é isso mãe! Eu negocio certo.
Gedalva voltou tranquila para casa, todavia, no fundo de sua alma o amor de mãe dizia que seu filho estava numa fria: “Meu Deus, protege meu filho”.
Foi numa segunda-feira que a receita estadual veio a sua casa. Pedro foi levado para dar declarações. A receita queria saber como ele conquistou seu patrimônio. Pedro contratou advogado para lhe defender. Sua mãe adoeceu. Gedalva esperava coisa pior. Mas a investigação da receita pode ser só o começo. O escândalo passou e tudo voltou ao normal e Pedro ficava mais rico.
Pedro comprou uma moto importada. Andava se amostrando com a moto pela cidade de Campos. Um belo dia ele se acidenta. Sua mãe ficou apavorada. Passou uns dias com ele no hospital até ele se recuperar. Pedro viu a morte de perto. Sua mãe orava pelo filho todos os dias. Pedro continuava aquele menino que dava trabalho na escola. Agora era no casamento. Pedro deu uma surra na mulher e a expulsou de casa. Sua mãe ficou super preocupada com o filho e foi a sua casa saber da história:
- O que houve Pedro? O que foi que a moça fez?
- Ela é muito chata mãe. Implica com tudo comigo.
- Mas você a pôs para fora de casa. Isso não se faz.
- Eu sei mãe. Isso foi só um corretivo. Pedro chamou a mulher de volta. Como se não tivesse acontecido nada os dois tiveram uma segunda lua de mel.
O implacável tempo passou. Gedalva estava com sessenta e seis anos. O amor pelo filho agora era maior que antes. Gedalva ganhou um precatório do governo. Três milhões. Agora a amada mãe ia descansar os anos de trabalho. Todavia a coisa não foi assim. Pedro viu a possibilidade de ganha dinheiro com a franquia de uma geleia especial. Pediu a mãe o dinheiro e garantiu que ela teria parte nos lucros da empresa. Pedro comprou máquinas, contratou mão de obra e botou a coisa para andar. Em seis meses Pedro abandonou a empresa. Pedro estava com depressão. O negócio veio abaixo e Gedalva teve que arcar com as despesas. O dinheiro de Gedalva sumiu. Segundo ela, ela ficou mais pobre do que antes.
A policia chegou a casa de Gedalva. Eles procuravam Pedro. Ele estava sendo acusado de comprar e vender veículos roubados. Pedro era um intrujão. Pedro foi preso temporariamente. A mãe rezava todos os dias aguardando a decisão da justiça. Com o restinho do dinheiro do precatório contratou um bom advogado. Mas de nada adiantou. As provas contra Pedro eram abundantes. Pedro foi condenado a cinco anos de reclusão. Sua mãe ia toda semana na penitenciária. Levava comida e uma mensagem de conforto. A tristeza enfraqueceu o coração de Gedalva, No segundo ano de prisão do filho Gedalva faleceu. Pedro agora estava sem sua protetora. Diz sua esposa que ele mudou o comportamento...
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