Isabel, sentada, pasma de alegria e tristeza, brincava com as cartas do baralho que ganhara de seu avô.
Havia poucos dias que seu avô falecera e sua vida jamais seria a mesma. Não pelo apego, nem pelo amor que se espera, mas pelo susto.
Mais um alvoroço em sua vida. Depois de longos anos de esperança (de morte e vida), seu avô, numa calmaria que inveja qualquer defunto, passava daqui para lá...
Padres, mestres, pastores, todos eles tentavam dar sua palavra de conforto, mas Isabel simplesmente ouvia sem dar muita importância.
Acreditava sim em seu baralho de cinqüenta e duas cartas. Acreditava nele e nos reis, nas damas, nos oitos, nos quatros, e etc.
E justamente nesse baralho organizado e par, havia uma peça que a intrigava. Uma peça ímpar. Uma carta que dava as caras quando queria, fazendo o que bem entendia. E essa carta, assim como sua vida, era o curinga.
E foi com esse baralho que Isabel viveu sua maior descoberta. Enquanto conversava e brincava de paciência na varanda de sua casa, ela ouviu: "Olhe para mim..."
No susto, Isabel levantou seus olhos para onde nada havia além de um espelho e sua eternidade absurda e incompreensível. E o reflexo era indescritível, justamente, ela viu aquilo que jamais imaginaria.