Estava, como de costume, sentado à porta do templo o mendigo cego, aguardando a saída dos fiéis. Que, ao final do Sermão das seis da tarde, costumam demonstrar, em toda a plenitude, seu lado mais misericordioso, através de esmolas aos menos favorecidos.
Todos os dias, determinado bom samaritano abastado aproximava-se do pobre mendigo, depositando uma moeda em sua latinha.
O infeliz cego agradecia sempre, humildemente, a doação e - quando percebia ser bastante seguro para não ser notado - jogava fora a moedinha. Bem longe, para que nunca mais pudesse alcançar. Bravejando contra o avarento milionário, que apenas uma insignificante moeda novamente lhe dava.
Com o passar de um ano, o rico fiel - curioso em saber sobre o ceguinho - indagou-lhe qual fim dara aos seus "valiosos donativos".
- "Ora", respondeu o Pedinte, "mas afinal o que poderia eu fazer com uma simples moedinha, a não ser me desfazer rapidamente dela, para ninguém notar quanto envergonhado fico com tamanha humilhação?"
O bom cristão veio, então, com uma inesperada lição, que muito fez o mendigo conscientizar-se de sua grande ignorância:
- "Se tiveste guardado cada moedinha de ouro que te dei, hoje terias um quilo do mais puro ouro, para pagar uma operação que te devolveria a visão."