Não sabe a minha grande emoção quando o vi. Pequeno, claro e fino, arranquei com paixão para admira-lo horas sob a luz da lâmpada. De repente, toda minha existência se resumiu ali, naquele simples fio da cabelo branco. Sempre ansiamos por crescer e aquele fio era a prova mais completa de que, o tempo existe. O tempo existe, em iguais proporções aos outros já é outra questão. Mas em sua medida , ou de acordo com a medida de cada um, ele existe. Como Machado de Assis disse; ele é um verme pronto a corroer e a curar. Penso que como verme, destrói a carne, contudo, já recompõe em pó se transformando na terra, ou ser a própria terra, para dar vida e sustentar outras vidas. Assim é ele, o tempo, nos desfazendo e nos refazendo em fios sem textura, ou com a textura de ser um fio, branco.
Nesse tempo, ele fio, está em minhas mãos a ser examinado, cheirado, aludido. Em pouco descobri o quanto esperei o pequeno, quanto representava em face de toda uma trajetória de vivências e ilusões. Numa idéia, minha mente tomou o fio como parte real da existência. Estava ali, na palma da mão, grudado na pele, transformando - se na própria carne, dando respiração a ela. Todo o meu corpo ganha a aparência fina, a cor branca, a representação do tempo. Sou um fio branco, nem maior e nem menor e nem mais importante que os outros fios. Apenas um fio branco, cresci numa terra predestinado a observar e a mostrar me como o verme, a sentir a passagem sendo algo que não passa. Não passo e a tendência é a multiplicação. No suor da matéria serei o espírito e o reflexo do verme. Ganho um rosto, uma voz, pernas e mãos. Um fio humano. No meu rosto encaro a forma indefinida. Minha voz babulcia sons insultáveis. Minha mãos e pernas não se abraçam e nem abraçam. Mas não incomodo mais do que aquele tempo.
Volto a ser carne quando me exponho ao espelho. Enquanto o fio, ele já é parte de minhas minha e líquido, sólido e gás das minhas unhas. Nunca mais deixarei o, será como eterna companhia. Não sei como o levarei, talvez amarrado em meus dedos. Não, o melhor é engoli – lo, assim se recomporá ao meu corpo. Entretanto, é provável que o também elimine. Passarei o resto do meu tempo a pensar a melhor forma de Ter eternamente aquela parte. Quando descobrir , serei então algo definido e inteiro. Até o dia, serei metade, parte de alguma coisa a espera da unidade. Pequeno não mais, ao contrário, era grande e forte. Branco? Sua aparência ficou sendo colorida de cores animadas e inováveis para os olhos acostumados a esta dimensão. Fio por fio, buscarei a complete, o ser em tempos não medidos e do miúdo inexplorado, a leveza sem alma.
Sorri para o fio, logo seremos o que nascemos para ser. Não importa o tempo que passar, pois marcamos o caminho. Você, agoira em minhas mãos me diz o quanto existo para ti e o quanto tu existe para mm. Por ser o primeiro, por ser o único, por já está tempos no meu planejamento material a vir, és parte de meu espírito. Não deveria te- lo arrancado, mas como sabe-lo vir senão depois de faze-lo? Aconteceu e não tem mais volta. As horas se desfazem ao som do verme e logo eu e você, estaremos no concerto final. Logo estaremos juntos para os tempos. Mas você, meu amigo, não será comido pelos instrumentos, não precisará ouvir a música apocalíptica e mesmo nos meus últimos momentos como forma junto, não precisará se submeter a última ópera. Você viverá e será eterno. Talvez se lembre de como nasceu e para quê, assim, ficarei nos resquícios de sua existência. Não será mais o marcador de uma vivência e sim, eu, uma marca do seu existir e dos eu formar. Branco, fino e pequeno.
Súbito, uma rajada de vento entra pela janela e me surpreende. O meu existir é levado afora com a poeira e tão pó acaba de ser tornar como um dia serei. O meu tempo se embaraça todo e volto a noção dos minutos sem a eternidade daquele instante. Volto a simplicidade do que eu era, do que deixei de ser por um instante, antes do fio. Tenho um ímpeto de correr a sua procura e de ficar em sua busca, pois, não suportarei a ignorância como se nunca o tivesse conhecido. Minha mente tranqüiliza o meu interior, quando reconheço e redescubro meu corpo. Ele só tem 20 anos e muitos fios brancos a nascer. Respiro.