O SOL NEGRO.
Acordei assustado. Um barulho ensurdecedor, muito, mais muito perto do silêncio total, caiu sobre mim. Havia sonhado com uma lagoa que freqüentava na infância. Um recanto paradisíaco, com árvores, frutas silvestres, garotas e garotos seminus, tardes inteiras de puro frescor e prazer. Uma lagoa encantadora, tranqüila e límpida. Só que, no sonho, aquele espelho de água doce se transformava num mar agitado, que me engolia, me levava para o abismo mais profundo e insondável. Por esse motivo acordei com falta de ar. Não conseguia respirar.
Desde a janela assisti acontecimentos incríveis. A cidade tinha desaparecido, o sol era preto, o céu estava totalmente escuro, um vapor inexplicável brotava da terra, árvores esquisitas movimentavam-se como se fossem animais. Eu pressentia monstros ocultos nas sombras. Um raio pálido iluminou um canto daquela realidade insólita: algo aproximava-se da minha janela. Era qualquer coisa enorme, uma sombra úmida e pegajosa, uma bolha enorme de puro medo. Comecei a rezar do jeito que minha mãe me ensinou no passado; uma oração especial para afastar pesadelos e abrir nossos olhos, era uma prece mágica que devolvia os apavorados a uma realidade mais amena.
Mas não funcionou: a boca enorme do estranho monstro abriu-se sobre minha cabeça, enquanto eu rezava sem parar e gritava que queria acordar.
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