PLENILUNIO
Glória, com um gesto de puro aborrecimento, pulou da cama e, nua, entrou no banheiro. Pela janela entreaberta podia ver um pedaço do morro, iluminado pela lua cheia.
Glória estava aborrecida e eu sabia muito bem porque. Nossa relação estava cada vez mais complicada. Parecia que o mundo e todos seus problemas tinham desabado sobre nós. Fazer amor, mais que um prazer era um ato quase doloroso, um encontro de desesperos. Solidão chocando-se contra outra solidão. Não estávamos compartilhando nada, simplesmente tentando encontrar-nos no fundo de um abismo insondável. Gestos mecânicos e calculados, sussurros fingidos e gritos ensaiados.
Ela estava tomando banho. Pelas cortinas transparentes a luz lunar derramava-se voluptuosamente. Comecei um jogo: pensei com muita força, com muita fé, que tudo mudaria, que o cheiro do dormitório era outro, que o perfume da mulher era diferente, que suas caricias eram mais agressivas e sensuais, que ela era outra.
Sempre me falaram que o pensamento tudo pode, que nossa energia mental pode transformar o mundo. Me doía o pensamento de tanto desejar uma mudança, uma transformação fantástica.
O barulho do chuveiro parou de repente. Senti o roçar da toalha sobre o corpo feminino, escutei um suspiro, o zunir do secador de cabelos, o silêncio.
Olhei para a porta do banheiro, que já estava abrindo. Me incorporei, ansioso, e fiquei esperando.
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