Uma goiaba bichada. É isto: uma goiaba bichada. Meu coração é uma goiaba bichada.
Não falo do coração sentimento cantado pelos poetas, mas do músculo com aurículas e ventrículos contido em nossa cavidade toráxica.
Levo a cabeça ao travesseiro. Faço-o lentamente, pois a energia que me restou não permite movimentos bruscos.
Gostaria de abrir a janela e deixar entrar o vento e a luz do sol, mas as pernas não me obedecem mais.
Tento chamar alguém, mas apenas um sussurro, um inaudível sussurro, sai de minha garganta.
Uma enfermeira entra no quarto. É jovem e cheia de vida. O contorno de seus quadris é revelado sobre seu uniforme branco, graças ao cinto que lhe estrangula a cintura.
Estranha é a energia que ainda sinto ao ver a bela mulher. Não no corpo quase inerte, gasto e maltratado, mas na mente, fogosa como se estivesse na aurora da vida.
Faz-me bem a alegria da morena, que troca com mestria o soro ligado às minhas veias. Sem perda de tempo, me vira e descobre, deixando à mostra minhas pálidas nádegas, alvo da agulha inclemente de uma injeção.
Abrir a janela? De jeito nenhum. A corrente de ar pode trazer uma pneumonia.
Vejo-me só novamente. Deploro, então, as braçadas não dadas, a ranzinzice, as constantes reclamações contra a vida e o próximo, os inúmeros "nãos" ditos ou acatados.
Agora, contudo, nada mais pode ser feito. O passado é imutável, e indestrutível também.