Usina de Letras
Usina de Letras
24 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 


Artigos ( 63224 )
Cartas ( 21349)
Contos (13301)
Cordel (10360)
Crônicas (22579)
Discursos (3248)
Ensaios - (10676)
Erótico (13592)
Frases (51739)
Humor (20177)
Infantil (5602)
Infanto Juvenil (4944)
Letras de Música (5465)
Peça de Teatro (1387)
Poesias (141306)
Redação (3357)
Roteiro de Filme ou Novela (1065)
Teses / Monologos (2442)
Textos Jurídicos (1966)
Textos Religiosos/Sermões (6355)

 

LEGENDAS
( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )
( ! )- Texto com Comentários

 

Nossa Proposta
Nota Legal
Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Quando o Odio Fala Mais Alto -- 12/10/2001 - 18:07 (Kesianne Christine de Oliveira Marinho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ainda me lembro bem de como tudo começou, estávamos no dia dezessete de novembro do ano dois mil e um, quando a última gota foi derramada no enorme oceano de rancor que habitava meu interior. Eu contava com quinze anos na época.
Era preciso ir na casa de minha amiga Letícia, precisávamos conversar, encontrar o consolo que só ela e o Leandro podiam me dar.
Cheguei da escola, arrumei minhas coisas, me arrumei.
_Pai, tô indo na casa da Letícia
_Não, Lí, hoje você vai ficar em casa.
Não me conformava quando minha mãe começava a se intrometer nas minhas conversas com meu pai, e quando ela começava a me dar ordens
_Eu disse que quero ir na casa da minha amiga, e estou indo.
_Mas o que você vai fazer lá, Lídia? – meu pai perguntou.
_Quero conversar com ela, afinal ela é minha amiga, e aconteceram algumas coisas que quero que ela saiba, e eu preciso vê-la.
Minha mãe já tinha saído da sala, então eu pude tentar convencer meu pai.
_Ah pai, nós somos amigas, e ela me convidou para ir lá, e faz tempo que eu não a vejo, e ela é a irmã do meu namorado que vocês tanto adora, ao final das contas!!
_Não, hoje você não vai... quero que fique em casa.
_Por que só a vontade de vocês é que conta, heim? Por que nessa casa eu nunca tenho vez, nem voz?
_Nós vivemos em família, filha. Hoje é o único dia que você vem ficar em casa conosco, e por isso quero que fique em casa.
_Que diferença vai fazer se eu ficar aqui e se eu ir na casa da minha amiga? Saiba que se não me deixar ir, vai ser como se eu tivesse lá, porque não vou fazer nada, somente me trancar em meu quarto.
_A diferença não sei, mas hoje você vai ficar em casa, mocinha! Afinal, por que você tem tanto horror em ficar em casa? Está sempre na escola, nunca quer vir...
_Porque eu odeio essa casa! Odeio estar aqui!! Aqui é o pior local do mundo, é o local onde eu me sinto mais mal!! Toda a felicidade que eu tenho na escola, me falta em casa. Odeio esse lugar!! Odeio!!
Saí quase correndo, entrei em meu quarto, bati a porta e a tranquei.
Deixei meu corpo cair sobre a cama, e as lágrimas rolavam numa enxurrada sem fim. Meu coração transbordava ódio, e em poucos minutos meu travesseiro se viu inundado.
Peguei o celular, liguei para Letícia:
_Alô? Lê, é a Lídia.
_Oi, amiga. Estou te esperando, não vai mais vir?
_meu pai brigou comigo, não deixou, estou com muita raiva, não paro de chorar um minuto. Estou com um ódio muito grande.
_Calma, amiga. Você está nervosa. O que você pretende fazer?
_Não sei. Melhor dizendo, até acho que sei o que vou fazer, mas é melhor eu não contar pra ninguém, pois pode ser uma decisão precipitada. Mas não se preocupe, qualquer coisa, eu te ligo. Aí você conta tudo pro Leandro.
_Pode deixar, mas vê se num vai se arrepender depois...
_Beijinhos, amiga. Fala pro Leandro que eu o amo e mais nada importa.
_Tudo bem, eu falo. Me liga! Tchau.
Desliguei o telefone. Senti que meus olhos estavam em chamas, e a minha raiva aumentava cada vez mais. A primeira coisa que fiz foi arrumar meus CD’s e colocá-los em minha bolsa.
Já havia algum tempo que aquela fuga estava sendo planejada. Eu já havia vendido meu rádio, disck-man, jóias, relógio e alguns objetos que aos poucos e misteriosamente iam sumindo de minha casa.
Com a desculpa de que iria ensaiar, eu já havia levado minha guitarra e toda aparelhagem para a casa da Letícia.
Eu contava com uma boa quantidade de dinheiro, pois eu estava fazendo economia, e com os objetos vendidos, a soma já estava grande.
Eu namorava o Leandro havia quase um ano e a Letícia era uma grande amiga. Os dois eram irmãos. Foi muito difícil de aceitar quando eles me deram a notícia de que iriam se mudar para São Paulo. O convite do Leandro foi totalmente irrecusável:
_Lí, você sabe que eu te amo, e que eu estaria vibrando de alegria em ir para Sampa, se não fosse uma coisa, eu terei que deixar você para trás... Eu não quero que fique! Não quero te perder!
_Eu sei que ir para Sampa é mesmo seu sonho, e eu respeito, mas mesmo assim eu não quero que vá. Tipo, eu te amo pacas!
_Vem comigo, gata! Eu te amo, vamos ser livres! Eu sei que você num curte muito a sua casa. Mas minha família sim te curte pacas! Meus pais vão cuidar de você como se fosse uma filha, melhor dizendo, como uma nora. Você é a melhor amiga da minha irmã. Você vai curte morar comigo, gata! Eu sei que vai, e nunca mais vai querer voltar para esse fim de mundo!
_Não sei, cara. Tipo eu te amo, muito!! Prometo que vou pensar muito no assunto, e tipo pode ter certeza que eu estou querendo ir!
Ele me beijou, não precisou mais nada, no fundo eu já havia aceitado o convite.
Foi aí que eu começara a vender algumas coisas, e comprara escondido o celular, para as conversas com a Letícia e o Leandro ficarem mais reservadas e seguras.
Anoiteceu, eu já tinha arrumado todas as minhas coisas que ainda sobraram, roupas, calçados e os CD’s. Liguei para a Letícia.
_Alô? Lê, tô indo, decidi de uma vez por todas que vou mesmo com vocês.
_Que bom, Li! O caminhão de mudanças está aqui. O Leandro tinha certeza que você iria aceitar o convite e já mandou carregar a sua guitarra e os equipamentos. Ele disse que foi te buscar, daqui a pouco ele está aí. Partiremos amanhã bem cedo.
_Tudo bem então, amiga. Até daqui a pouquinho!
Escutei um assobio, era o Leandro. Escrevi um bilhete e deixei na minha cama: “Odeio essa vida, odeio essa casa. Parti para outra, não me esperem para o jantar! Nunca mais...!”
Joguei minhas coisas por cima do muro. Pulei o portão. Leandro desceu da moto para me ajudar, me abraçou, me beijou:
_Eu te amo! Sabia que você não iria me decepcionar!! Vamos ficar a vida inteira juntos, meu amor!!! E livres, o que é o mais importante!
Subi na moto. A única coisa que pensava era em como ia ser a minha nova vida. Não olhei um momento se quer para trás.
Desapareci pela rua com o Leandro e nunca mais tive notícias de meus pais.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui