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Contos-->Na Cabine do Avião... -- 18/10/2001 - 19:27 (menina pontilhada) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sinto o manche do avião tremendo sob meus braços de ferro. Como um cavalo arisco prestes a me lancar ao solo, o avião corcoveia ante a turbulencia do voo de baixa altitde. Ouço o grito estridente das turbinas em aceleração como o berro de milhões de maritacas desvairadas e desafinadas misturado ao grito de desespero dos passageiros do voo ante a visão crescente das torres, para onde me dirijo a toda velocidade.
Formigas de prazer percorrem minha espinha e o fogo da ansiosidade queima em minhas visceras sinto vontade de gritar, não de medo, mas de prazer. Minha voz se eleva sobre o turbilhão - Allah hu Acbar! - Deus seja louvado! Meus companheiros respondem com um grito agudo e entrecortado, em sinal de aprovação.
A anos estava engasgado com os Infiéis... eles estavam por toda a parte... rastejando como vermes... praticando suas iniquidades... apesar do nojo que sentia, convivi com eles, aturei-os por anos... mas o tempo do arrependimento se esgotou, e a espada de Allah cairá sobre eles com todo impeto. Há anos vinha me preparando para este momento, aguardando com ansiosidade pelo grande dia.
Hoje pela manhã, encontrei-me com meus parceiros no aeroporto em Nova York. Como o combinado, portava escondido a minha pequena faca, que seria util, posteriormente. Passamos com tranquilidade pelos detectores, não fomos revistados como deveriamos. Entramos no avião, com destino a Los Angeles. Haviamos feito este percurso varias vezes, mas hoje, a viagem será outra. O avião decolou, o piloto estabilizou o curso como de costume. O avião está no ar a cinco minutos, dei o sinal para meus companheiros que imediatamente levantaram-se de suas confortaveis poltronas, puxaram suas facas e estiletes e tomaram de assalto a tripulação... Anunciei o sequestro.
Agora estou assentado no lugar do piloto e um de meus companheiro no lugar do co-piloto. Os outros tomam conta da tripulação e dos passageiros, devidamente confinados na terceira classe, e garantem que de lá, não sairá nenhum herói vivo. A eles não contamos seu destino... saberão na hora apropriada.
Desde quando era jovem, o ódio aos Infiéis me foi insulflado. Me lembro dos tiros de metralhadora que ceifaram a vida de meus parentes, das inumeras pedras que atirei em seus tanques durante toda minha infancia, e do olhar frio dos soldados enquanto revidavam com balas. Lembro-me dos caixões cobertos pela bandeira verde sendo carregados pela multidão, tendo em seu bojo, o corpo de mais uma vitima dos Infiéis, mais um Martir na luta pela nossa terra. Desde aquele tempo jurei que não descansaria enquanto a Espada não se abatesse sobre os infiéis, por isso, ainda jovem me alistei em uma organização inimiga deles, que tinha por intuito vingar o sangue islamico derramado em nome dos interesses dos Infiéis, o Al Qaeda. Fui destacado para esta missão, escolhido para ter a honra de morrer por Allah, e receber as dadivas do outro mundo. Por isso me mudei para os Estados Unidos, e ai, me preparei por anos, estudei incessavelmente e diligentemente as tecnicas de pilotagem, fiz um curso de artes marciais, que poderiam ser uteis no sequestro do avião. Vivia em meio aos Infiéis como se fosse um deles, mas, no fundo, eu, Allah e meus companheiros sabiam que eu não era um deles, tinha asco deles, mas sempre forjava um sorriso quando me cumprimentavam. Aprendi a sua lingua odiosa e morava em suas residencia ao seu modo. Pouco unidos os infiéis... pouco falam, pouco perguntam, vivem sozinhos em meio a multidão, e, em grande parte isso facilitou o meu trabalho, mas sempre forjava um sorriso quando eles me cumprimentavam. Quem haveria de suspeitar de mim?
Na ultima noite, me despedi ao seu modo, nos divertimos muito, e provamos de todos os prazeres deste mundo, pois nunca mais haveriamos de faze-lo novamente.
Agora a torre encobria todo o ceu. O fogo da ansiosidade que queimava em minhas visceras ardia com mais intensidade. Formigas corriam pela minha espinha levando-me ao orgasmo. O momento que se seguiu pareceu durar uma eternidade. Vejo a torre crescer diante de meus olhos, agora já é possivel ver detalhes das janelas. Posso ver claramente atravez delas agora, vejo uma sala de reunião lotada, pessoas sentadas em uma cadeira olhando assustadas antes de, por reflexo inutilmente tentarem se proteger colocando as mãos diante do rosto. Toda a minha vida passa diante de meus olhos agora, vejo as pedras sendo atiradas contra os tanques, ouço os tiros de metralhadoras, vejo as bandeiras verdes cobrindo os caixões em procissão pela rua, sendo carregados pela população insulflada, vejo o vermelho do fogo consumindo a bandeira norteamericana. Vejo o quadro negro e as aulas de pilotagem nos Estados Unidos, as aulas de artes marciais, as noites solitarias no condominio. Vejo agora a nossa ultima reunião no hotel, as decisões finais, os ultimos acertos, vejo tambem a minha ultima noite, me recordo do rosto da prostituta, do gosto da cerveja, da gritaria no bar. Me recordo agora do aeroporto, do sequestro, do voo, e finalmente chego ao momento atual. Sinto um baque terrivel em meu corpo e em minha mente. Subitamente minha visão se cobriu de ebano, e o som do tumulto ao meu silenciou-se. Não sei dizer se passaram segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, milenios. Não penso em nada, não sei de nada, não me lembro de nada, não sou mais nada e não sei se isso é bom ou ruim, não sei mais o que é bom ou ruim. Acho que esta é a recompensa de Allah.
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