Já era tarde quando arregalei os olhos, a cortina do quarto estava meio aberta, o teto rodava como se fosse uma roda gigante, minha cabeça doía sem parar. Puxa! Que horas serão? Será que o café está pronto? Acho que não! Eu vou olhar, mas, primeiro, preciso banhar-me, escovar os dentes, pentear o cabelo, passar um perfume e vestir uma roupa, porque esta já está suja.
Quando saí do quarto rumo ao banheiro, avistei o corredor que levava à sala, mais parecia uma avenida, ou melhor, parecia uma estrada sem fim, àquela distância...Já não quero mais olhar o corredor; voltei-me para o banheiro, a água estava escorrendo preguiçosamente embaixo dos meus pés; alguém havia banhado e não enxugou o banheiro, eu detesto quem faz isto, a gente se sente mal, o humor se desgoverna, a preguiça do corpo cresce espantosamente; eu não vou enxugar o banheiro, quem fez isto pode vir tratar de limpar, ou melhor, enxugar, lógico, depois que eu banhar, é claro! Eu só não vou enxugar o banheiro depois que eu banhar porque não fui eu que o deixou assim...
Finalmente consegui tirar o resto da roupa que cobria meu corpo, e na ponta dos pés fui até a ducha. Quando liguei a ducha, a água nem se manifestou, tentei novamente, novamente a água nem sequer pingou, tentei o registro do banheiro, aquela água toda no piso poderia ser um vazamento e alguém poderia ter fechado o registro para conter o vazamento, mas o registro estava aberto. Minha mãe! A água acabou! Será que ninguém pagou a conta? Mas meu pai mandou pagar a conta. Quem foi que cometeu tamanha brutalidade com meu pai, ou melhor, comigo. E eu, que estou aqui nesta situação, nu, de corpo presente, sem uma gota d’água, a não ser a que escorre rumo ao ralo onde os meus pés inquietosamente se mexem. Já não quero mais banhar, vou vestir a roupa limpa assim mesmo.