Em memória de
todos aqueles que não sonham mais
ou que ainda têm dúvidas.
Non Solum in Memoriam sed in Intentionem
Eis que vos digo um mistério:
Não morreremos todos,
Mas todos seremos mudados.
(Coríntios; 15, 51)
Não pertence a vós saber os Tempos nem os
Momentos que Deus reservou ao seu poder.
(Atos; 1, 7)
Quando este corpo mortal se revestir da
Imortalidade, então se cumprirá a palavra que
está escrita: “Tragada foi a morte na vitória”.
(Coríntios; 15, 54)
Prólogo
O avião mal tinha pousado no aeroporto internacional de Israel e eu já havia tomado um táxi até Jerusalém. Solicitei que me deixasse o mais próximo possível da “Porta Nova” que dá acesso ao centro antigo através do bairro cristão. Minutos depois eu já corria pelas ruas de Jerusalém, desviando das pessoas como um louco.
A “Cidade Velha”, como era chamado o centro atual de Jerusalém, estava repleta de devotos, comerciantes e turistas de todas as nacionalidades, procedências e credos.
Corria como um mago, em direção ao meu destino final: a Rocha Sagrada do Templo de Salomão.
Desde o primeiro instante que pousei em Israel e vi as típicas paisagens da Palestina, comecei a ter lembranças e fragmentos de recordações. Atualmente já controlava estas sensações, e então não dei muita atenção a elas. Mas agora, atravessando as ruas estreitas e apinhadas da Cidade Velha, os sentimentos e lembranças começaram a ficar fortes e cada vez mais nítidos e claros.
Atravessei parte do bairro judaico e alcancei o Templo. As recordações eram cada vez maiores e mais vivas.
Haviam muitos devotos em volta da Pedra e demorei uma eternidade para chegar próximo da Rocha Sagrada.
Mais uma vez, como em várias outras ocasiões, começava a sentir aquele mal-estar e enfraquecimento típico, misturado com a ansiedade e as fortes emoções comuns durante o “Esclarecimento”. Tinha certeza que definitivamente o “Ponto de Encontro Final” estava na Rocha Sagrada.
Já quase sem forças, com o coração disparado, me aproximei o suficiente para quase tocá-la, mas relutei, temeroso. O que me seria revelado desta vez? Seria este o Ponto de Encontro Final, isto é, onde tudo começou? Com quem teria convivido?
Novamente, uma torrente de dúvidas e ansiedades me arrebatava, permeadas por fortes sensações e emoções, misto de medo e curiosidade. A multidão empurrava e eu me sentia uma gota nesse mar de pessoas e dúvidas.
Suando e quase chorando, ergui as mãos como se fosse agarrar algo no ar e me preparei para o choque final. Muito próximo da Rocha, ainda não tinha coragem de tocá-la. As sensações e lembranças agora eram cada vez maiores e confusas. Necessitava organizá-las, rapidamente, senão enlouqueceria. Eu precisava achar o “Ponto de Encontro” para essas recordações. O início de tudo e o fim de minha busca. Desesperado, confuso e entorpecido pela enxurrada de sentimentos, ajoelhei-me e ainda com as mãos erguidas em forma de garras, comecei a chorar, ao lado da Rocha.
Naquela posição, as cenas se tornavam cada segundo mais presentes. Vi várias “Imagens Antigas”. Vi um homem barbado, em trajes antigos, que falava comigo e dizia: “... o vento sopra onde quer”. A imagem se tornava fugidia sem o toque na pedra. O homem de barba parecia dizer: “... nós só dizemos o que sabemos” As recordações faziam minha cabeça parecer que ia explodir. “...Só damos testemunho do que vimos“. Num ímpeto final, ergui as mãos em direção a Pedra e os olhos para o chão, e soltei um grito, misto de dor e libertação. “... sempre te lembrarás disso, de agora em diante”.
E toquei, com as duas mãos, a Rocha Sagrada!
Um turbilhão de imagens, lembranças, cenas e recordações me atingiram, como um raio. Após alguns segundos, caí desacordado entre a multidão.