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Contos-->Promoção de aniversário -- 18/04/2000 - 00:45 (Ricardo Borges) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Antônio José sentou-se na cama e bocejou alto. Esfregou os olhos e procurou o relógio de pulso entre o amontoado de roupas no chão. Onze e meia!
Era sábado. Nada de trabalho maçante: repartição abafada, chefe arrogante, horas mortas. O dia era todo seu e o que é melhor, era seu aniversário. Trinta e sete anos. Olhou-se no espelho do banheiro. “Trinta e sete anos, trin-ta-e-se-te-a-nos!”. Seu corpo já não era o mesmo: olheiras fundas, barriga flácida, os cabelos rareando. Mas não se importava, não era vaidoso, nunca teve grandes ambições: mulheres, dinheiro, fama, carreira. Sentia-se realizado no novo apartamento, que apesar de mínimo e alugado, era bem melhor que a quitinete. “Tenho que me apressar. Não posso perder tempo”, falou animado, enquanto preparava o café.
Antônio não tinha amigos, parentes próximos; não receberia telefonemas ou telegramas o felicitando pela data. Mas estava feliz, pois iria ganhar os seus aguardados presentes: as promoções do comércio para os clientes que aniversariam.
Correu para o quarto, vestiu-se e planejou o roteiro do dia. Primeiro, a locadora. Uma locação gratuita, uma fita à escolha. Pegaria um filme de ação ou uma comédia? “Tanto faz, o videocassete está quebrado mesmo”, lembrou-se frustrado. Depois almoçaria na pizzaria de sempre; uma pizza mini e sem gosto, mas de graça. Mais tarde iria ao parque de diversões, que também tinha promoção: entraria sem pagar nada. Em seguida, à farmácia, para comprar remédio contra enjôo - com preço promocional. Para fechar o dia, voltaria de táxi para casa; com desconto, é claro. Pelo menos uma vez no ano se sentiria alguém especial, amado e lembrado por todos. Mesmo que fosse simples marketing das empresas.
Ele saiu de casa correndo, para não deixar de ganhar o chaveiro de plástico; brinde de uma papelaria, que fecha ao meio-dia. Pobre Antônio José, não viu o caminhão no cruzamento da rua. Seu corpo voou metros de distância. Foi levado, milagrosamente, ainda com vida para o pronto-socorro. Na mesa de operação, com muita dificuldade, conseguiu balbuciar ao médico: “Doutor, por favor... se eu morrer, ligue para a funerária Boa Viagem. O enterro será de graça... Hoje é meu aniversário”.
Horas depois, Antônio José faleceu. Na lápide, a homenagem do dono da funerária: “Aqui jaz um homem que aproveitou o que a vida tinha a oferecer”.


Ricardo Borges
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