Quando a aeromoça pediu que apertasse o cinto, pois estaríamos pousando, dentro de mais alguns minutos no De Gaule, é que realmente pensei em que fria eu estaria me metendo...
A menos de 2 dias antes, recebí um estranho telefonema que me colocaria nesta “aventura”. Minha secretária me passou uma ligação dizendo que era “alguém falando francês e espanhol, mas não estou entendendo bem... é sobre um parente ou amigo seu...”. Atendi eu mesmo. Meu francês é péssimo. Sugeri que a pessoa falasse em inglês... pois o espanhol dela era péssimo. Meu interlocutor, percebendo nossa dificuldade mútua de comunicação, chamou alguém que falasse inglês.
— Gostaria de falar com o Sr. Angel, por favor.
— É o Sr. Angel falando – respondi.
— Sr. Angel, aqui é do Hospital de Paris. Está internado aqui o Sr. Fernando Campos, que nos passou seu nome para contato. Quero lhe adiantar que o Sr. Fernando passa bem, estando atualmente em observação.
— Posso falar com ele? – perguntei.
— No momento não, pois está dormindo. Ele apenas nos pediu que o senhor venha para cá e não avise nada para a esposa dele. É só o que disse.
Fiz várias perguntas, mas a pessoa me informou ser uma enfermeira que não sabia absolutamente de mais nada, nem mesmo o que ele tinha. Confuso, anotei o endereço do hospital, o número do quarto e o telefone.
Fiquei horas tentando imaginar o que poderia ter acontecido, e por que ele queria que fosse encontrá-lo. Por que não desejava que nem a esposa soubesse? Provavelmente era algo grave e sério. Esse tipo de comportamento não era nada típico do Campos.
Lembro-me quando o conhecí.
Após um dos maiores dilemas da minha vida – pelo menos até o momento – resolvi ir encontrar meu amigo, da maneira como ele pediu. Desde o momento que recebi a ligação, tentei por várias outras vezes me comunicar com ele e as respostas eram sempre as mesmas: “não pode lhe atender no momento, está em repouso”. Solicitei todos os preparativos para a viagem, sem saber nada a respeito, nem mesmo a duração de minha estadia em Paris. De qualquer maneira, não poderia permanecer mais que uma semana, devido aos meus negócios.
Horas antes de embarcar, tentei novamente falar com ele, sem sucesso. Do aeroporto, não me contive e liguei para a esposa dele, disfarçando o que sabia, e tentando descobrir o que ela sabia. Que situação ridícula!
— Olá Angel, quanto tempo, voce sumiu.
— Estou trabalhando, como sempre. E o Fernando? – perguntei com a maior cara-de-pau.
— Ele está viajando, foi a Israel, à trabalho.
— Israel?!? – agora é que eu não estava entendendo mais nada – E como ele está, tem falado com ele?
— Está bem, ele me liga quase todo dia. Se bem que não me liga já fazem uns dois dias. A última vez disse que estava num hotel tão ruim que nem telefone eles tinham. Você sabe como ele é. Mas está tudo bem.
— Ok. Manda um abraço prá ele.
— Mando sim, e lembranças para a Natalie.
— Obrigado – respondi desligando.
Meu Deus, ela não estava mesmo sabendo de nada! E o que ele foi fazer em Israel? E o que havia acontecido para estar num hospital de Paris?
O quadro de embarques de Cumbica anunciou o número do meu vôo. Dirigi-me ao portão de embarque como um zumbi, tentando imaginar o que estaria acontecendo.
