Nasceu uma criança no jardim de Imaculada. Nos maravilhamos.
Depois fiquei transtornado de matéria, juros, orçamentos financeiros que tiravam-me o sono. Daí fiz um barco de papel, e o toque sutil de meus dedos o levou para longe.
Ela reclamou, fez greve de amor, ficava debruçada sobre a mesa negando sua esterilidade ao remexer a comida, eu me trancava no banheiro e fumava...
Foi um tempo crú, fiz birra, implorava para esquecer, virava copos, mas mesmo embriagado, quando o jardim me chamava, eu ia. Chorava até que o maxilar me anestesia-se de dor.
Um dia, já pensando que tudo era convencional, ouvi algo:
– Ei moço.
Olhei e nada. Atenuaram-se minhas lembranças, virei em passos largos e continuei caminhando.
De repente, parei. Que estranho!
Ouvi nitidamente meu coração dizendo: - vire-se.
Virei e vi aquele menino de bochechas sujas, com uma flanela na mão. Esse menino mudaria nossa vida. Me faria conhecer os parques da cidade, tomar sorvete e comer toda a casquinha, brincar de batalha naval, contar estórias, ouvir beijos de alegria nos olhos de Imaculada...enfim, me tornei Pai.
Só hoje consigo entender como durante todos aqueles anos continuei voltando naquele mesmo jardim: é que votos não se perdem pelo mar.