Uma palestra proferida pelo renomado escritor, Cardeal-arcebispo
de São Paulo. D.Paulo Evaristo Arns, no Instituto de Estudos
Avançados da Universidade de Saõ Paulo.-USP. No mês de
setembro de1995, no qual estava presente à convite. Levou-me a
algumas reflexões sobre o modo de produção Literária no Brasil
durante o século passado. Eu, particularmente, tenho meus periodos
de inspiração literária, conheço outros que trabalham ininterruptamente,
ou seja, além de cada um possuir suas formas próprias de
trabalhos, possuem suas tendências, estilos, etc... Um ponto é
comum a todos, a mente deve estar livre para se produzir. Mas o
fato deve estar se desprendendo de dentro do escritor, algo que
vai agradar a você mesmo e principalmente ao outro, o leitor. De
forma sutil e necessária, como gesto de quem está apaixonado e
vive com a arte das palavras, como o artista plástico que trabalha
sua escultura, sua tela, sem perder de vista o que acontece na
sociedade como todo. Você sabe por que? Imagino o escritor, ou
o produtor Literário, inserido dentro de seu tempo e sua realidade.
Lembrando, talvez, que a desciplina é ingrediente fundamental pelo
que se deixa enamorar pela arte. Mas volto à minha preocupação
primeira, pelo gosto ou paixão pela Literatura. Ouvi de um amigo
escritor mineiro que, nos anos cinquenta, havia verdadeiras brigas
em defesa de determinados estilos e escritores. O que mudou? Ou,
ainda , que andam nossos jovens lendo. Não saberia responder
de imediato, mas respiro aliviado quando vejo alguns projetos
culturais e outros lutando e buscando alternativas , pela questão do
espaço. A busca de espaço é talvez a luz de esperanças para quem
se deixa fascinar por esta estrada, já percorrida por vários séculos.
Vale ressaltar que Sua Eminência D. Paulo Evaristo Arns é doutor
em Letras. Houve um tempo em que contistas falavam nas praças,
no trabalho, nas vilas, vilarejos, bairros e tribos. O povo sabia de
suas lendas por meio dessas narrativas, que passavam sua cultura,
seus conhecimentos, seus costumes, embalados pelo som e pela
força das palavras. Em todas as épocas, viajantes, artesões e
contadores de histórias preencheram o imaginário dos povos com
histórias contadas de cultura em cultura. Presença aquece a
relação do que conta com que ouve. Para falar da Literatura
Brasileira no século passado, primeiro devemos esclarecer o
conceito de história em que o homem do século XX viveu
mergulhado. Acho que foi o século em que se viveu ideologicamente
no sentido mais partidario do termo. Tivemos um conceito de
história que afetou nossos gestos mais cotidianos e nossa
produção intelectual. A Literatura Brasileira hoje precisa de novos
historiadores mais do que nunca. Para refletir sobre ela neste
inicio do novo século, teríamos antes de mais nada de escolher
um ponto de vista, de ter uma atitude; Isto é ,saber a partir de que
ponto se encontra alguma coisa. Toda nossa atividade converge
para a realização de um pensamento básico: se o Brasil quiser
ser um país forte culturalmente e sem grandes problemas sociais,
só poderá fazer pela porta da educação, do livro, da leitura, do
conhecimento intelectual da população do nosso Brasil.
-JOSE ANGELO CARDOSO.-Poeta, contista,artista plastico.
Presidente-fundador da Academia Guairense de Letras.SP.