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Contos-->O Operário -- 25/04/2000 - 05:48 (Reinaldo Cavalcanti) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Certa vez, um operário estava deixando a fábrica para ir para casa. Ele olhou para o relógio perto do portão e soltou um suspiro desanimado: era uma da tarde e ele sabia que o sol estaria fervendo em cima da sua cabeça e consequentemente, em cima dos dois ônibus que precisaria pegar para chegar ao seu destino. Porém, mesmo amaldiçoando sua sorte, ele se dirigiu para a parada, onde passou quase meia hora esperando.
Passavam mais operários, vários ônibus, muitos carros, todos indo para casa menos ele, seu transporte até agora não havia dado o mínimo sinal de vida. Foi quando dois outros operários passaram conversando perto dele e do meio da con-versa dos dois ele ouviu que a empresa a qual seu ônibus pertencia estava em greve. Ele olhou para um lado, para o outro, sentou no chão e colocou as mãos em volta das bochechas, numa posição tão penosa que qualquer um que estivesse passando pela rua naquele momento jogaria uma moeda.
No entanto, ninguém passou por perto, ele estava lá, sozinho, pensando no quanto teria de andar para pegar o outro ônibus. Então, de repente, ele viu surgir à distância o ônibus executivo que levava para casa os trabalhadores um pouco mais importantes da fábrica. Pelo que sabia, a passagem do executivo custava quase quatro vezes o que ele iria pagar pelo lotação convencional, mas ele também sabia que ele passava muito perto da sua casa.
Então, ele se levantou do chão e mesmo não acreditando no que iria fazer, esticou a mão pedindo parada. O motorista, logicamente, achou que não passava de uma brincadeira, pois nunca havia transportado um operário de tão baixo nível social como aquele que estava estendendo a mão na parada. No entanto, nosso entrépido operário não fraquejava, continuava lá com a mão estendida pedindo para subir.
O incrédulo motorista parou do lado do operário, abriu a porta do ônibus e olhou cuidadosamente para o micróbio que se apresentava aos pés dos degraus. Cabelo assanhado, macacão sujo de graxa, rosto enrugado e um sorriso semi desden-tado de dar pena. No entanto, seus olhos mostravam um ar de felicidade, orgulho de ser aquilo mesmo que estava ali. O motorista hesitou mas acabou perguntando: “Deseja alguma coisa?”... O operário sorriu mais uma vez e disse: “Eu quero ir para casa”. “Você tem dinheiro para pagar?” – disse o motorista ainda não acreditando que era verdade – “a passagem é cara...”. O operário enfiou a mão no bolso e puxou um minienvelope plástico com um rosto de um antigo vereador estampado no verso, retirou quase todas as cédulas que havia dentro, entregou-as ao motorista e subiu sorrindo no ônibus.
Ele não acreditou quando sentiu o ar quente da tarde se tornar frio por causa do ar condicionado, nem quando deixou de ouvir o silêncio para ouvir uma bela música ambiente que tocava no interior do veículo e muito menos quando sentiu seu corpo cansando se sentar num poltrona infinitamente confortável e aconchegante. O operário estava maravilhado com aquilo tudo, com o vazio que havia lá dentro, ao contrário do aperto que ele passava todos os dias em pé dentro do seu ônibus convencional; com a rapidez na qual o executivo andava e vez do pinga-pinga tradicional; Enfim estava maravilhado com tudo, como um camponês que estivesse andando na carruagem do rei.
E toda a viagem foi uma festa, ele olhava para o pessoal na rua, nos carros, nos ônibus lotados e acenava sorrindo. Foi quando quase perto do seu destino ele olhou para o lado e viu que do outro lado do corredor, uma moça olhava atentamente para ele. Ela estava vestindo o que ele achava ser um terno para mulheres, segurando entre as mãos um livro, seu rosto expressava total desaprovação e seus olhos apenas disseram duas simples palavras: “Pobre” e “Ignorante”. E então voltou a ler seu livro.
O operário sorriu para ela e nos seus olhos estava escrito: “Eu estou no fundo do poço, na lama, e você está no alto, longe de qualquer problema... porém, quem está sorrindo sou eu e você está aí, séria, sem aproveitar o mínimo do que está acontecendo a sua volta. Se algum dia nossos papéis trocarem, eu estarei sorrindo ainda mais, no entanto, se você vier para o fundo do poço, como eu, duvido muito que você terá coragem de acreditar ou de aceitar. Por isso, prefiro ser pobre e ignorante e sorrir com meu pequeno mundo, do que ser rica e inteligente como você e não tirar um sorriso da boca com tanta beleza que te cerca”.
Então ele se levantou, sorriu mais uma vez para a dama e pediu para o motorista parar, sorriu também para o motorista agradecendo, desceu do ônibus e sem tirar a felicidade da alma seguiu andando debaixo do sol forte pela rua poeirenta onde ficava sua casa.
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