Este fato se deu, num dia do mês de julho de 1983, nas proximidades do município de Altamira Pa, num pequeno “igarapé” que afluencia o médio “Xingu”.
Era manhã ensolarada de “inverno”, corria suave o vento do sul, balançavam a copa das árvores, vergavam docemente os bambuais; era um dia fresco, e o riacho parecia conversar com os peixinhos que nadavam incansavelmente na tentativa de subir o curso d água.
Assim percebi que havia neles, a intenção de buscar novos horizontes, talvez para proceder a desova e assim formar novos colônias.
Via-os muitas vezes, lutando incansavelmente, mas na tentativa de subir as pequenas corredeiras existentes em função das chuvas daquela madrugada, alguns deles, saltavam tresloucadamente para a morte, pois eram jogados de encontro as pedras, ou terminavam por voltar ao ponto de partida, começando assim uma nova batalha.
Fiquei ali, estarrecido, tentando compreender o que se passava naquelas mentes cujos corpos brilhavam ao Sol, ofuscando-me as vistas, tal era, o grande número de peixinhos que formavam o cardume, que se ocupava daquele empreendimento.
Resolvi subir o igarapé, vi que alguns em sua batalha desesperada pela sobrevivência, caiam fora da água; comecei então a ajuda-los colocando-os novamente a correnteza para que continuassem sua caminhada.
Com o passar das horas, o nível das águas foi baixando e muitos deles ficaram presos as poças que se formavam com a baixa das águas.
Permaneci ali devolvendo-os a água, participei emocionado da luta daqueles heróis da natureza, minúsculos seres que ora pareciam querer ensinar-me que na luta para manter os nossos ideais, devemos ter a fibra, a perseverança e a determinação dessas minúsculas criaturas, que para perpetuarem a espécie, empreendem essa dolorosa batalha; nem que para isso haja o sacrifício da própria vida, pela pró existência da espécie.
Recebi então daqueles peixinhos, uma verdadeira lição de vida, de amor e de afeto...
Se o ser humano espelhar-se nos peixinhos e souber tirar proveito dessa lida, poderá ainda não ser tarde, para que a natureza seja então perpetuada.