Deus me poupou do sentimento de ódio, mas não do mêdo. Como
em qualquer pessoa, um rato ou mesmo uma barata, despertam
um sentimento que eu poderia chamar de nojo, mas que no fundo
não passa de mêdo. Pessoalmente, não tenho nada contra alguns
insentos ou animal, mas ratos deveriam ser exterminados, tido
como fama de trazer algumas doenças graves, ao ser humano.
Estas , as razões contra minhas repulsas, não digo que sejam
piores do que os animais pertinentes. Pois, foi ao acender a luz que
dei com rato dentro do quarto em minha cama. Eu morava sozinho
e chegava em casa geralmente às duas ou três horas da manhã.
Pois mais cansado do serviço que eu chega-se, não queria devidir
minha cama com um rato. Pra mim deu vontade de esborrachar o
bichinho no chão, mas o danado correu e ficou debaixo da cama.
Ora, devido a uma renite alérgica e hipertensão, que me persegue
há anos, volta e meia estou de nariz entupido, o que geralmente
me força a dormir de boca aberta. Meu primeiro impulso foi o de
fazer meia volta, apagar luz, sair de casa e ir dormir num hotel.Logo
me ocorreu que deveria fazer alguma coisa, para enfrentá-lo de
alguma maneira, pois se eu sair, não saberia jamais se ele acabaria
indo embora ou ficaria definitivamente no meu quarto, para fazer
companhia. Eu procurei e vi o ratinho imóvel debaixo da cama e
tive a impressão de que também tomara conhecimento de minha
presença. Cheguei a achar mesmo, que o rato me olhava com o
rabo dos olhos. Foi quando, por parte do azar ou algum fenômeno,
que a luz apagou. Uma das fatalidades que me pesegue, assim
era a luz do meu quarto, que se acendia e apagava por conta
própria. Muitas vezes eu dormia de luz apagada e acordava com
ela ligada, ou vice-versa, o que me dava a impressão de ter alguém
vivendo junto a mim no meu quarto, Tallvez uma mulher bonita, boa,
invesivel ou virtual, mas não um rato. Tornei a acender a luz, desta
vez, verifiquei apreensivo, se ele havia desaparecido. O que, em
vez de reslover o problema, complicava-o ainda mais. Onde se
havia estar? Pela janela nao saiu, pela porta também não, pois
estava fechada. Mas de súbito, senti o bichinho, ali estava, a pouco
mais de meio metro da minha cabeça. Estivesse eu no escuro,
esbarrava com a mão no rato. Certamente daria um grito, desta
vez o danado do rato me olhava. Um olhar amigo e cauteloso,
cabeça levantada, com ar encabulado, apanhado em flagrante.
Numa espécie de alucinação nascida da repugnância, logo a
realidade se refez e me enchi de coragem, respirando fundo disse:
Agora ou nunca. Tivesse eu ao alcance da mão algum objeto, um
pedaço de pau, uma vassoura, eu acabaria com ele num só golpe.
Mas se fosse buscar uma vassoura na cozinha, ao voltar, ele já
estaria longe. Então me ocorreu descalçar o sapato,e o fiz.
Empunhei-o firmimente e desferi com o salto uma violenta pancada
na parede. Apenas na parede, porque o rato, numa agilidade,
havia escapado do golpe mortal, deixando-se cair no chão e
fugindo para debaixo da cama. O instinto de luta se acendera em
mim. Eu me transformara num ser inracional, feroz, pronto a estabelecer a lei do
mais forte. A expectativa do combate de vida ou morte, a ser
travado, me levava ao auge. Tomei cuidadosamente a lâmpada
de cabeceira e coloquei no chão, depois abaixei-me para olhar
em baixo da cama quando acendi a lâmpada ele foi apanhado
em cheio, imóvel que ficou, à espera. Puxei com força a cama
para o meio do quarto, é agora: desferindo com a vassoura
furiosos golpes contra o chão e o rato. Minha aflição chegou ao
máximo, eu simplesmente esmigalhei. Vi o bichinho morrendo aos
poucos, e tive a sensação de um remorso, de ter cometido esta
fatalidade.
-JOSE ANGELO CARDOSO.-Poeta, contista, artista plastico.