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Contos-->CENA DE NOVELA -- 01/02/2002 - 00:48 (Edson Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Parecia cena de novela: Patrícia em seu quarto, sentada na cama, de frente para a penteadeira com uma lágrima em cada olho, uma tesoura entre os dedos da mão direita e uma fotografia na esquerda. O rádio ligado ia desfiando um rosário de melodias antigas, sob medida para a situação. Ela e Fábio abraçados, sorridentes, ambos com o amor estampado na expressão do rosto. Olhando para a foto, parecia que aquele abraço nunca mais terminaria. Daí tanta raiva. Ele não tinha o direito de fazer isso com ela. Aquele abraço que não acabava mais, ali, na sua mão, no momento em que, provavelmente, Fábio abraçava de verdade aquela loira sem graça. Era realmente difícil entender o que ele poderia ter visto nela. Por mais que as amigas insistissem em afirmar que o romance era antigo, que ela só não viu porque a paixão cega, não havia Cristo que fizesse Patrícia se conformar. A tesoura na foto era a forma mais racional de externar o seu ódio. Ele nunca ia ficar sabendo mesmo.
Mas como uma traição não costuma vir sozinha, a droga da estação tinha que tocar aquela música. A mesma que tantas vezes ele lhe tinha dedicado “com muito amor e carinho, do para sempre seu...” Patrícia deixou, sem perceber, que a tesoura se afastasse lentamente do retrato e fosse descendo, descendo, até pousar na cama. O pensamento voou longe. Em rápidos flash-backs, três anos se passaram pela sua cabeça. O primeiro encontro, o primeiro presente de dia dos namorados, o baile de formatura, o sítio onde passaram o primeiro fim-de-semana sozinhos, o mesmo que o automático da máquina fotográfica eternizou, os passeios de automóvel onde, ironia do destino, sempre coincidia de tocar essa mesma canção. Se o rádio não tomasse a iniciativa, Fábio sacava de uma fita cassete e criava o clima.
Nesse instante, apesar das lágrimas, já era possível ver um leve sorriso se formando nos lábios de Patrícia, que enquanto ouvia a música, continuava lembrando velhas mas deliciosas situações. O almoço na casa dos pais, a fila do cinema para um filme romântico que eles mal assistiram, o carro parado na porta da faculdade para uma esticada noturna, a festa de aniversário de Lúcia, aquela loira sem graça... Subitamente ouve-se o acorde final da canção e Patrícia se lembra que foi justamente nessa festa que eles se conheceram. Pior, foi ela mesma quem os apresentou.
“Como eu fui burra!”, gritou. Imediatamente alcançou novamente a tesoura e sem se dar tempo para pensar novamente, cortou ao meio a fotografia. Era Patrícia em uma metade e Fábio na outra. Finalmente aquele abraço acabou. Dele, só restou a mão em seu ombro que ela não tinha como tirar. Abriu o cestinho de lixo e lá deixou a metade que não mais lhe interessava. Aquela em que só ela aparecia, encaixou provisoriamente na moldura do espelho.
Levantou-se nitidamente irritada, pegou as chaves do carro e abandonou o quarto. Como sempre acontece nessas cenas, ouviu-se um forte barulho de porta batendo. Correu para a garagem, tirou o carro e ganhou a rua, sem destino. Como um vício, seus dedos procuraram os botões do rádio sem nada encontrar que pudesse interessá-la naquele momento. Ato contínuo, abriu o porta-luvas e pegou a única fita cassete que havia lá dentro e fez com que ela tocasse. “Não pode ser. Aquela música de novo!” Não teve dúvidas. Fez meia-volta e voltou correndo para casa.
Parece cena de novela: Patrícia em seu quarto, sentada na cama, de frente para o espelho da penteadeira com uma lágrima em cada olho. Duas metades de uma fotografia depositadas sobre o móvel e um bom pedaço de fita adesiva entre os dedos...


Edson Rodrigues
1995
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