(...) E então, Lauro sentiu pinçada na virilha. A experiência erótica com ela naquela visita, e o pai e o lençol e... Porém as mensagens de seus neurônios ao cérebro e sua sexualidade abarrotadas de álcool... a ereção infalível em situação semelhante custava a se prontificar. A respiração de Laura ficou acelerada, olhou em volta certificando-se não ter ninguém por perto. Só os barulhos provenientes da movimentação na cozinha ao lado chegavam até eles. Lauro debatia-se com a dificuldade de focalizar Laura, muito mais a mãozinha gorducha mexendo na suas calças. No entanto, ao contrário daquela primeira vez, o excesso de bebida tornara seu pênis refratário ao avanço da mão na braguilha... (...) O que tinha aquele uísque? Bebera além da conta. "A bebida nos seus excessos vexativos." E Laura? Onde estava ela? Entre suas pernas. Sumiram os deuses dos bêbados? Não enxergavam sua aflição? Os malditos deviam estar rindo e pulando no seu estômago. E Laura aproveitando-se. Pobre Laura, tinha-o à sua mercê, porém o maldito não correspondia. Em cruel compensação, o estômago soçobrou perigosamente de vazio e álcool. Se vomitasse numa hora dessas, no dia seguinte teria tudo preparado para o suicídio, e jamais encontrariam seu corpo. Pensou em Magda, esfinge misteriosa, mulher abrasadora; ela não andava, deslocava-se sobre mágicos trilhos invisíveis em longo travelling. Concentrou-se em Ana e sua rebolante bunda branca, seus olhares de sacana caçando marido pelo rabo. Visualizá-la trepando podia ajudar: "Lívio a convidaria ao cinema, no meio do filme - não importa qual! -, levaria o braço até o encosto da poltrona e, como sem querer, deixaria a mão repousar sobre os ombros dela. Percebendo a intenção, ela ficaria excitada, ainda mais pelo perigo de serem vistos. A mão dele escorregaria até o decote acariciando o seio. Cada vez mais excitada, Ana apoiaria a mão na coxa dele e pouco a pouco iria subindo até chegar à braguilha. Aproveitando-se do escuro numa passagem especialmente pouco iluminada do filme, ele desnudaria o seio e o levaria à boca, e ela já teria aberto a braguilha e colocado para fora o pau, masturbando-o excitadíssima. Sem poder se conter, abaixando-se, colocaria o membro dentro da boca, fazendo vaivém que provocaria o gozo prolongado... (...) Laura de joelhos tentando abocanhar o cinéfilo e retirante traidor; a cozinheira olhando para eles de boca e olhos arregalados em mudez de espanto; a comicidade pelo choque moral estampado na sua imobilidade trouxe ameaça de risada e o soluço que teria gostado de mostrar a Fausto, à Academia de Letras e aos amiguinhos burgueses do salão. Desgraçado Fausto! Nesse ínterim, Laura percebeu o que se passava detrás dela e virou-se, desestabilizando a gorda cozinheira, com um grito gutural de baleine en colère ou gata apanhada em flagrante na iminência do bote. Apavorada, a cozinheira fugiu fragorosamente. Depois de desaparecer cozinha adentro e amenizar-se o tumulto de panelas atropeladas, Laura voltou a si. "Vem cá, Lauro, preciso te mostrar uma coisa." Devolveu o carrapicho às calças, agarrou suas mãos, puxou para ajudá-lo outra vez a levantar. E a seguiu, puxado pelo cabresto da mão nervosa por corredores (seriam os mesmo daquela vez primeira?), andaram depressa; "O traseiro nu saracoteando parecia rir de sua cara espantada". Pela porta aberta de um sopetão, entraram em um quarto (o mesmo?); de um empurrão deitou num sofá, com um safanão tiraram-lhe as calças, e, minuto depois, boca esperta e insistente endireitou e por fim endureceu o almofadinha rufião. Vigorosa chupada trouxe néctar ao qual Laura abençoou com a alegria esfuziante de troféu reconquistado e há muito tempo almejado. Com vigor preparou-se para continuar a colheita, subindo o vestido e arrancando a calcinha. Iniciando a escalada do monte, abriu as pernas montando em cima da barriga dele... "Ana sentaria no colo de Lívio, já arrancada a calcinha, e, abaixando-se para não ser vista pelas pessoas sentadas atrás, sacana experiente sacudindo a bunda, embocaria o pau, entrando rapidamente. Lívio disfarçaria seu desfrute com cara de safado, perguntando-se se ela esfacelaria seu pau..." Ainda tonto, sentiu o calor dos pêlos molhados esfregando-se na sua virilha. A mãozinha gorducha de Laura agarrou o pênis para conduzi-lo "e ele a teria penetrado e gozado com doce sensação"... Foi nessa culminância que a porta se abriu no mesmo supetão e alguém de pé na porta estancou; Laura deu grito de ódio no seu ouvido. "Quem é o merda que está aí? Fora! Não vou dividir com ninguém!" E o ribombar de resposta: "Por que você não se mata, filha da puta!?
Fragmento de capítulo do romance de Miguel Angel Fernandez "A CENA MUDA"