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Contos-->Na cama -- 24/02/2002 - 01:58 (Edson Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Isso é hora de você resolver olhar isso?
- Eu acho que toda hora é hora de matar saudade.
- Mas não faz nem seis meses que você folheou esse negócio.
- Na verdade, são quatro meses, doze dias e dezoito horas.
- E os minutos?
- Eu arredondei. Não tenho paciência para detalhes.
- O que tanto você vasculha nisso?
- É engraçado ver como a gente era.
- Eu diria que hoje você é mais engraçada de se olhar.
- Quem fala! Não se olha no espelho, não?
- Só o necessário. Eu tenho medo de me apaixonar por mim e não dar conta.
- A minha experiência diz que esse risco é muito provável.
- Sei. Você está me provocando pra ver se eu ameaço te provar que está tudo em cima.
- E você ainda lembra como se faz?
- Mesmo levando em consideração que as suas dores de cabeça noturnas seriam mais do que suficientes para que eu esquecesse, acho que lembro. Quer tentar?
- Ai! Me deu uma pontada na cabeça. Pega um analgésico pra mim aí no criado-mudo.
- Então, apaga a luz que eu tenho que levantar cedo.
- Daqui a pouco eu apago. Agora, olha um pouco isso aqui comigo.
- O quê?
- Olha esse seu terno. Não é ridículo?
- Ridículo? Era o mais moderno da década.
- Da década de 20, você quer dizer.
- Imagina! Foi alugado, não lembra?
- E quanto o Museu do Ipiranga te cobrou pelo aluguel?
- Ah, não enche o saco. Você sabe que eu fiz questão de estar na moda.
- Moda?
- Todo mundo usava assim.
- E eu escolhi você porque achava que era diferente dos outros.
- Eu era mais bonitinho.
- Faz de conta. Olha essa gola aqui. Parece um cachecol.
- É? E do seu vestido, você não vai falar nada?
- Lindíssimo.
- Confesso que eu fiquei em dúvida se comia o bolo ou o seu vestido.
- Não exagera. Foi feito por um dos maiores estilistas da época.
- Da época do Império Romano?
- Não, dos anos setenta.
- Não sei porque vocês insistem nessa idéia de que o noivo não pode ver a noiva antes do casamento.
- É costume. Dizem que dá azar.
- Eu não vi e tive azar. Se eu te visse assim antes, teria te poupado desse vexame e não teria ficado plantado na igreja te esperado durante meia hora.
- Você me elogiou no altar.
- E ia adiantar dizer a verdade? Você já estava chorando o tempo todo.
- Acho que eu já estava arrependida.
- Você nunca se arrependeu.
- Todo mundo disse que eu era a noiva mais bonita que já tinham visto.
- Seus amigos eram muito simpáticos.
- E inteligentes.
- Se eu pudesse, eu teria te arrancado esse vestido ali mesmo, na igreja.
- Em pensar que quando ficamos a sós você não teve nenhuma pressa em que eu tirasse o vestido.
- Eu estava bêbado.
- Durante cinco dias?
- Foram quatro. E você fala de um jeito que parece que você tinha alguma coisa que eu ainda não tivesse visto.
- Mas era diferente.
- Sim, daquele dia em diante eu ia pagar muito caro para transar com você.
- Esqueceu que eu também trabalho?
- Agora sim. Naquela época só dava trabalho.
- Ninguém te obrigou a casar comigo.
- Não? Pergunte pro seu pai.
- Tarde demais.
...
- E esse bigodinho de Clark Gable?
- Não era um charme?
- Tinha lá sua graça.
- Mas o seu penteado chamava tanto a atenção que ninguém notou o meu bigode.
- Eu perdi três horas no cabeleireiro para ele ficar assim.
- Perdeu mesmo. Se eu fosse você eu os processava.
- É? E essas costeletas de “Elvis não morreu”?
- Elvis não tinha morrido.
- Há quem diga que sim.
- Estava barrigudo. Mas vivo.
- Alguma coisa vocês tinham em comum.
- E esses seus brincos? Se naquela época fosse costume usar um brinco só, você teria entrado na igreja com a cabeça caída no ombro.
...
- Olha essa outra aqui. Lembra? Minha irmã estava linda como madrinha.
- É. Eu atirei na casa certa, mas errei o alvo.
- Eu sei que você tinha uma queda por ela. Só que ela nunca te deu bola. Em compensação, o marido dela, que era um gato, se eu esticasse um pouquinho mais o olhar pra ele...
- Quer trocar?
- Eu disse que ele era um gato.
- É, mas aí foi mudando o bicho. Diziam que era um bode velho, galinha, até veado disseram que ele era.
- Minha irmã tem quatro filhos.
- Sua irmã tem. Mas nós estamos falando do marido dela.
- Não seja maldoso. Você também tinha lá o seu jeitinho.
- E você adorava.
- Convenhamos que até agora você deixou bem claro que eu nunca tive bom gosto.
- Mas em compensação você tem filhos lindos.
- Você também.
- Puxaram a mãe.
- Você diz isso só pra me agradar.
...
- E se você fechasse esse álbum agora e a gente brincasse um pouquinho?
- Eu sou uma senhora séria. Não tenho mais idade para brincadeiras.
- Você entendeu o que eu quis dizer.
- Você disse que precisa levantar cedo.
- Eu chego atrasado.
- Eu estou com uma dor de cabeça terrível.
- Prometo que não encosto na sua cabeça.
- As crianças podem ouvir.
- Elas estão a mais de quinze quilômetros daqui.
- Você não desiste, não?
- Eu já estou em ponto de bala.
- Eu não gosto de puxa-puxa.
- Vem pra cá. Acho que a gente tem muita coisa pra comemorar.
- Comemorar? Morar, a gente já mora junto a trinta anos. Agora, comer...
- Cala a boca e apaga a luz.
(Click)
- Nossa, querido! É você mesmo quem está aqui?

Edson Rodrigues
01/11/2001
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