Naquele dia frio de inverno ele acordou sentindo-se estranho, estava tudo esquisito e ele não sabia, não entendia o porquê.
Sentia um misto de tristeza e vazio sem ter o porquê.
Enquanto tomava o café, olhou para seus pais e irmãos e sentiu saudade, vontade de abraça-los, de apertá-los contra o peito e cobrí-los de carinho. Sentia tudo isso e não entendia o porquê.
Deu um sorriso e disse a todos que era muito bom estar alí. Ninguém entendeu o porquê de suas palavras inesperadas, mas concordaram que era muito bom estarem todos juntos.
Terminado o café, deu um beijo em sua mãe como há muito não fazia, brincou com o caçulinha, jogando-o para o alto e o abraçou apertadamente, puxou levemente o cabelo de sua irmã adolescente e disse que estava linda, abraçou seu pai e juntos saíram paa mais um dia de trabalho.
Teriam que caminhar algumas quadras até chegarem ao ponto de ônibus, foram conversando, planejando um futuro melhor e aquela sensação estranha persistia em seu peito.
Tentou desfarçar, observando um cão que tremendo de frio, vasculhava uma lata de lixo, sentiu pena e tirou de sua bolsa um pedaço de seu lanche-almoço, jogando para ele.
Chegaram ao ponto de ônibus, cumprimentou os amigos que lá já se encontravam e novamente aquela sensação de saudade, de tristeza batiam em seu peito.
Conversaram sobre o futebol, seu time havia ganho o campeonato no dia anterior, mas era estranho, ele não sentia vontade de contar vantagem, de brincar com os torcedores do time perdedor.
O ônibus chegou, porém, ele não entrou, tudo ficou parado enquanto sua vida passava em flashes rápidos diante de seus olhos.
- Filho...
- Pai...
Seus olhos ele fechou, enquanto seu pai transtornado, apertava sua mão.
Pobre rapaz, seu nome era João, João de Deus, João do tiro perdido, João da multidão.
Alí estava o porquê de seu dia estranho, o porquê da saudade, da tristeza, do vazio...