Pedido de empréstimo (M.H. – Crônicas – Ponta Grossa – ago / 1999)
Teófilo estava devendo 3 meses de aluguel, 2 de condomínio e duas prestações do carro novo. Não chegava a ser exatamente por falta de dinheiro. Acontece que o caixa estava em baixa em função da pequena fábrica que ele abriu há 8 meses e que dentro de mais uns 2 ou 3 meses começaria a render bons lucros, permitindo-lhe reconquistar o equilíbrio financeiro de sua vida. Decidiu por solicitar um pequeno empréstimo no banco onde era cliente há mais de 12 anos e onde aplicava sua poupança, usava o seguro de vida, do carro, da casa e até da fábrica erguida. Seu patrimônio, com certeza, lhe serviria de lastro para obter os recursos necessários no momento.
Nem colocou o terno (talvez tenha sido seu erro). Saiu da fábrica após delegar tarefas ao seu gerente imediato. Chegou ao banco 10 minutos após o início do expediente. Imaginou que deveria ser dia de pagamento de alguma grande categoria, devido ao número grande de pessoas nas filas. Abordou uma das meninas na entrada, que lhe indicou a mesa do gerente de empréstimos, na 3a. mesa à esquerda.
A placa na mesa anunciava como Vilson, o nome do gerente já de gravata frouxa. Diversos formulários espalhados cobriam a superfície da mesa. O teclado estava em cima do monitor. Os 4 telefones estavam entrelaçados à esquerda do mesmo. O Vilson atendia a dois deles, no momento que sinalizou para Teo sentar-se. Ele obedeceu e recuou a cadeira em torno de 30 cm, para evitar os raios solares no rosto que atravessavam a ampla janela envidraçada, de frente para a rua secundária. Dali avistava seu carro azul. Precisava de uma lavagem urgente. Se o zelador ainda estiver cobrando R$ 4,00 talvez hoje à noite seja possível retirar as camadas de barro grudadas nas portas há quase 2 semanas.
Na 8a. vez que Vilson ameaçou lhe dirigir a palavra (após 20 minutos de espera), Teo acreditou que sua jornada seria longa. Precisava agir para que tal evento não lhe consumisse o dia todo. Anotou o número de um dos telefones e levantou-se. Vilson nem reparou.
O telefone cinza tocou. Vilson levantou o fone e pronunciou a frase padrão. Do outro lado, o interlocutor respondeu :
- Ei Vilson ! Preciso de um pequeno empréstimo. Tenho todos os papéis necessários em mãos. Pode me atender ao vivo em 30 segundos ?
- Quem está falando ?
- Aqui é o Teo. Estive sentado por 20 minutos a 80 cm de você. Olha eu aqui no orelhão em frente à janela !