Estavam eles tranqüilos e de bem com a vida naquela tarde ensolarada de domingo, tanto que resolveram ir ao clube, a fim de desfrutarem das atividades de lazer alí oferecidas.
E foi assim que Sônia, seu marido e o filho passaram aquela metade do dia, esbanjando contentamento nos exercícios de natação e jogo de tênis. Até que, extasiados, resolveram voltar para casa.
Na saída, ao retirar seus pertences do "guarda-volumes", Sônia notou que sua bolsa havia desaparecido.
Embora tivesse feito grande reboliço naquele clube, em vão foi a tentativa de recuperar tal bolsa, e também não conseguiu descobrir o responsável por aquele ato ilícito.
A família, desnorteada, voltou para casa, ou melhor, para o apartamento onde moravam e, lá chegando, foi que a situação ficou ainda pior, porque lembraram-se que dentro da bolsa furtada, além de documentos importantes, estavam todas as chaves de acesso à residência.
A sorte foi que, milagrosamente, estavam em casa a empregada e o filho mais velho, os quais, tão-logo perceberam o tumulto do lado de fora, abriram a porta e ficaram sabendo o ocorrido.
Por ser domingo, todos descansaram pelo resto do dia, mas... Quando chegou a noite, a preocupação recomeçou e perturbou-os por muito tempo, porque a memória os fez lembrar o fato de que o ladrão possuía as chaves daquele apartamento.
Como poderiam dormir tranqüilos naquela noite??? Imaginar que o ladrão de alguma maneira teria conseguido descobrir o endereço era demais para eles!
A partir daí, Sônia, seu marido, os meninos e a empregada, passaram a tentar elaborar uma "tramóia", a fim de livrarem-se do ladrão, caso ele aparecesse, já que, a idéia de chamar a polícia nem sequer passou por suas mentes, talvez por não saberem a identidade do indivíduo ou por medo, ou por qualquer outro motivo...
A primeira atitude foi trancar todas as portas rapidamente.
Mas, que idiotice... "ele tem as chaves..."
Então, Sônia, muito corajosa... teve a idéia de descer ao andar térreo para verificar se havia alguém suspeito observando o prédio.
E, ao realizar tal ato, deixou todos trancados e assustados dentro do apartamento, antes porém, dizendo ao marido que ele deveria ficar para proteger as crianças.
Resolveu descer pelas escadas para observar todos os andares. Quando chegou ao térreo, saiu no "hall" de entrada e percebeu que um homem acabava de adentrar o prédio e se dirigia justamente para as escadas aonde ela se encontrava. Naquele momento, seu coração parecia que ia saltar pela boca. Porém, num ímpeto de coragem, se arvoou em retornar pelo caminho de onde surgiu, na esperança que tal homem não a tivesse notado alí, tão insignificante...
Subiu aquelas escadas, que pareciam infinitas, tão "esbaforida", que não se sabe como chegou a seu andar!
Era um apartamento grande que ocupava todo o décimo andar daquele antigo prédio. Haviam várias portas, sendo, inclusive, uma de vidro, daquele vidro dito "canelado", pelo qual não se pode enxergar nitidamente quem está do outro lado.
Começou ela a tentar abrir a primeira porta, passou em frente a porta de vidro, e foi somente pela última, a que dá acesso à cozinha, que conseguiu entrar, e era lá que todos a aguardavam. Foi por sorte ou sabe-se lá o quê, que o homem evaporara nos corredores escuros, não tendo alcançado Sônia naquela sua trajetória.
Permaneceram todos ali, quietos, naquela cozinha, até que o filho mais velho se levantou e foi até a área de serviço.
Sônia resolveu seguí-lo e ficaram ali parados, mas, de repente, ela olhou para a esquerda e percebeu que ali havia um portãozinho, o qual estava fechado há tantos anos, que ninguém nem dava mais importância para ele, uma vez que lhes parecia desnecessário. Importante ressaltar, que o apartamento havia sido adquirido recentemente, por herança, e que ninguém nunca antes vira o referido portão ser utilizado por qualquer pessoa daquela família.
Tentou abri-lo e, por incrível que possa parecer, conseguiu, e logo percebeu que havia uma rampa, por onde prosseguiu, sempre acompanhada de seu filho.
Num determinado ponto, se depararam com um terraço, o qual tinha vista para a rua, do lado esquerdo da rampa, para o qual se tinha acesso através de um outro portão, porém bem mais largo, mas que, ao contrário do outro, estava completamente escancarado, e, por isso, mais que depressa, se pôs a fechá-lo, embora o vento forte quisesse impedi-la.
Parados alí naquele ponto da rampa, puderam observar que logo abaixo estava a garagem do prédio, aonde finalizava o trajeto, e dalí mesmo avistaram um homem, que se encontrava em pé na entrada da garagem, e que conversava com o garagista, aparentando um jeito de quem pedia alguma informação.
Naquele momento, mais que depressa, imaginaram que poderia ser o tal homem, o inesperado e tão esperado ao mesmo tempo.
E o que fazer para agarrá-lo de uma vez por todas?!...
Foi então que seu filho teve a idéia de entrevistá-lo, como se estivesse fazendo uma pesquisa para a escola, já que a ele o estranho talvez não conhecesse, uma vez que não fora ao clube naquele dia.
Parecia-lhes muito arriscado, mas não tinham outra opção para tentar descobrir dados sobre aquela pessoa. Pois, enfim, teriam que obter alguma coisa concreta antes de incriminá-lo.
Seu filho voltou ao apartamento, pegou lápis, papel e uma prancheta que já tinha usado na escola e se dirigiu ao referido homem enquanto Sônia ficou escondida numa curva da rampa. Não contaram a nenhum dos seus para evitar alvoroço.
As pernas de Sônia tremiam enquanto assistia o seu menino conversar com aquele homem, mas, em menos de dez minutos seu filho voltou e mais que depressa ambos dirigiram-se ao apartamento, onde puderam ler a respeito daquela pessoa e do que fazia por ali, podendo constatar que aquele poderia ser o homem que procuravam.
Sônia lembrou-se que tinha uma amiga na Polícia; pegou o telefone e passou os dados a ela, pedindo-lhe informações sobre o suspeito e explicando-lhe rapidamente o que havia acontecido. Então, a amiga lhe disse que deveria ter ligado há mais tempo, e que, independentemente de qualquer informação a respeito dele, pois, suspeitava que talvez ele tivesse fornecido dados falsos, pediria para que uma viatura fosse ao local averiguar tal pessoa.
Daquele momento em diante, a família quase não conversou; nem mesmo se podia ouvir a respiração de cada um ali presente. O que aconteceu foi que se dirigiram à sala de estar e ali passaram a noite, todos juntos, esperando por qualquer notícia.
"Triiiiiiiiiiiiiimmmmmmmm!!!!!!!!!!!!!!!"
Tocou o telefone insistentemente e todos, ao mesmo tempo, deram um salto para atendê-lo!
Sônia pegou o fone e então ouviu a voz de sua amiga: "Bom dia, querida, tudo resolvido, sua bolsa está aqui, passe para retirá-la assim que puder. Olha, o cara é bandido mesmo. Descobrimos pelas características que você me apresentou, pois ele já havia cometido esse tipo de furto antes, e também roubos, "y otras cositas más..." Escuta, abriu um concurso para a Polícia, você não gostaria..."
Sônia só conseguiu dizer... "Obrigada".