Na hora do almoço o homenzinho atravessou a rua e resolveu comer num restaurante, que nunca havia comido, alguma coisa que nunca havia experimentado, mas gostaria de experimentar: miúdos de lagarto albino.
Entrou no restaurante, cautelosamente e sem afobação, para não dar nenhum vexame e chamou o garçom. O garçom logo veio, trajando uma espécie de "terno moderno", segurando consigo um cardápio bordado com pedaços de folhas secas de samambaia.
O homenzinho, Luís Fernando Henrique Seboso, alcunha "sebo", 28, não resistiu em perguntar, a aquele que ele conhecia somente como "pinguim-de-restaurante", sobre o cardápio:
Senhor, por acaso este restaurante é filiado de alguma instituição do verde?
O garçom com cara pasmática e interrogativa respondeu:
Porquê? Está, por acaso, vendo algum cartaz dizendo isto aqui?!
O homenzinho, nascido na Bahia, criado no Amazonas e vivendo em São Paulo, disse com muito entusiasmo e empolgação:
Bem, pelo que pude perceber, este cardápio é meio anormal! Parece que estamos num restaurante no meio da Austrália!
O garçom, com um enorme vocabulário, disse:
Porquê? Está, por acaso, vendo algum canguru pulando por aqui?!
O homenzinho, com fome, com sede, resolveu acabar com a "eco-australiana" conversa de uma vez:
Garçom, por favor, pode me passar o cardápio, ecológico ou não, que eu estou morrendo de fome e de sede?!
O garçom, pensando na futura gorjeta, entregou o cardápio, bordado com pedaços de folhas secas de samambaia, ao homenzinho.
Depois de leves quinze minutos de tentativa de encontrar o tão esperado e experimentável miúdos de lagarto albino, o homenzinho, que pesava 78 quilos e media 1 metro e 78 centímetros de altura, chegou a uma conclusão decepcionante e inesperada: no cardápio não constava nenhum prato chamado "miúdos de lagarto albino". Desesperado, chamou imediatamente o garçom para averiguar o trágico acontecimento daquela tarde de 4 de outubro de 1995.
O garçom logo veio perguntando:
O que houve freguês?! Caiu uma varejeira na sua comida?!
O homenzinho, espantado, retrucou:
Varejeira?!!! O que é isso?
O garçom, também pasmado, co-respondeu:
É uma espécie de mosca que habita a África e a América do Sul.
O homenzinho, moreno, de olhos verde-acinzentados, novamente cortou a conversa e foi direto ao assunto:
Bem, saindo das moscas, e entrando nos lagartos, eu quero saber... como é que neste restaurante não servem miúdos de lagarto albino?!!! Onde é que estão os meus miúdos de lagarto albino?!!! Eu quero os meus miúdos de lagarto albino!!! Eu andei dois quarteirões para vir nesta coisa que vocês chamam de restaurante e você vem me dizer que não têm miúdos de lagarto albino!!! Eu não vou sair daqui sem meus miúdos de lagarto albino!!!
Numa "pausa" para tomar ar, o homenzinho logo continua:
Eu quero falar com o gerente! Agora! Já! Eu só quero ver a desculpa que ele vai ter para me tirar os meus miúdos de lagarto albino!
O garçom não pensou duas vezes (pois não tinha cérebro para isso): foi logo chamar o gerente do restaurante.
Quando o gerente chegou à mesa do homenzinho, que estava trajando uma camiseta branca com uma frase escrita: "Diz-me o que imita que eu lhe falarei o que és: um ignóbil", foi logo dizendo:
Então, quer dizer que o senhor ficou sem os seus lindinhos miúdos de carne alpino?
O homenzinho respondeu impacientemente:
Não!!! Eu fiquei sem os meus lindinhos miúdos de lagarto albino!
Bem então eu sugiro que o senhor seja melhor orientado por um açougueiro porque, aqui, nós só temos miúdos de carne de vaca e de porco... sem querer ofendê-lo!
O homenzinho, ofendido, decepcionado e humilhado, resolveu ir embora daquele restaurante prometendo, obviamente, jamais retornar.
Mas, assim como cão que ladra não morde e água mole bate em pedra dura tanto bate até que fura, ele resolveu ir até a padaria comer um mero e reles pão de queijo.
Depois de se deliciar com o pão de queijo, o homenzinho, que ficou sem seus miúdos de lagarto albino, não imaginava que realmente, naquele momento, ficaria sem seus miúdos: foi atropelado quando atravessava a rua e fraturou seriamente a região púbica...