Aos 14 anos eu era um típico adolescente interiorano. Acima da média nos estudos, no futebol e pingue-pongue; medíocre no ciclismo. Ao todo equilibrado.
Ela era uns quinze anos mais velha que eu. Considerada a mais bela da cidade. Casada e mãe de três filhos. Freqüentava regularmente a minha casa.
Até então, longe de ser báquico, eu era, no máximo, um eventual onanista. Aos poucos, aproximou-se de mim. Quando me dei conta, passei a sonhar acordado com a paixão impossível.
E aconteceu. Toda a iniciativa, toda a condução foi dela. Antes de uma combinação explícita, como eu tremia à sua aproximação, aos seus toques casuais... Não acreditava no que via, sentia-me incapaz de levar a termo tão audaciosa empreitada.
Foi mais fácil que o imaginado. Tornei-me o seu garoto, o seu brinquedo, o seu instrumento de prazer. Pouco a pouco mais que isso: o seu amante dileto. Sempre à sua feição, seguindo os seus estímulos e, a cada descoberta, um novo encantamento, um novo tipo de êxtase, novas formas de me perder ao seu encontro. O típico relacionamento que vale a pena. É-se um antes, outro depois. Relação transformadora!
A cada dia surgia um projeto de homem. Mais sereno e firme. Paradoxalmente tímido e seguro. Sem que percebesse, passei a despertar o interesse das garotas da cidade. Não mais por ser o primeiro aluno, nem o craque do time de futebol ou o campeão de pingue-pongue. Ninguém sabia a causa de tanto interesse feminino. E ela, não apenas permitia que eu namorasse, até estimulava. Não passavam de namoros no escurinho do cinema, aquelas blitze gerais e nada mais.
Aos 15 anos saí da cidade para completar os estudos. Apenas nas férias voltava. Ficava cada vez mais difícil a fuga. Passava cada vez menos tempo na cidade, preferindo ficar na cidade grande, com novas atividades e amizades. Nunca houve briga ou rompimento, mas acabou.
A sua irmã, de minha idade, tentou me namorar e me esquivei. Medo de magoá-la, não merecia. Deu-me muito. Não apenas o sexo sereno e feroz, sensual, meigo e explosivo, deu-me muito mais que isto, ensinou-me o imenso prazer de dar prazer, de aprender a aprender, sempre e cada vez mais...
Faleceu aos 33 anos. Eu estava ausente. Melhor assim, ela reprovaria o meu choro. Permitia-me chorar de emoção, de prazer, jamais de dor. Deixou-me, com a própria mãe, uma carta de amor, empurrando-me para sua irmã...
Manoel Carlos Pinheiro
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