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Contos-->O PRESENTE -- 31/10/1999 - 00:51 (Guilherme Felipe da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quem já teve a alegria de acordar, no dia do aniversário, com um cachorrinho, de raça, em cima da sua cama?
Pois é! O Daniel outro dia passou por esta. Foi o dia mais feliz da vida dele.
Quando acordou, levou o maior susto. Aquela coisa quente mexendo na cama.
Um filhotinho. Poucas semanas de nascido.
Daniel saiu correndo para o quarto dos pais.
-Olha, mamãe! Olha, papai! Que lindo!
O pai perguntou, disfarçando o riso:
-Onde você arranjou isso, menino?
-Tava na minha cama, papai! Olha que gracinha! Quem foi que pôs ele lá?
-Hoje não é seu aniversário? Então! É o presente que o papai trouxe pra você. Gostou?
-Adorei!
Daniel pulou em cima da cama. Abraçava o pai e agradecia.
-Tem que agradecer é à sua mãe. A idéia foi dela.
O menino abraçava um e outro numa alegria sem tamanho.


Nem precisa dizer que, no café da manhã, o cachorrinho ficou no colo de Daniel.
Depois, pôs leite num pires. Pôs o pires na mesa. Pôs o cachorrinho.
-Em cima da mesa não, filhinho. Põe ele no chão.
Deixou que o bichinho lambesse tudo.


A manhã foi gasta preparando a casinha. Tinha que ser bem bonitinha e quentinha.
Papai pegou umas tábuas. Alguns pregos. Suas ferramentas.
Enquanto isso, mamãe ajudava a encontrar um nome. Tão lindo quanto o cãozinho.
-Lulu.
-Ih, mãe. Isto é nome de cachorro?
-Dog. Por que não?
-Não gostei.
-Barão. É um nome bem bonito.
-Mas Barão é nome de cachorro grande, mãe. Este é pequenininho.
-Mas vai crescer, meu filho!
A mãe concordou com Nique. Só que tinha que escrever Nicky. Do jeito que Daniel queria.


-Papai, a gente vai ensinar ele?
-Só quando crescer mais, meu filho. Quando tiver seis ou sete meses.
-Ele vai ficar de que tamanho quando crescer?
-Deste tamanho.
-Isso tudo, pai?
-É.
O pai serrava. Media. Pregava.
Eu vou poder passear com ele, pai?
-Vai sim. Mas quando ele estiver maiorzinho. Agora ele é muito pequenininho.


Os pais não pensaram que o garoto iria ficar tão satisfeito. Sempre davam brinquedos. Num instante e já estavam quebrados. Espalhados pela casa.
Este, não. Tinha vida. Tinha calor. Poderia ser um companheiro. Ajudaria a vigiar a casa. E ao filho também. Cachorro é um animal muito inteligente. É como membro da família.
Se algum estranho aparece, fica bravo. Rosna. O Boxer então… Não é de latir, não. Só um ou outro latido para alertar. Se precisar, enfrenta com coragem.
Com as crianças é um doce. Não morde criança, não. Gosta é de brincar. E ai de quem se aproximar dos pequenos!
E o filho se apaixonara pelo bichinho! Não largava ele para nada. Até para ir ao banheiro Nicky tinha que ir junto.
A mãe ficava olhando. Emocionada. Não há momento mais feliz para uma mãe do que ver o filho contente. E Daniel estava pra lá de contente.
O pai acabou de fazer a casinha bem na hora do almoço. Almoçou e foi tirar um cochilo.


Dia seguinte. Um sol brilhante. Um céu mais que azul. Bate a campainha. Era a polícia.
-Chame o seu pai lá, menino.
O pai veio.
-O senhor vai ter que acompanhar a gente.
-Eu?
No banco traseiro da viatura, um rapaz. Olhava para o outro lado. Como se não tivesse nada com aquilo. Era o rapaz de quem o pai tinha comprado o cãozinho.
-Quede o cachorro? Tem que levar ele também.
O pai ficou branco. Perdeu a fala. Entendera tudo.
Toda a felicidade do filho. Todos os planos. A casinha prontinha.
-Moço… mas…
-Tem nada de mais não, sô! Vam’bora logo que o delegado está esperando. Pega o cachorro logo e vam’bora.
O menino desandou num choro desesperado. Custaram a tomar o cachorrinho dele.
Homens de pedra. Não viam a dor que causavam. Pior que arrancar dente sem anestesia. Dor que dói por dentro. No fundo da alma. Não tem remédio que cura.
Tentou argumentar. Os homens não queriam saber de conversa.
A mãe chorava baixinho. Pegou o menino no colo. O menino chorava.


Na delegacia, um pessoal muito bem vestido aguardava.
Um menino, mais ou menos como o Daniel, correu para abraçar o cão. Oto! Era o nome do cãozinho. O menino chorava de alegria por reencontrar o bichinho. O seu cãozinho! E olhava para o pai de Daniel como quem vê um monstro.
Este, morria de vergonha. E raiva! Raiva de si mesmo. Como fora entrar nessa?
O mundo girava em sua cabeça.
Levaram ele para o delegado.
-Safado!
-Mas doutor…
-Que mas coisa nenhuma, sô! Safado! Pior que ladrão! Receptador é pior que ladrão!
Lá fora, o menininho perguntou para o pai:
-Quê que foi que ele falou, pai?
-Receptador, meu filho. É gente que compra coisa roubada.
O delegado esbravejava.
-Receptador é covarde! Pior que ladrão! Ladrão, pelo menos, é homem! Enfrenta! Arrisca! Sabe que uma hora pode ser preso. Pode tomar um tiro. Receptador, não. É covarde. Fica em casa escondido. Guardando seu dinheiro que ninguém sabe de onde veio. E a sociedade que se dane. Se não tivesse receptador, não tinha ladrão. Ladrão rouba porque tem pra quem vender.
O pobre coitado ali. Cabeça baixa. Tendo que ouvir a tudo calado.
Queria falar. Dizer que não era nada daquilo. Que acreditara no rapaz. Parecia gente boa.
-Pior né isso não. Pior é que quando a casa cai fica aí se borrando. Vira homem, sô! Levanta a cabeça! Ou você só é homem na hora de se aproveitar da pechincha?
Virou-se para o dono do cachorro:
-Tem jeito não, uai. Trabalhar a gente trabalha. Mas tem muito cabra safado como este para atrapalhar. Se não tem quem compra, ladrão tá desempregado.
E voltando-se para o outro:
-Você não tem coração não, rapaz? Como é que toma um bichinho de uma criança deste tamanho? Quanto ela já não sofreu por isso? Você não pensa não, é? Nunca pensou que poderia ter sido com você? Imagine! Seu filho chorando a noite inteira o objeto amado. É que de você eles não vão roubar, né! Ladrão não rouba de colega.
Humilhado. Maltratado. Ofendido. E nem podia abrir a boca. Se defender. Tinha que ouvir a tudo calado.
Pensava no filho. Na mulher. Como estariam sofrendo em casa!
Culpa sua! Comprar coisa na rua. De qualquer um que aparece oferecendo. Sem saber de quem.
Jogaram ele numa cela escura, fria, fedorenta. Horrível.
Lá dentro a campainha de casa martelando. A campainha de casa…


A campainha de casa!
Acordou assustado. Suando. A campainha tocando. Levantou nervoso.
Era seu irmão, cunhada e sobrinhos. Visitas para o aniversariante.
Daniel veio correndo de alegria. Mostrando Nicky para os tios e primos. Todo contente.
O pai pediu licença. Saiu de casa. Meio sem graça.
-Quê que foi, bem?
-Nada não. Nada não.
Pegou o carro e foi à procura do rapaz. O tal de quem comprara o cãozinho.
Procura daqui. Pergunta dali. Não sabia nem o nome. Só sabia que era um rapaz assim… assado… E que aparecera no bar oferecendo o bicho.
-Ele mora aqui pra cima. Deve ser na segunda ou terceira rua.
Custou a saber o apelido. Bill. Um menino falou.
-Um cara que estava vendendo uns filhotes de Boxer? Eu sei. É o Bill. Mora lá perto do final do ônibus. É só perguntar lá. Todo mundo conhece ele.


Bateu a campainha.
Não sabia o que dizer. Como explicar que estava ali por causa de um sonho que tivera? Que precisava ter certeza de que não tinha comprado nada roubado?
A mãe atendeu.
-É… Eu queria… O Bill está?
-Ele saiu aí. Ele não pára em casa. Fica na rua o dia inteirinho.
-É que eu comprei um cachorrinho na mão dele…
-Ih, moço! Agora só tem mais um. Eu estou doida pra ele vender logo. Já não agüento mais tanta trabalheira! Eles sujam o quintal todo. Já tem que tolerar a mãe. Ela pelo menos vigia a casa. Agora inventou de cruzar ela. Ele vai pra rua e fica por lá o dia inteirinho. A trabalheira fica por minha conta. Já não chega o trabalho que ele me dá. Sem saber onde ele está. O dia inteiro vagabundando na rua. É um diabo esse menino!
A mãe continuava a falar. Não tinha freio na língua.
O pai de Daniel não ouvia mais nada. Respirava aliviado.
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