Aqueles campos faziam-no lembrar e pensar nos tempos em que sua vida era outra. Sentia um certo frio na barriga que, por vezes, fazia-o tremer.
Subia naquela árvore e ficava a pensar.
As histórias ali contidas soavam nítidas em sua mente. As brigas de seus pais, os choros, as brigas que tivera com sua mãe, os dias que saía para a farra.
Aquele campo era, de algum modo, sagrado. Trazia uma certa angústia, mas angústia esta que de vez em quando o ser humano procura.
Entardeceu e ele precisava voltar para sua casa. Naquela hora, porém, sua cabeça nem mais sabia o que era palpável e o que era lembrança. Tudo se misturara de forma agradável. Lembrava de quantas vezes não rira e passeara com sua mãe em lugares desconhecidos. Quantas conversas riquíssimas. Parecia tão próximo e ao mesmo tempo intocável.
Foi assim que uma lágrima lhe foi dada, também para limpar os sentimentos. Descendo sem que a tocasse, a lágrima escorreu por toda sua face, subiu em seus lábios e se desfez, como a gota faz ao mar.
Foi tudo tão pleno. A noite lhe banhava o corpo e a lua iluminava seus olhos. E assim ficou, sem saber por quanto tempo, a olhar tudo como se nada fosse. Como se tudo a sua volta estivesse guardado dentro si...
-Filho! Filho, cadê você?! - bem longe se ouvia seu pai procurando, chamando, cada vez mais forte.
Mesmo assim ele não se mexia. Era como se não conseguisse.
Assim, seus olhos continuaram a irradiar a luz da lua minguante. As estrelas ocupavam lugar ao seu redor e todo aquele universo poderia ser visto nele. Naquela única árvore, as lembranças e esperanças.
Seu pai parou a uns cem metros da árvore, olhou, largou tudo que carregava e saiu correndo.
-Querida, você voltou!!! - e, a ele também, uma lágrima foi dada...