Janaína? Vai estar ocupada na sexta-feira as quatro e meia?
A mãe tinha ido visitar a outra irmã, e queria que ela fosse ao aeroporto buscá-la....
Não, mãe, estou livre. Já está voltando?
Já, você acha que um mês não chega?
Tá falado, mãe. Qual aeroporto, companhia e vôo?
Tudo certo. Aeroporto internacional. quatro e meia. Sexta era o dia livre dela, mesmo...E além do que, um bom programa, chegar mais cedo e passear por todas as lojas, ver gente bonita, gente chegando, gente saindo. Que inveja. Pelo menos dava para fingir por um pouquinho que também era uma viajante aguardando o horário do vôo. Isto se fosse bem vestida. Se fosse de qualquer jeito, mostraria que era alguém que fora buscar alguém, mas bem vestida, ah, isto era diferente. Circular displicente pelo aeroporto, flertar com um e com outro, mostrando um ar de superioridade e mistério. Homens gostam de mistério, pensou.
O telefone tocou.
Não ! Verdade mesmo? Saiu hoje? Muito obrigada ! Você nem sabe como eu fico feliz. Obrigada, mesmo.
Puxa, era um dinheiro extra que ela estava aguardando. Bem na hora.
Podia comprar a porcelana que tinha visto naquela loja, e chega de usar pratos desencontrados...Ou, mudar as cortinas. Ou colocar na poupança...
Podia fazer uma plástica...Mas, e se ficasse feio?
Mãe chega sexta-feira. Quatro e meia. Vou trazê-la para
lanchar lá em casa , pensou Janaína. Depois a levo para sua casa, que ela deve estar com a geladeira vazia.
Bom, ainda era quarta. Tinha ainda dois dias de trabalho duro pela frente.
Olhou para a mesa em frente. Tantos homens ali, mas nenhum fazia seu gênero... Cinco anos sozinha, desde que Felipe se fora com uma sirigaita mais nova. Trivial, o de sempre.
Ligou para o banco, para confirmar o depósito. É, o dinheiro estava lá.
Chegou em casa pensando num banho, TV e cama. Mas alguma coisa estava formigando em sua cabeça. O aeroporto. Duas vezes estivera olhando o restaurante do aeroporto, que luxo !
Decoração pós-moderna, as mesas tinham até aquelas coisas, como se chamam? Sous-plaîts? Ai, meu francês, pensou ela...
Deve ser uma nota, almoçar lá. Mas, mais vale um gosto que dez vinténs...
Remexeu o armário todo, procurando "um traje"...Riu, lembrando...A filha sempre falava " um traje", fazendo gozação.
Nunca um vestido, ou um conjunto, mas "um traje"...E ela não achou nem um traje condizente com o restaurante do aeroporto. Ainda bem que o dia seguinte era o dia da faxineira, ela iria ficar horrorizada com a bagunça, mas sempre ela poder ia dizer que tinha entrado um ladrão lá, procurando um "Dior", mas como não achara, deixara as roupas todas jogadas no chão.
Dormiu o sono dos justos, entremeado de aviões taxiando, portas de salas Vip abrindo-se e fechando-se sozinhas....e ela almoçando naquele restaurante, de teto rebaixado, luzes embutidas, garçons poliglotas.
Acordou com o rádio relógio irritante...."Ai, eu um dia ainda pego um martelo e acabo com a sua graça..."
Correu à cozinha e colocou a água para o café. Ela odiava cafeteiras, o café nunca era quente nelas. Entrou no banheiro e sem querer se viu no espelho. Que droga ! Estava um caco. Não achou outra palavra. Um caco. Precisando de banho de loja, de ser paparicada por algum namorado. E qual o melhor lugar para ver homens ricos e bonitos?
Não precisou pensar muito para decidir que aquele era um típico dia para não ir trabalhar. Voltou à cozinha, desligou o fogão, tirou o trinco da porta, para que a faxineira não batesse, e mergulhou na cama de novo.
Mas não conseguiu dormir. Via-se desfilando pelos vastos saguões do aeroporto, entrando elegantemente numa loja de souvenirs, numa livraria, tomando um café expresso...
Arrependeu-se de não ter ido trabalhar. Mas agora já era tarde.
A loja onde a mãe comprava há anos ! Lá sempre havia o traje perfeito para a ocasião certa. Traje para ir ao aeroporto esperar a mãe. Era o que ela queria, e de quebra, que também servisse para almoçar naquele restaurante, e mais de quebra ainda, para fisgar um namorado.
A Xanda iria dizer, Ora, para ir buscar sua mãe, jeans está perfeito !
Mas ela iria dizer, "Preciso um traje lindo para um almoço importante" . E Xanda mostraria aquelas roupas que custam os olhos da cara, mas que sempre iriam estar de acordo com o lugar.
Passou pela Selma sem muito papo. Ela já ía perguntar se ela estava doente quando resolveu-se por uma desculpinha...
Não, tudo bem, hoje tenho um serviço para fazer na cidade, posso ir mais tarde.
A Selma tinha feito o café. Tinha tempo, a loja da Xanda só abria às nove. Depois, ninguém precisa comprar nada às nove. Melhor ir ao salão, e dar um jeito neste cabelo, e nestas unhas, que terror de unhas !
Ligou para a Sandra. Cabelo, manicure e pedicure. As nove? Claro, estarei aí.
Selma já vinha lá do quarto. Dona Janaína, que foi que aconteceu com seu armário?
Olha Selma, eu poderia te contar, mas você não ia acreditar mesmo....Foi um homem que eu escondi aí....
Ela abriu um sorriso largo, como quem diz, "Esconder, prá que? E de quem? No dia que a senhora arranjar um homem, o que menos vai querer fazer vai ser escondê-lo..."
Selma, seja um anjo, e ponha tudo de novo lá, que eu te dou um dos meus vestidos, feito?
A faxineira olhou-a de menesgueio...Fechado ! Mas pela bagunça que vi lá, podiam ser dois....
Salão... O que foi, matou serviço hoje?
Por que é que cabelereiras e manicures são tão curiosas? Se eu disser que vou esperar minha mãe no aeroporto vão dizer que fiquei louca. Mas no final das contas fiquei mesmo. Ando louca !
Cor de esmalte? Nossa, eu não tinha pensado nisso....Qual será a cor do traje? Ou vou comprar o famigerado traje em função da cor do esmalte?
Ela pensou, pensou, e chegou a uma conclusão. Vamos perguntar, pensou.
Irene, se você quisesse que eu ficasse muito, mas muito elegante, com classe total, qual a cor que escolheria? Irene foi em cima : Que hora vai ser o acontecimento?
E ela: É um almoço. Mas muito, muito elegante.
Ah, então, nada escuro, eu colocaria um translúcido.
Cabelo? Ih, minha filha, seu cabelo está um terror. Ninguém mais está usando tão grande. Faz um corte assim, e ela mostrava, dá um trato, está ressecado, tem bem três cores diferentes, olha !
E ela se sentindo o lixo dos lixos.
Uma hora da tarde, e eis uma nova Janaína saindo do salão. E com recomendação expressa de fazer uma maquilage discreta, um batom que não chocasse com a roupa.
Almoçou num "A Quilo" no centro da cidade, e marchou para a Xanda.
Após duas horas de muito veste e despe, lá estava ela com uma sacola com o traje impecável. Três peças, linho e seda se combinando, em vermelho e pérola, quase branco.
O batom tem que ser vermelho. O sapato, acho que vai ser vermelho também, se for preto fica parecendo uma Pomba Gira, se for branco, dizem que branco é para noiva apenas, ou debutante.
Entrou na melhor sapataria que conhecia. Comprou uma bolsa caríssima, um par de sapatos idem.... Pagou com cheque, à vista. Queria começar a se sentir rica. O primeiro passo para ser rica é sentir-se rica.
Foi para a loja de departamentos. Perfume francês, três pares de meias colantes das mais caras, nunca se sabe se vai aparecer um parafuso nestas cadeiras de aeroportos. Batom vermelho.
Chegou em casa e colocou tudo arrumado na cama, como se fosse vitrine de loja. Quase matou a gata que ousou caminhar sobre as preciosidades. E não teve coragem de somar os canhotos do talão de cheque.
Fez um sanduíche de presunto com queijo, e tomou uma cerveja, só para relaxar.
Ligou para a mãe.
Você vem mesmo?
Se eu for te dar trabalho, pode deixar, eu pego um ônibus executivo, ou um taxi.
NÃO, ela quase berrou ! Eu faço questão absoluta de ir !
A mãe riu do outro lado, coitada. Ficou contente com a atenção da filha. Nem sabia que estava lhe fazendo tanta falta.
Quinta feira. Noite mal dormida, pela manhã chefe estourado, querendo saber por que ela podia se dar ao luxo de ir arrumar o cabelo mas não tinha ido trabalhar. E ela....Cortar cabelo? O senhor não observa nada, ein? Cortei o cabelo no sábado passado, e só agora o senhor vê? Coitada de sua mulher, tendo um marido assim tão desligado.
O dia custou a passar. Uma unha estava ameaçando quebrar. Telefonou para a Sandra.
Unhas de porcelana? Claro, pode ser amanhã?
Não, gemeu ela, precisa ser hoje...
O que, Dona Janaína? Precisa sair mais cedo? O que está acontecendo? Ontem a senhora falta, chega hoje toda reformada, e ainda quer sair mais cedo?
Ela prometeu levar o serviço para casa, e trazer tudo pronto.
E ele : Mas que não se repita...
Unhas de porcelana. Vermelhas. Longas. Na opinião de Irene, unhas de puta, não de madame, mas o que fazer? Gosto é gosto...
Agora ela já sabia que o batom era vermelho, assim como a saia e o casaquinho, o sapato e a bolsa chanel de acrílico, com a corrente dourada. Iria usar brincos de ouro e anéis de ouro. Mas nada de anel que parecesse aliança, embora digam que os homens olham mais para as casadas, mas... Portanto, unhas vermelhas...
Tomou um demorado banho, pediu pizza pelo telefone mas não comeu. Só faltava me dar uma dor de barriga amanhã, pensou...
Dormiu um sono leve, acordando a cada meia hora. Enfim o dia chegou. Tentou relaxar, teria de estar no aeroporto ao meio dia. Mas porque não às dez? Enfim, um mundo de lojas a ver, e poderia entrar no restaurante a uma hora...
Começou a vestir-se com cuidado. E se lá no aeroporto ela visse alguém interessante? Sempre haveria esta chance. E se este fosse o dia D ?
Estava pronta às oito e meia. Meia hora para chegar ao aeroporto, se não houvesse muito trânsito. O dia estava lindo ! Perfeito !
Deixou para passar o batom no estacionamento, bem como o perfume.
Não eram dez horas quando chegou ao estacionamento. Achou uma vaga, passou o batom, perfumou-se, conferiu a bolsa, duas meias extras, maquilagem , talão de cheque na carteira. Seria bom sacar algum dinheiro no caixa eletrônico.
Atravessou a praça de estacionamento e entrou na área do aeroporto.
Para sua tristeza, muitas lojas estavam fechadas, e havia pouquíssima gente circulando.
Foi ao caixa eletrônico, e começou a olhar as poucas lojas que estavam funcionando.
A bolsa de acrílico era incômoda para se carregar, e o sapato estava apertando um pouco. Mas ela gostou da pessoa que viu em um espelho, numa das lojas.
E se o restaurante também não estiver funcionando?
Pegou uma rampa rolante e foi certificar-se. Estava, mas só abriria ao meio dia.
Onze e meia, o sonho parecia estar virando um pesadelo. Sentiu dor de barriga. Foi ao banheiro, e também acertou o batom.
Sentou-se numa poltrona perto de um quiosque de café, e mesmo sem querer decidiu tomar um. E nada de ver um belo espécime. Uns aeroviários, uns pilotos grisalhos, barrigudos, que deviam ter seis filhos cada...
O tempo não passava. Foi ao balcão da companhia aérea e perguntou sobre o vôo. A funcionária respondeu : Meu Deus, a senhora vai ficar aqui esperando até às quatro e meia? Por que não vai para casa e volta depois?
Ela não entende nada, pensou....
Meio dia e meia....Razoável para entrar no restaurante. Posso demorar lá bem umas duas horas.
Entrou, e de cara tropeçou sem querer, mas se refez rápido.
Escolheu uma mesa estrategicamente colocada, e ficou esperando o garçom.
Ele veio gentil, e explicou que tinham o serviço à la carte, e também o self-service. Ela optou pelo self-service , que lhe daria mais chances de circular de ser vista.
Mas achou conveniente pedir algo antes do almoço.
O que vai ser, perguntou o garçon.
E ela, decidida, uísque, escocês, on the rocks....
Amargou uma hora com aquele uísque nas mãos. Odiava qualquer bebida..., especialmente uísque. Por que não pedira um martini? Teve de esperar o gelo derreter mas se tornar menos terrível.
Afinal, começou a se servir. Primeiro uma salada. Isto parecia de acordo. Claro que preferia fazer logo um prato com tudo junto, estava praticamente sem comer há dois dias...
Depois, um grelhado com aspargos e um molho.
Já ia voltando ao balcão para um terceiro prato quando achou que o maître estava olhando com um ar de censura.
Ora, pensou, que droga, estou pagando, mas talvez não seja adequado...
Serviu-se de uma sobremesa exótica, que tinha um gosto de nada com uma calda de coisa alguma...
E olhou para os lados, para ver se alguém estava fumando. Ninguém.
Pediu um café, e veio um capuccino no saquinho, mais a água quente. Ainda pediu um licor, a conta.
Daria para almoçar uma semana....
Mas, mais vale um gosto....O pior é que nem estava sendo um gosto.
Saiu de lá com vontade de ter entrado de calças jeans, e mostrado uma tremenda falta de educação, e feito uma montanha de comida no prato, e se fartado. Noblesse oblige, pensou ela...
Dois andares abaixo havia uma lanchonete, e ela pensou que bem poderia ter comigo um qualquer coisa burger..., teria saído dez por cento do que pagara...
Mas, eram ainda duas horas. Mais duas horas e meia de esnobação, caso o avião não atrasasse.
Comprou uma revista em inglês. Seu inglês não dava nem para o gasto imediato, mas acho que era de bom tom ler uma revista estrangeira de moda. Chamaria mais atenção.
Tornou a entrar no banheiro, tornou a retocar a maquilagem, e saiu triunfante.
Sentou-se numa daquelas poltronas que eles prendem umas nas outras, será que é para não roubarem?
E foi aí que ela viu o homem. Se nada mais tivesse valido a pena, aquela visão do outro mundo teria pago as desditas, a dor no dedinho do pé, a pouca comida que comera, o uísque que fora "forçada" a beber....
Ele era tudo o que ele sempre sonhara, e achava que não existia. Dos pés à cabeça, perfeito !
Ele estava sentado perto dela, mas não a olhava. Lia um jornal, nacional, e não parecia estar disposto a levantar os olhos do mesmo.
Ela levantou-se, e andou pelo saguão com ar enfastiado, como se ele pudesse perceber e perguntar:
O vôo está atrasado?
Mas nada...Ele nem a notava...
Foi ao quiosque e pediu um café com creme. Notou que ele estava perto dela. Tentou sorrir e foi correspondida. Ele também pediu um café com creme.
Bom começo, pensou Janaína. Quem sabe agora ele me diz que temos os mesmo gosto?
Mas ele tomou o café e voltou a sentar-se. Ela fez o mesmo, cruzando as pernas cuidadosamente, para ser sensual e não vulgar.
Ele dobrou o jornal e colocou-o na poltrona ao lado. Ela pensou, Que droga, se ao menos eu estivesse lendo uma revista que não fosse de moda....Poderia ir lá e perguntar, Vamos trocar? Mas como é que se chega para um macho desta categoria e se oferece uma revista de moda feminina?
Ela acendeu um cigarro, queria ver se isto seria motivo para uma palavra. Se ele fumasse, poderia sorrir. Se não fumasse, talvez começasse a falar dos males do cigarro. Mas o importante seria ter um começo.
Ele nem disse sim, nem não, apenas nem notou se ela estava fumando.
Ele não usava aliança, mas quantos não usam? Estaria esperando para embarcar ou esperando alguém? E quem seria?
Ela apostou que ele não tinha passado pelo mesmo drama que ela, antes de ir ao aeroporto. deveria ser deste tipo de homem que tem roupas que nem imagina, que veste apenas griffe famosa....E que não precisa dar muita confiança a chefe para faltar serviço. Deve ter um escritório cheio de gente, talvez seja um advogado famoso, um médico rico, um arquiteto.
Na sua cabeça, Janaína já imaginava a casa dele. Não, casa não. Um apartamento, na cobertura, com vidros fumê e alumínio para todos os lados. Preto e prata. O banheiro deveria ter uma hidromassagem gigante, preta.
Ela pensou no robe de chambre dele. Deve ter monograma bordado, e é de seda, claro.
Ela se imaginava junto com ele na hidromassagem. Deveria ser maravilhoso. Se ele me convidasse agora eu iria, e minha mãe na certa entenderia.
Mas se não me olha, é porque sabe que eu sou uma coitada. Também não sou muito pobre coitada, mas comparada a ele....
Levantou-se e foi até lá, perguntou: Posso ver o jornal?
Ele, gentil: Claro, fique à vontade.
Que voz....
Ela nem queria ler nada....Ela queria que ele a abraçasse alí mesmo, e dissesse:
Você é a mulher que eu sempre esperei....
Ela acordou do devaneio com os claque-claque dos mostradores de chegada e saída de aviões.
Ele levantou-se num ímpeto. Era a primeira vez que ela via nele uma atitude que não era tão elegante. Ele tinha sentimentos, ela perdoou , e se não podem ser por mim, quero ao menos ver a felizarda...
O avião que chegava era procedente de uma capital do nordeste. Quem estaria chegando?
Ela fez de conta que também esperava alguém naquele avião, e ficou olhando pelo vidro da sala.
Foi quando ela viu a figura, um rapaz baixo, atarracado, mais para gordo, de bermuda, camiseta, cabelo ondulado grande, amarrado com um elástico, sandália e segurando um berimbau.....
Os dois se viram, e foi só por mais alguns segundos que durou o sonho de Janaína. A elegância personificada de seu deus aproveitou que agora as portas estavam todas abertas, e abriu os braços, imitando um avião, e decolou na direção do estranho ser que ela vira lá dentro, e a elegância deificada gritou:
Meu Amor!
E os dois se atracaram num beijo de boca, que só a Janaína espantou. Ninguém mais parecia se importar com o arroubo romântico e saudoso dos dois. Cada qual na sua...
Ela quis entender o que estava acontecendo, mas sentiu o chão desaparecendo debaixo de seus pés, a vista ficou escura, e ouviu um fuimmmmmmmm nos ouvidos....
Acordou numa sala de enfermagem, uma enfermeira tomando-lhe o pulso, perguntando-lhe o nome....Ela quis sentar-se mas a cabeça doía demais...
Perguntou as horas. Quatro e vinte.
Preciso ir, preciso ir, gemeu...
A enfermeira ainda perguntou, Tem certeza?
E ela viu que a bolsa de acrílico estava rachada, com a queda, naturalmente, mas pegou-a com as duas mãos, agradeceu, e levantou-se, O salto do sapato também tinha quebrado. Saiu da sala, capengando, sem saber como chegar ou onde deveria estar....
Perdeu-se por vinte minutos nos corredores, mas afinal, tonta, e sem saber ainda o que tinha acontecido, chegou às portas da sala envidraçada, e viu sua mãe.
Janaína, se você me demora mais um pouquinho eu já ia pegar um taxi, e por que é que você está tão pálida? E o que aconteceu com sua bolsa?E seu sapato? Minha filha......
Você foi assaltada?
Ela abraçou-se à mãe, como se fora uma criança, e então, chorou. Só chorou....