De uns tempos prá cá passei a trocar mails, pela internet com uma intensidade que não tinha acontecido até então...passei a procurar as pessoas do meu passado...preferencialmente minhas amigas, sempre tive as melhores amizades com as mulheres...e algumas aos poucos fui achando...
Foi muito bom quando localizei o Email de Bia....insisti, seus mails eram curtos no início.....mas insisti...essas mulheres são sempre muito ocupadas, preguiçosas para escrever...na terceira vez que escrevi ela mandou seu telefone....é mais fácil.
Minha insônia é sempre contumaz e persistente...sobrevivo a ela há séculos....e acabei ligando para Teresópolis, minha amiga pediatra mora lá fazem alguns anos....foi difícil engrenar a conversa...o marido chegou a interromper umas vezes a nossa seção nostalgia...
Tantos anos e travessuras de jovens comunistas foram passando entre risos de saudade.....e
As pessoas.... nossos velhos camaradas foram reaparecendo um a um....era tudo uma delícia de flash back....mesmo as prisões e porradas eram motivo para nossas risadas....tantas derrotas....Foi por ai que veio a lembrança de Vera.....minha polaquinha.....e a notícia...
VERA ESTAVA MORRENDO EM SUA CASA NOS EUA!
Não teve chão para o tamanho de minha queda....fulminante....fôlego eu perdi de uma vez....custei a recuperar meu raciocínio... articular mais algumas perguntas....Bia não sabia como fora intensa e prolongada minha paixão pela camarada Vera....quanto doíam as palavras que ela ia tecendo...uma teia de comentários ...cada vez mais técnica e atordoante.
Não chorei ali....mas telefonei para deus e o mundo em busca de informação....e em cada telefonema o quadro piorava....até que consegui ligar para o irmão Samuel que sem a menor paciência comigo foi revelando o pior e mais completo boletim.....minha polaquinha voltara do hospital para morrer em casa com as duas filhas....
Não foi fácil mas tentei trabalhar....com todas aquelas lembranças bailando em minha cabeça...tempos difíceis que metamorfoseavam-se em restos de felicidade e ...toda a dureza foi indo...indo e só ficou a presença dela ....nossos momentos........e o sujeito eu.... chorou...foi tão bom chorar....chorar por ela....nunca tinha chorado por ela antes...Milagres da terapia Reichiana que me fizeram chorão aos 37...antes eu apenas não conseguia... felizmente trabalho com mulheres e elas compreendem essas coisas ...
Agora me parece claro que nunca senti tanto uma perda.... nunca tinha me dado conta do gigantismo daquilo em mim....
Era um garotão comunista de classe média...solidário....oficial de marinha mercante...recém desembarcado depois de poucos anos a bordo....mas o suficiente para contar umas vantagens....o que sob certo aspecto foi muito bom com as mulheres... especialmente com as militantes.....O tempo era da clandestinidade...tudo quase ridículo de tão secretinho....mas ajudando a preservar o couro de muitos de nós, comunistas.
Uma reunião zonal em Inhaúma....eu devia pegar dois camaradas com uma revista , acho que era Manchete, o sinal identificador....o lugar, um barzinho na boca de uma favela....não fiquei pouco surpreso quando encontrei meu ponto...eram duas mulheres....quase nada se falava a toa nessas ocasiões, fora os contumazes maljuros a ditadura ao capital internacional e similares.....camaradas Josefa e Sipriana....tudo muito normal... se você não fosse um sequaz do maldito sistema a procura de levados meninos vermelhos....que nomes!.....mas o meu era Peixoto...Camarada Peixoto....apesar do crime de lesaideologia não pude deixar de notar aquela loura fornida...tentando ocultar-se sob ares de camponesa ou favelada.....se todas fossem...talvez uma camponesa da Polônia....tipo escultura de realismo socialista....forte ...alta(mais do que eu) e impassível....com todo aquele olhar firme e distante, lenço verde na cabeça aprisionado os cabelos louros que mais tarde descobri pintados.... ela era ruiva!, sacola de papel de supermercado...vestidinho de brim....Caramba eu nunca lembrei assim do que uma mulher vestia depois de algum tempo!
E faz TANTO TEMPO....QUE PARECE ONTEM....assim ela apareceu pela primeira vez em minha vida....nem consegui ver a cor de seus olhos....castanhos. Foi apenas mais uma reunião.
Um ano de agitação....panfletagem....impressões....muitas impressões...e outras misérias de uma quase guerrilha desarmada, ou quase...não encontrei mais ....Até uma panfletagem de aniversario do partido....na avenida Brasil....madrugada....Foi meu sorriso mais especial para aquela camarada Sipriana.....tentei brincar com ela....minha especialidade em fazer rir foi até reprimida pelos demais, gente muito séria....fazendo coisas sérias, não sem antes tirar dela as mais lindas gargalhadas....um sorriso descomunal....quase opressivo....Tarefa finda: fomos cada um para sua clandestinidadezinha....ratinhos das noites da democracia.....mas infernizando o mais possível.....
Tentei perguntar por ela a outras camaradas....jogo duro...fui até advertido...mas consegui saber de minha potranca loura....viúva de um dos primeiros militantes assassinados na guerrilha Amazônica, de quem tinha duas filhas....e... companheira de um dos maiores dirigentes do partido no estado...um cara muito mais velho...cara de corvo anêmico....e chato.....muito chato...qualquer contato fora da rotina de militância seria um crime hediondo contra as leis do santo leninismo sino-albânico.
Muito embora rolasse nos meios militantes as maiores corneações e patifarias como em qualquer grupo humano que se preze....
Meses até começar a campanha da anistia....manifestações gloriosas onde comia a porrada, apanhando até criança de colo....a PM do Rio já mostrava um animo pela covardia bem nítido....preferindo bater em meninas, velhas e velhos....das varias confrontações que participei....incrível! hoje recordando....na média geral... bati mais do que levei....só os homens caídos eram brindados com a atenção de cassetetes e botas....os moços de farda procuravam sempre os mais débeis para fazer uso de seus magníficos instrumentos....Nessas pelejas passei a encontra-la mais amiúde...trocando olhares e sorrisos....pintando faixas....e pixando, aliás a minha especialidade....
Apesar de minha pose de marinheiro-operário....meu forte sempre foram os livros...aguardava as manifestações na Cinelândia dentro da Biblioteca Nacional de onde saia impávido para a luta popular...e numa tarde dessas esbarrei na escadaria com ela, acompanhada de outras camaradas cheias de sacolas cheias de faixas cheias de anistia e cheias de disposição....dei um oi...acanhado....meu forte com o sexo oposto é quando me deixam falar....os começos são uma desgraça... mas elas foram mais firmes e alguém dali me gritou - PEEEIIXOOOTOOO! ...e fui sentar ao lado delas...e discutir a conjuntura...uma espécie de PRÉ -interação intelectualdogmática sem a qual era impossível ser reconhecido comunista, muito menos tirar uma camarada para dançar.... E NÃO TIREI MAIS OS OLHOS DELA ATÉ O FIM DA PASSEATA....e mesmo com o companheiro ao lado ela continuava me perturbando com um sorriso ....nunca consegui errar a ortografia de anistiamplageral e irrestrita....mas dessa vez errei algumas....uma delas perenizada num tapume da Av Rio Branco...ficou anos...lá... atentando contra a ditadura e a língua portuguesa.....
Daí em diante foram uma série de esbarrões....em reuniões....palestras...cursos....na sede do jornal e nas passeatas....muitas delas...Foi ela que me convidou para tomar chopp com a elite dos dirigentes....incluindo o corvo anêmico...Eu já sabia que ela era médica...depois de muita citação de toda a linhagem do marxismo....aulas de ética vermelha expressa.....regada ao chopp do glorioso Amarelinho....fomos escapando os dois da chatura...nos olhos um do outro... e travando um papo separatista, diversivo, e pequeno burguês....teatro....literatura...acabando em horóscopo...onde fiquei sabendo que era pouco mais velha que eu....o bom e velho horóscopo chinês era infalível para saber o aninho de nascimento....foi ali que começamos a nos deliciar um com o outro....as vezes um chato da roda lembrava da gente e perguntava em suite o que se achava disso ou daquilo... as respostas eram quase sempre concordância ....mesmo as minhas que sempre eram elaboradas no sal da criticidade....o que já me valia a fama de “anaquistaa’....pecha que no meio vermelho já te tirava a postura antes de abrir a boca Rotulado-DESCREDENCIADO PARA COMENTÀRIOS ALINHADOS À DOUTRINA.
Voltamos ao chopp mais algumas vezes....mas o corvo anêmico tinha o cuidado de tirar a sua protegida para longe de mim...paguei algumas contas, era dos poucos que ganhava bem...para ficar olhando para ela...de longe...isso pelo menos fazia que lembrassem da minha controversa figura....o marinheiro paga....!
Mas ...já diz um tal bolero...acho que é um bolero...o que tiver de ser será...e minha hora chegou...quando absorto numa mesa de bar cheia de mulheres, digo camaradas...onde eu era o coadjuvante... de um grande amigo meu o camarada Sérgio...o cara mais gato do partido....e elas ....tentando seduzir o cara que meio encabulado só galinhava porque as camaradas mordiam.... e eu... era o passe pra levar o cara pra qualquer lugar...menos a cama! Claro, nunca funcionei bem nesse tal de sexo grupal,- coisa de americano- Mac Donald...o papo com as mulheres sempre me pareceu mais lúcido ... e lúdico...estava ótimo aquela noite...foi quando ela literalmente entrou em cena....toda de branco..., os médicos preferem o branco....magnífica...maquiada....coisa que até então não havia visto....Foi imediato...OO! Vera!...pelas barbas brancas de Marx...ela olhou...sorriu e veio me cumprimentar...tão sem ação que ela mesma teve de se convidar para sentar conosco....e pegar a própria cadeira....e sentou...ao meu lado...mal conseguia me mover para dar espaço...daí em diante até a marquise do bar poderia ter caído....em mim pelo menos....e a conversa foi se perdendo....um fade out do resto da humanidade....fomos ficando os dois ali sozinhos...na mesa cheia....no bar cheio...praticando o mergulho, nos olhos um do outro...não sei mesmo quem começou.... mas as pernas dela , ainda sinto aquilo...calafrio... encostaram...e foi um mar de pressões físicas....um atrito meio inocente...que atrito!...até peguei nas mãos dela....fortes como as minhas que trabalhava fazendo força....ela também se esforçava no trabalho....só mais tarde fui pensar naquela camponesa judia cerrando ossos...costurando gente....abrindo os aflitos e arrebentados para reparos de emergência.....lá eu com aquilo tudo de mulher ali ao meu lado ia pensar na sangueira do ganha –pão dela.... mas a coisa ficou por ai....beijinhos no rosto de despedida....só uma amiga minha percebeu o ocorrido....ninguém estava ali me dando a mínima, mas a Rose estava...minha querida Rose ...onde deve andar?...e quando teve chance veio me puxar as orelhas...”ela é companheira de.....” e eu lá...pratudoaquilo...
Tão certo, nessa época, quanto ler o JB tododia era minha esticada na sede do jornal do partido quando saia do trabalho...uma cervejinha com os camaradas....papos moscovitas ou albaneses.... Era uma quinta feira eu esperava minha namorada, no bendito jornal...ELA chegou, com uma amiga... ainda de uniforme hospitalar ....levantei da pilha de encalhe que fazia vez de banquinho...dei o lugar a ela , sentei no chão de frente para aquela maquina assassina de coxas brancas....coxas....coxas...o cheiro dela no meio daquilo tudo....devo ter ficado totalmente idiota....mudo...ela ria.....não sei o assunto mas conversávamos......talvez nunca tenha bostejado e gaguejado em mi vida ....até que ela me socorreu do vexame absoluto de me estatelar babando naquele chão sujo...que limpeza era coisa de burguês!....e me convidou para uma saída ao Catetinho, the best forró in the city!....ela levantou....um lindo coração de tinta impresso naquela bunda mais linda ainda.... e eu ...esqueci que esperava a Marininha, coitada e fui atrás das duas, meio lobo babante, meio cordeiro retardado....sei não...mas fui.... e fiquei esperando as duas terminarem a produção, uma eternidade no bar em frente ao prédio dela no Catete, o lugar que tinha mais comunista morando que o Kremlin, naqueles idos tempos, talvez até hoje, que o aluguel lá é barato.....Mas ela veio....um poço de maldade para me afogar num vestido indiano cor de vinho....coisa linda...se não fosse...eu estava mesmo encantado com o recheio....e fomos a luta ....tomamos umas com uns amigos que já estavam lá...e bailamos.....muito!...demais!....até seilaquehoras...eu agarrado nela....o perfume dela....o cheiro dela...o suor dela....suados os dois...não era a gente que rodava ...era o mundo...era tudo...e... como podia acabar diferente...um cantinho no salão quase cheio....fui eu dessa vez....foi um beijo só...que beijo....eu que já estava quase afogado no pescoço dela....mais alta...puleicontudo num mergulho suicida naquela boca... quase engasguei a moça, coitada....amoleceu todinha nos meus braços...coisa linda...não consigo me lembrar de nada depois disso, caiu o pano no resto daquela noite..
Depois.... depois foi trocar telefone ...ficar horas pendurado na linha....papo escuso...falando baixo.....as vezes o corvo atendia....outra vez a Sarinha a filha menor perguntou bem alto “mamãe! Você tá namorando no telefone?”.
Fim de semana....festa, comunista ADORA FESTA!, povo danado pra se divertir bem com pouca grana....Eu não era de perder um arrasta-pé, pus minha fantasia de dissidente...coisa mais pra roqueiro que pra comunista e fui de moto, minha Harlley, a vergonha do partido, bebia mais que eu, e vivia amarrada com correntes, meu cavalo de aço não tinha essa de voltar sozinho carregando o dono, sempre fui cagão, enchia a cara e ficava na casa de alguém, deixando a bichona enrolada numa corrente enorme, uma múmia ...., mas fui com ela, antes dei uma paradinha na Praça da Bandeira, para leves reparos que me cagaram devidamente a fatiola, mas cheguei....lindo, o único mecânico caracterizado na festa do santo partido operário...ela ....ela nada....meia noite ...ela nada....comecei a beber, isso é ir fundo na ansiedade....Quando chegou.....com a porra de nosso amado dirigente a tiracolo....por mais que eu me esforce, não consigo gostar do cara....parecia um mistura exótica de santinha e normalista....sainha...blusa ....branca...acho que era branca...alguém em seu estado normal poderia achar malvestida....mas eu ali não...
Estava totalmente demais...trocamos olhares....passei horas ou dias atrás do casalzinho....com um copo na mão....recusei convites de outras camaradas pra dançar, eu não era um puta bailarino, mas dançava, e elas sabiam disso...par disponível....eu espreitei por traz do copo... aguardando oportunidade....neguinho aqui levantando questão sobre a Nicarágua... eu respondendo qualquer merda, e olha que eu até hoje não sou papo fraco no assunto... por traz do copo espreitando.....quando veio a chance...peguei ela na saída do banheiro....abordagem perfeita com um romântico “I ai?” ... não dava pra dizer mesmo muita coisa.... e ainda por cima com a tremenda preocupação em me manter devidamente em pé com as perninhas batendo mais que Toyota Bandeirante, sempre fui forte na mesa, sentadinho....ou dançando....parou...fudeu! é perna pra todo lado parece que tão a fim de sair sozinhas...Disfarçando fomos saindo....discretamente....como gente civilizada....eu procurando manter o copo quieto em sua devida posição....não tinha planos na cabeça.....sei lá onde ela estava, minha cabeça provavelmente estava envolvida em manter o controle do resto do corpo, evitando assim o vexame...Só senti a mão me puxando pela jaqueta e me jogando de encontro a uma Kombi, aquela mulher me apertando...o copo caindo com tudo na gente...que merda! Que maravilha.... se não fosse o carro o chão era meu.... Vera me pegou pelos ombros ....beijou-me a testa....meus tremores se foram....o copo .... foda-se o copo....( como eu lembro do copo e da tremedeira...) puxei toda pra mim.... senti aqueles peitos em mim....minha reação quase furou ... ela... bandida encostou mais e riu.....e tirou o sapato pra me beijar... e foi uma coisa de umtesãosó....mãos entrandoportodolado...roupas empurradas ....os seios dela....brancos....branquíssimos... na pouca luz que havia....pegamos um no outro sem termo....toquei ela toda ......ela me tocou e apertou todo....minha boca foi aos seios....Merda! entrou um desgraçado de carro.....recompomos o possível e voltamos para dentro da festa tramando.....agora eu lembro bem sempre que podia ela tirava o sapato beijar, em qualquer posição, estou certo de que não era a diferença de altura a favor daquele literal mulherão.... mas alguma coisa de libidinosa....alguma busca telúrica de energia para o amor.
No dia seguinte olha eu de moto na porta do hospital.... íamos a Barra da Tijuca....mas a velhaca da Harlley deu o ar da graça, bateu pino...engasgou e por segurança....tivemos de nos contentar com um pulgueirinho no centro, daqueles meio limpos, meio cheio de putas, meio cheio de veados, que são lá gente como toda gente, todos nós um pouco putas e um pouco veados.....mas o estádio não importa se o jogo é de seleção e ela era.... a própria seleção de setenta.....eu fui afoito....muito afoito.....arranquei nossas roupas como um cortador de cana que trabalha por peso...foi dessa vez que descobri a ruivice de Vera.....loura...com o sexo emoldurado em vermelho, fui direto a ela.... com toda estupidez que o tesão mal guiado pode permitir a um homem..... mas ela enrolou o jogo.... fez cera, dominou tudo e mais eu, transformando uma tempestade do meu desejo em mar tranqüilo de por do sol...as vezes com uma certa força.... era tão forte quanto...ou quase.. ....e... penetração....foi só no final do segundo tempo.....na prorrogação....depois de toda exibição a ser feita todo estudo toda tese..... Deus eu me perdi, aprendi tanto... guiado.... adestrado...comido...uma tarde eterna..... no more coments.
Já não nos controlávamos....foram dois anos desfrutando aquela danação....por causa dela não embarquei mais....e ... sabia se fazer de difícil.... negar....brincar....tinha minha idade...mas ela era a mulher e eu o guri...ela ensinando com todas as paciências que uma mãe possui....eu aprendendo....eu crescendo com ela e perdendo meus medos....nunca nos curamos mais disso....
Acontecia em todas as horas possíveis, umas com a pressa dos condenados...em salas fechadas... com pilhas de panfletos....uma vez na escada.....quase ficamos presos no prédio ...
Da sede do MDB....nas minha kombis velhas de doer....Mas o melhor mesmo aconteceu no lugar demarcado...lá onde ela reinava em mim....quantas formas...quantas foram as vezes em que me quase me afoguei entre suas pernas, perdendo o fôlego naquele lugarzinho almiscarado e doce.... era doce quase sempre doce....como nem todas são ... ficam doces apenas quando férteis....mas ela não....sempre doce..... uma perdição...que me dava o troco com o cuidado cirúrgico de uma assepsia total.... nunca saiu assim me pegando sem lavar antes....mas não raro me matando até o bendito final....bendita seja essa mulher...Nossos beijos, escondidos, muitas vezes flagrados....desviávamos do caminho naquelas ruelas próximas da Senador Dantas....as barricadas... arvores...bancas de jornal... entradas de prédios... e os beijos...quase canibais....pródigos em um tesão furtivo e ágil....como se só estivéssemos no meio daquela gente vermelha para esperar a hora....o descuido universal...e...pular um no outro, como uma briga de tigres....E os camaradas foram notando...e comentando nossas proezas que escondidas tão bem, se faziam na cara de todos...vez ou outra nosso furto era flagrado...quase sempre, na verdade...mas a coisa...não tinha termos...não tínhamos o controle....E o corvo foi ficando amuado...sem me encarar de frente...fechava o focinho nojento sem me olhar nos olhos...dizer palavra...foi a ela que o desgraçado perturbou...Vera nunca me levou aos detalhes ...mas creio que foram horríveis para ela e as meninas...que até hoje abominam o sujeito.
Finalmente minha polaquinha largou o corvo amarelento.... mas apesar de todas as minhas pressões não foi viver comigo.... teve lá seus motivos....e foi fazer o mestrado em SP....eu que nunca fui capaz de impedir uma mulher ....é uma virtude e um defeito que tenho .....me contentei com as raras vindas dela ao Rio... ou quando eu ia a Sampa... mesmo assim nunca na casa dela.... me tratava como um amante menino de uma senhora ....escondido....e tinha razão no que fazia.....o tempo provou.... ela sabia resguardar as filhas ....uma zelosa mãe judia comunistamulherindependente......
Quando voltou....mergulhou no trabalho....a vida nos afastava mas quando batíamos os olhos um no outro...acontecia....cada vez de forma mais terna mais doce...
Tentamos uma vez ... viver juntos... foram meses...uma espécie de incesto que me oprimia...virei o filhinho dela.... nunca fomos mal na cama.... mas fora dela minha mama judia dominava....ou...tentava....na hora em que eu procurava a mínima autoridade sobre as meninas... arrancava de mim qualquer razão....e ...brigas que pareciam que terminariam em violência...encerravam-se em desculpas e sexo....nunca fizemos tão bem com tanta sincronia, tão certa e apaixonadamente....nunca como aqueles dias , as vezes chorava dizendo desculpas enquanto nos amávamos.... devorávamos......
Sei bem que sai dali na hora certa....antes de ser expulso...Talvez...se eu tivesse sido homenzinho o suficiente e tomado as rédeas da situação, entrado de vez na vida delas....mas eu preferi usar o diploma recebido para outras clientelas....”A mensh trakht um Got lakht’...(AS PESSOAS LUTAM, DEUS GARGALHA- idish)
Continuamos amigos e confidentes....vez ou outra as coisa aconteciam....não podia ser impedido....acontecia.....nunca mais teve outro em sua casa....não por castidade....mas por opção materna....talvez por nos julgar todos, machos imaturos....
Depois de uma longa luta contra um salário infame ...foi dar aulas numa universidade americana....coisa meio militar...nos falamos umas três vezes pelo telefone...sempre com muita ternura...
Ano passado encontrei-a quando viajei a serviço ao Rio....almoçamos....passeamos na praia de mãos dadas....carinhos...alguns beijos....mas não aconteceu.....achei estranho assim como sua magreza e seus cabelos maltratados.....não sabia que já estava perdendo de vez aquela mulher...