Policarpo era um menino bom e manso.
Fazia as rezas da novena, acompanhava o terço com a devoção das velhas beatas, levava sempre que podia, um menino a professora,f requentava regularmente a missa domingueira, na procissão, vestia asas e derretia a parafina em lagrimas de fé por todo percurso.
Um dia seria professor, bancário, funcionário da força e luz, ou até mesmo, balconista das casas Pernambucanas.
Perseguindo o fito de vestir colarinho engomando e ter as mãos afinadas pela burocracia, fez escola de técnica de comércio e contabilidade, carregou crachá de contínuo na prefeitura onde aprendeu o caminho das pedras.
Habilidoso, dominou as licitações e as concorrências, construiu a mais vasta agenda de fornecedores, travou a mais perfeita intimidade com eles, comprou casa, apartamento, chácara e carros vários.
Uma tarde, cansado do labor diário na repartição, incomodado com o fato de ter que ir a tesouraria para assinar o contra-cheque de tão ínfimo vencimento, não sem antes garantir intimidade com seu sucessor, demitiu-se.
Montou construtora, distribuidora, arrumadora, editora provedora de modo geral.
Continuou a progredir, a comprar, a investir, a ampliar círculos, amizades e influências.
Um dia foi solicitado como colaborador de um ideal partidário.
Financiou campanha, regou as ideais com os recursos indispensáveis, com esses, construiu vitória e consolidou democracia. Foi assediado, conclamando, aplaudido, eleito e empossado.
Construiu pontes, prédios, rodovias, hospitais e praças publicas, ampliou fortuna e agigantou influência e ganância, conquistou solidão e desconfiança.
Numa noite qualquer virou nome de rua, de escola e de praça, virou registro na história e nome de fundação.
Na rua, na fachada da escola, na placa da praça ou no cabeçalho dos timbrados da fundação o nome Policarpo..., frio, impessoal, fórmico, sempre será lembrado, sempre será homenageado.
No entanto, aquele menino bom e manso, que ia a missa, rezava o terço e acompanhava a procissão, de atos, sonhos e pensares medíocres, ninguém haverá de se recordar.
Policarpo,Policarpo..., bom, manso, ardoroso na fé e esquecido, até por si.