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Contos-->UM LÍRIO AO PÉ DO PENHASCO -- 21/05/2002 - 16:29 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Próximo à Santa Paula há um enorme penhasco de acesso quase impossível. O lugar fica numa propriedade particular pertencente à uma família de São Paulo. Aqueles que tomam conta da fazenda não permitem que intrusos invadam a propriedade para explorar as belezas da cascata que cai a milhares de anos daquele penhasco.
Próximo dali, passa uma estrada ligando o distrito de Santa Paula ao distrito de Valadares. Muitas pessoas que passam por aquela estrada, não resistem a tentação de parar por algum tempo a contemplar a beleza daquele lugar. Muitos se interrogam sobre quem são os afortunados por terem em sua propriedade uma dádiva da natureza como aquele penhasco com tão bela cascata. E elas não exageram, porque o lugar é indescriti-velmente belo.
Não muito longe dali, mora uma jovem de 19 anos que passa aquela estrada duas vezes por dia. Ela vai a Santa Paula trabalhar e volta final da tarde. É uma professorinha encantadora. Adora a profissão que escolheu e por ser tão dedicada é venerada pelos poucos alunos. Não só pelos alunos como pela maioria dos rapazes de Santa Paula que sonham em arrancar pelo menos um beijo da jovem professora. É consenso no lugar que a jovem professora é a praça mais bela e o melhor partido da região.
Clara Regina, este é seu nome, é filha de um fazendeiro muito querido na re-dondeza. Sua fazenda fica a 5 km de Santa Paula, pouco depois do belo penhasco.
Apesar de passar quase todos os dias por aquela estrada, não se cansa de perder alguns minutos de seu tempo a ficar sentada na beira do barranco de frente para o pe-nhasco.
Certo dia ela avistou meio que escondido no pé do penhasco um ponto branco. Era um pontinho quase invisível, imperceptível para a maioria das pessoas. Para ela, porém que conhece os mínimos detalhes do lugar, aquele ponto não passou despercebi-do. Não conseguiu identificar o ponto, mas deduziu que fosse algum pedaço de papel ou alguma flor. Foi para casa com a dúvida na cabeça.
Deitada na cama ainda pensava naquele ponto branco avistado no penhasco. Lembrou-se do binóculo a muito tempo abandonado em algum canto por falta de utili-dade. Levantou-se e revirou as tranqueiras velhas despejadas no quartinho dos fundos, até encontrá-lo. Apesar de muito empoeirado, ainda continuava intacto.
No dia seguinte saiu alguns minutos mais cedo e pôde tirar sua dúvida. Era um belíssimo lírio branco. “Como pode uma flor assim tão linda nascer num lugar daquele. Só pode ser obra de Deus, misericordioso para fazer uma coisa dessas. Permitiu que uma flor tão nobre nasça ali tão solitária, longe do mundo, num lugar onde não possa ser perturbada. Vai ver que foi por isso que ela nasceu ali. Para que não fosse perturbada por ninguém. Isso só a torna mais especial ainda”. Pensou ela ao ir para o trabalho.
Durante o intervalo comentou o achado com os colegas de profissão. Enalteceu a beleza do lírio e não escondeu o quanto estava feliz com a descoberta. Era como se a descoberta fosse no jardim de sua casa.
Não tardou para que a notícia se espalhasse por toda Santa Paula. A professori-nha havia visto um lindo lírio no penhasco e estava encantada com a flor. Era o comen-tário geral.
Não tardou para que Roberto, um de seus admiradores ferrenho, tivesse a idéia de enfrentar os perigos e ir apanhar o lírio e dá-lo de presente à amada. No seu entendi-mento, o ato heróico de apanhar a flor que ela tanto admirava e dá-la de presente à pro-fessorinha, fosse conquistar sua simpatia e admiração. Achou que fazendo isso pudesse conquistar o amor tão cobiçado daquela jovem. E pôs o seu plano em prática.
Foi algumas vezes ao local da estrada onde dias atrás Clara Regina avistara a flor e estudou o terreno e os meios de chegar a flor. Depois de montar todo o plano e de preparar as ferramentas e equipamentos necessários para alcançar a flor, marcou para Domingo seguinte e incursão. Ainda era uma Quinta –feira e precisava arrumar uma desculpa para encontrar com a professorinha no Domingo a tarde. Voltou à Santa Paula e esperou que ela saísse do trabalho para convidá-la para um encontro. Sabia que difi-cilmente recusaria, uma vez que não tinha o costume de recusar convite de seus preten-dentes. Ainda mais sabendo que era um dos pretendentes que conseguiu mais atenção da jovem.
Quando Clara Regina saiu da escola e entrou na venda do Seu Manoel como fa-zia todos os dias para pegar as encomendas, ele aproximou-se sorridente:
— Oi Clara!
— Oi Roberto! Como vai? — perguntou ela aproximando-se do jovem e dando-lhe um discreto beijo em sua face.
— Vou indo — respondeu ele. — Quer me acompanhar na conversa?
— Não, obrigada! Não estou me sentindo muito bem hoje, deixa para outro dia.
Aproximou-se do balcão, pôs os livros sobre ele e perguntou ao vendedor:
— Seu Manoel as minhas compras estão prontas?
— Estão sim, senhorita clara!, deixa eu pegar pra senhora.
O homem abaixou e pôs uma sacola de mantimentos sobre o balcão. Depois res-pondeu:
— Estão tudo aí!
— Obrigado seu Manoel.
Pegou a sacola procurou a saída.
— Tchau Roberto! A gente se vê por aí.
Foi em direção a porta e Roberto a acompanhou.
— Posso vê-la Domingo a tarde? Tenho um presente especial para você. Tenho certeza absoluta que você vai adorar.
— O que é? — quis saber a jovem.
— Não posso dizer. Só na hora que você vai descobrir. Tenho certeza que você não vai descobrir nunca. — disse convictamente, diante dela.
Seus olhos brilhavam feito o sol de verão. Não havia como esconder seus senti-mentos por aquela jovem diante de si. A vontade que ele sentia era de tomá-la nos bra-ços e beijá-la ardentemente.
— Por que não me dá agora? — Insistiu ela.
— Por que ainda não está comigo.
— Então está bem. Você me pega em casa as 12:00 horas. Depois a gente sai para dar umas voltas, tá bom?
— Ok, então. Eu vou lá as 12:00 horas. Quer que te acompanhe? — ofereceu-se ele tentando ser gentil.
Ela não se opôs. Sentia-se feliz de ser tão cortejada. Além do mais, a companhia dele era muito melhor do que ir para casa sozinha.
Foram conversando até a porteira de entrada da fazenda. Depois de ficarem por mais alguns minutos parados diante da porteira, ela se despediu dele e cada um seguiu seu distrito.
Roberto acordou cedinho naquele domingo, vestiu calças compridas, calçou as botas de borracha, colocou o saco de ferramentas nas costas e partiu. Estava feliz e se-guro de que conquistaria definitivamente o coração da jovem professora. Ela não vai resistir a surpresa do presente, pensou ele se afastando do distrito.
As vezes não se pode prever a reação das pessoas diante de certos acontecimen-tos. Mas nunca se viu uma certeza assim tão convicta como a do jovem rapaz. Certeza essa que o impedia a arriscar sua própria vida para tentar obter tão somente uma flor para a pessoa amada.
E ele enfrentou muitos desafios. Foram três horas de debravamento, de escoria-ções nas pedras, nos espinhos das ervas daninhas. Por diversas vezes quase sofreu um acidente grave ao tentar atravessar falhas nas rochas. Mas finalmente alcançou os obje-tivos. Apanhou a flor com muito cuidado, arrancando a raiz com um pouco de terra. Em seguida, colocou-a numa sacola e partiu de volta.
Após tomar um longo banho e tratar das escoriações e dos arranhões, descansou cerca de uma hora. Descansou no sentido de ficar deitado na cama. Não seria capaz de tirar uma sesta agoniado pela espera. Seu coração comprimia e uma sensação de deses-pero tomava conta de si.
Partiu um pouco antes ao encontro da professora, com o trunfo na mão. Mistura-do a angústia brotava um sorriso de vitória. Sabia que havia vencido a disputa com os amigos pelo amor da jovem. Havia de obter o troféu pela sua inteligência, esperteza e coragem. Além de ter sido o único a pensar nessa forma de agradar a professora, tam-bém foi o único a arriscar a vida.
Muitos dos seus amigos não teria tido essa coragem e muito menos se arriscaria assim como ele. Ela haveria de reconhecer tudo isso e aceita-lo como namorado.
Quando se aproximou da mesma porteira que a havia deixado na sexta anterior, seu sangue fluía com rapidez; um calor intenso tomava conta de si e seu peito arqueava como se tivesse acabado de participar de uma maratona. Sua voz parecia presa quando gritou; batendo palmas;
— Ó de casa!
Ninguém respondeu. Gritou mais algumas vezes, até que Clara Regina apareceu no alpendre. Estava magnificamente bela. Era como se fosse uma Deusa do Olímpio. Não parecia um mortal comum aquele rapaz que vinha em sua direção. Parecia que a distância entre eles fosse maior do que aquela entre as os imortais e os mortais.
— Entre! — exclamou ela sorridente.
Ele se aproximou sem desviar os olhos hipnotizados dela.
Clara Regina usava um vestido azul claro, com um decote que tornavam seus seios maiores do que realmente eram.
— Oi, como vai? — falou. — Cadê a surpresa? — Quis saber.
— Está aqui. — disse entregando-lhe o lírio. — Eu apanhei ele no penhasco es-pecialmente para você. — disse por fim.
O brilho olhos dela desapareceram, seu sorriso se dissipou como serração ao nascer do sol, seu rosto se tornou sereno como se algo de ruim tivesse acontecido. Ele percebeu isso e ficou sem reação.
— Por que você teve coragem de fazer uma coisa dessas? Ir arrancar uma flor que não estava incomodando ninguém? Que nasceu justamente naquele lugar para não ser importunada. Será que você não percebeu que a beleza dela residia justamente no fato de ter nascido ali, naquele lugar onde menos se podia esperar. Você não sentiu pena de ir perturbar a paz de um lugar sagrado? Ah! Como eu te odeio, seu estúpido, desal-mado, sem coração. Suma da minha frente que eu não quero te ver nunca mais. — es-bravejou Clara Regina. Seus olhos inflamados deixavam cair uma lágrima dolorida. — Eu amava essa flor como se ela fosse jóia rara. Mas eu a amava por ter nascido naquele lugar e por eu ter descoberto ela primeiro. Eu me sentia uma pessoa especial e dona daquela flor, mesmo na propriedade dos outros. Por favor, vai embora e não me procure nunca mais – disse ela por fim. Ainda sentia-se magoada no fundo da alma, dos seus olhos, porém, não escorriam mais lágrimas.
Roberto foi incapaz de dizer uma única palavra, fora pego de surpresa com a re-ação dela que simplesmente virou as costas e saiu de cabeça baixa como se tivesse co-metido a maior estupidez do mundo.
Três dias depois Roberto abandonou o distrito sem dizer para onde ia. Levou consigo sua mágoa por ter sido tão insensível.
Clara Regina ainda continua ensinando atenciosamente os poucos alunos de San-ta Paula, mas já não perde mais seu terreno a contemplar a cascata do penhasco. Aquele lugar perdeu o seu encanto.
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