Chegou o grande dia.
O mais esperado de todo o mês: o dia de D. Maria fazer supermercado .E a essas alturas, já se sabe como está a fartura em sua casa, lá farta de tudo; do fósforo ao feijão.
E como fazer para levar tudo que precisa, com o dinheiro com o dinheiro que o marido deu?
Eis o grande problema.
Para começar, a filha pergunta:
_ Mamãe, dá para levar algum superfluo?
_ Su... o que menina?
_ Ah! Suco em pó? Dá sim, pode botar meia dúzia daquele de dez centavos.
_ Bem! O suco do mês já está garantido.
_ E o feijão? Se levo do novo, o dinheiro não dá, se levo do velho, o que não vai dá é o gás.
_ E o sabão? O mais barato, acaba com minhas mãos. E como vou comprar o creme hidratante?
Nesse dilema, vai ela, como uma malabarista de circo, fazendo o que pode, para levar o que precisa com o dinheiro que trouxe.
Lembrando que a meninada ficou em casa, é claro. Pois se viesse, o dinheiro do mês seria só para os biscoitos e as balas.
Finalmente, chega D. Maria em casa e o marido pergunta:
_ Cadê o trôco?
_ Que trôco?
_ O da branquinha! Ou você acha que dá para passar sem ela. Como vou ver a fartura de nossa dispensa? Como vou sentir o sabor de seu feijão sem tempero? E como agüentar o choro da criançada?
A mulher teve que concordar com ele, é claro.
E no mês seguinte, coitada, chega ela do supermercado, com 1kl de feijão, 1kl de arroz e seis garrafas de branquinha da boa.
_ Mulher, você endoidou de vez, foi?
_ Não home, calma, a comida é dos meninos, eu é que resolvi mudar de vida. Chega de ver tanta miséria!