- Oi, quem é você?
- Eu? Eu sou eu.
- Oras, que surpresa! Eu também sou eu.
- Então quer dizer que eu sou você?
- Creio que não. Eu sou eu, você é você.
- Diz isso por conveniência gramatical ou pela lógica da situação?
- Pelos duas coisas. A conveniência gramatical vem da lógica da situação.
- Entendi. Então, o que faz por aqui?
- Eu estou procurando alguém. Sabe, alguém como eu.
- Eu procuro algo parecido, mas eu não vejo ninguém por aqui, a não ser você, meu caro Eu.
- Pois é, terra deserta essa. Na verdade encontrei algumas pessoas, mas gente esquisita. Alguém com cujo nome é Alguém disse que havia vários alguéns por aqui, mas eus, pouquíssimos.
- Eu também encontrei alguém. Digo, era Qualquer. Disse que ficou feliz em me ver, afinal, ficaria feliz em ver qualquer pessoa. Também não sabia o que fazia por aqui, mas qualquer coisa que acontecesse estava de bom tamanho.
- Eu não entendo essas pessoas, você entende?
- Certamente não. Pensam de forma estranha. Conheci há alguns dias um Quisera. Passei horas ouvindo seus quereres, mas ao que me pareceu, ele não tinha nada, coitado. Não é a toa que queria tanto o Quisera.
- Coisa horrível. Sabe, também gostei de te conhecer. Você pensa como eu...
- Não! Eu não penso como você. Eu penso como Eu.
- Calma amigo, o que quis dizer é que você pensa como eu pois nossos pensamentos são semelhantes.
- Não são semelhantes. Eu penso como Eu, você pensa como você.
- Você está enganado.
- Eu não sou Você. Você é Você e eu sou Eu. E foi Você quem disse que era Eu, mas na hora não quis discutir.
- Eu não sou Você! Já disse. Sou Eu, e se você É Eu, somos Eus.
- Convença outro com essa! Pode haver vários alguéns, vários qualquers, vários quiseras, várias muitas coisas, mas apenas um Eu, que sou Eu.
- Mas Eu também sou Eu.
- Eu sou Eu, você é você, sendo seu Eu, e não o meu Eu. Portanto, procure o seu Eu que eu procuro o meu Eu. E passar bem!