Hoje decidi escrever. Ora, você pode pensar que esta não é das mais difíceis para mim. A questão toda é que: hoje, decidi escrever sobre mim. Muitos papéis e canetas, um cinzeiro e uma taça de vinho cheia ao lado. Estou pronto para escrever, mas não sobre mim. Talvez o melhor seja organizar as idéias, buscar conexões entre elas e investigar profundamente meus pensamentos. É, mas hoje não adianta. Com as vistas turvas e iluminação irrisória me esforço para numerar os tópicos sobre os quais gostaria de escrever. As lembranças da última noite agitada não me facilita a reflexão. Sei que nunca estive tão bem comigo mesmo. Nem a falta de um olhar espontâneo é capaz de alterar esta incerteza. Toda a minha vida eu acreditei que seria apenas preciso um olhar na minha direção. É, mas vida e direção que nunca foram minhas, também não caminharam juntas. Ah, mas este meu bem-estar é inquietante. Não consigo aceitar esta idéia. Talvez o melhor seja não mais escrever sobre mim. Talvez o melhor seja, simplesmente, não existir. Pelo menos, enquanto escrevo.