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Contos-->O áspero caminhar das aranhas coloridas -- 01/07/2002 - 22:21 (José Ronald Cavalcante Soares) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O áspero caminhar das aranhas coloridas




Falando de aracnídeos, Monsenhor Tonho tinha hábitos exóticos, gostava de admirar, horas a fio, o áspero caminhar das aranhas coloridas a tecer os fios de teias intermináveis.
Dizem, os mais íntimos, que ele conversava com as esguias criaturas, gesticulando algumas vezes e emitindo sons guturais ininteligíveis.
A beata Virinha, uma das primeiras vítimas do mau-humor de Monsenhor Tonho, observou, certa vez, que Monsenhor numa atitude que poderia leva-lo, quem sabe, até a excomunhão, surpreendeu o religioso a abençoar as peçonhentas criaturas.
No entanto, adotando posição diametralmente oposta, o missionário Imátur, na sua impenetrável postura de asceta, mostrou-se compreensivo e comentou: mesmo as aranhas são criaturas de Deus e merecem a atenção dos homens.
Abade Zaro, que a princípio não se abespinhava com os hábitos do Monsenhor Tonho e, na verdade, simpatizava com as silenciosas contemplações ao tecer interminável das aranhas, numa certa tarde, foi surpreendido com uma brusca interpelação do estranho religioso:
- O senhor sabia que eu sou o único filho de Deus desta área que consegue falar com as aranhas?
Esbugalhando os olhos, o abade retrucou:
- Em que ensinamentos e em que livros o senhor obteve tal graça?
- O senhor nem imagina, o senhor, nem de leve, pode imaginar... E saiu sem satisfazer a curiosidade do diretor do monastério.

O disse-que-disse, a partir de então, tomou conta da abadia. Zaro, homem de fé, porém muito zangado, sentiu-se desafiado em sua autoridade e, daquele dia em diante, passou a ser um tenaz oponente de Monsenhor Tonho.
Mas, o que pensavam os outros religiosos do grupo?
Madre Lara e Madre Burgos, embora com conceitos filosóficos diferentes, terminavam por dar razão ao Abade.
De igual modo, apesar de noviço, irmão Ferqüe gostava de emitir opinião sobre os acontecimentos, o problema é que suas falas eram interrompidas por solenes “cala a boca” dos mais antigos, sempre aferrados às tradições seculares que inibiam as manifestações dos neófitos que ainda não haviam prestado os compromissos de permanência.
O que é fato, o que conta realmente, é que a partir daquela insólita atitude do Monsenhor, aquele grupo nunca mais foi o mesmo.
Consta dos antigos alfarrábios que, num certa tarde modorrenta, talvez pela hora da cesta, quando todos, após lauta refeição, entregavam-se aos macios braços de Morfeu, quase simultaneamente, propagou-se um clamor em quase todas as celas:
- Aí! que horror ! Valei-me, Nossa Senhora! Que susto!
Abade Zaro, lívido, explicava ao Padre Roma:
- Espalharam aranhas coloridas nos leitos de todas as celas. Você precisava sentir a aspereza do seu caminhar sobre a pele das pessoas. Um contato asqueroso e repelente. Não há dúvida, isto é obra do Monsenhor Tonho. Ele terá que ser punido. Suspensão de ordem, excomunhão ou coisa semelhante. É um comportamento anômalo, desagregador.
Padre Roma, imediatamente, foi consultar o Direito Canônico, os livros sábios transcritos pelos antigos monges medievais, a fim de encontrar uma explicação lógica para os acontecimentos.
Reuniu-se, seguidas vezes com alguns leigos especialistas nos textos antigos, tentando, em vão, encontrar a explicação científica para aquela suposta atitude do Monsenhor.
Entrementes, trancado em sua cela, Monsenhor disparava mensagens agressivas contra quase todos os residentes do monastério e, curiosamente, em cada uma delas, aparecia o desenho de duas aranhas coloridas, justamente, aquelas que andavam sempre juntas nos devaneios do perturbado religioso.
Tal história, na realidade, nunca foi decifrada de modo conveniente e definitivo.
Escavações feitas por modernos arqueólogos nos muros e jardins do monastério revelaram a fossilização de inumeráveis aranhas, contudo, os especialistas em aracnídeos não sabem ainda se eram coloridas ou se eram peçonhentas. Tais fatos vieram a tona, tão somente, porque outros pesquisadores descobriram um texto inconcluso assinado por Padre Roma, revelando aos pósteros fatos pitorescos ocorridos na intimidade da vida daquele grupo de piedosos servos de Deus.
Se os curiosos leitores quiserem especular, concluir, tirar ilações da tal história, nada a opor, porém tenham certeza de que se nelas houver algum pecado, fica por conta da inteligência e da consciência de cada um.

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