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Contos-->Esquecido -- 04/07/2002 - 00:11 (Erick Cordeiro Bissoli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sabe, nunca fui do tipo de pessoa que esquenta a cabeça com besteiras, mas devo dizer que fiquei deveras chateado com o que me aconteceu. Talvez eu deva contar a história toda, antes de falar qualquer outra coisa, para que vocês possam entender.

Tudo começou alguns meses atrás quando eu esperava o ônibus para minha casa. Quieto, no meu canto, vi uma bela mulher se aproximar e me perguntar as horas. Uma bela mulher realmente. Lindíssima. Cabelos lisos. Longos e negros. Uma pele alva de fazer inveja à nuvem mais branca que vocês puderem encontrar. E os olhos! Ah! Olhos redondos, vivos e cativantes. Azuis. Mais parecendo safiras do que olhos.

Não era magra, e tampouco gorda, era um corpo forte e muito bem torneado. Isso pude notar pela sua roupa justa e colada ao corpo. Seus seios não eram pequenos, mas tinham a medida certa para que coubessem nas mãos de um homem. Uma cintura fina, contrastando com seu largo quadril.

Arregalei os olhos no momento em que respondi à sua pergunta. Claro, não soube disfarçar. E também, porque me preocupar, ela já deveria estar acostumada a isso. A ser devorada pelos olhos mais sedentos. E garanto a vocês, até um celibatário convicto mudaria de opinião por aquela mulher. E quanto a um abstinente... tenho minhas dúvidas se suportaria tamanha beleza.

Enfim, agora vocês sabem em que pé começou meu pequeno drama. Mas garanto, não teria maiores problemas se me mantivesse calado. Mas o meu eu conquistador falou mais alto. Perguntei para onde ela estava indo, e por coincidência morava no mesmo bairro onde moro. Ofereci minha companhia, e pasmem! Ela aceitou.

Fiquei atordoado no início, não imaginava aquela deusa cedendo ao meu galanteio. Digo que ela cedeu porque deixei claras as minhas intenções pelo meu tom de voz, pelo meu sorriso bobo de homem que tenta a atenção de uma mulher.

Nosso ônibus chegou e nele subimos. Demorou para que uma conversa se iniciasse. Mas não me perguntem sobre o que falamos, não saberia responder. Estava por demais abobado com tanta beleza. Somando-se a isso a minha total inexperiência com mulheres, fiquei sem saber o que dizer. Mas ela foi espetacular desde o início. Perguntou, comentou, e de todas as maneiras tentou não deixar o silêncio reinar entre nós.

Já me perguntava o que a levava fazer tudo isso. Afinal, não sou um homem com tantos atrativos. Na realidade, não tenho nenhum atrativo que pudesse chamar a atenção de uma mulher como ela. Imaginem-se, vocês homens, o que levaria uma mulher, melhor, uma deusa na terra, a querer conversar, conhecer vocês. Eu tentei, juro que tentei, mas não consegui encontrar nada.

Então, de homem atraído passei a homem desconfiado. Seria ela uma ladra? Não, não tinha perfil de roubar um pé-rapado. Seqüestradora, talvez? Mas como? Seqüestrar uma pessoa que anda de ônibus? Impossível. Traficante de órgãos? Sabe, aquelas pessoas que entorpecem para roubar rins, fígados, etc. Mas eu não tenho o porte atlético que tanto os interessam.

Já não sabia o que pensar, e nesse não saber, faltava-me atenção na conversa. E ela mostrou perceber perguntando-me o que havia de errado. Foi o que me chamou de volta ao mundo real. Disfarcei e perguntei o que ela fazia. Modelo. Foi essa sua resposta. E realmente, não era de espantar.

Pouco depois disse-me que seu ponto se aproximava. Fez-me o convite. “Desça comigo, vamos até minha casa”. Aceitei sem pestanejar. Afinal, não era sempre que aparecia uma mulher tão bonita em minha vida. Na realidade, nunca havia aparecido uma.

Foi ao descer que vi toda minha esperança morrer. Ela encontrou um homem que imaginei ser seu amigo. Cumprimentaram-se com ímpeto. Vendo, dir-se-ia serem amantes, tal era o ardor de seus abraços.

Começaram a andar e fui indo atrás, afinal, havia sido convidado. Mas a partir do encontro inesperado do rapaz fui completamente esquecido. Sequer recebia um olhar, tampouco um sorriso. Parei, talvez esperando ser notado. Nada, era pedir demais. E ali, estagnado, fiquei olhando aquelas duas figuras desaparecerem na esquina seguinte junto com meu sonhos e esperanças acerca daquela mulher.

04/07/2002
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